Flávio VM Costa

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Reportagem

TCU investiga contratos da gestão de João Campos com firmas de engenharia

O TCU (Tribunal de Contas da União) vai verificar se há irregularidades nos contratos firmados da prefeitura do Recife com empresas de engenharia para serviços de manutenção de unidades escolares e de saúde.

A informação foi divulgada pela coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, e confirmada pelo UOL.

No dia 29 de maio passado, o UOL revelou que o Tribunal de Contas de Pernambuco e o MPF (Ministério Público Federal) já investigam indícios de irregularidades em contratos milionários da gestão do prefeito João Campos (PSB), recém-empossado como presidente nacional do PSB.

As suspeitas pesam sobre o modelo usado para contratação, sem passar por uma licitação própria, a execução de serviços por empresa diferente da que foi contratada, a possibilidade de pagamentos duplicados e os critérios usados para reajustes.

O TCU abriu dois procedimentos que terão a relatoria do ministro Antonio Anastasia, ex-governador e ex-senador de Minas Gerais.

O órgão federal vai verificar também se recursos federais foram usados para pagamentos nos contratos. No momento, as apurações estão sob a incumbência de técnicos do TCU da Unidade de Auditoria Especializada em Contratações.

Sinarco, Alca e Max

As investigações oficiais miram a construtora mineira Sinarco, que não tem sede ou funcionários na capital pernambucana, e as empresas Alca Engenharia e Max Construções.

O dono da Alca Engenharia e da Max Construções é o empresário pernambucano Carlos Augusto Góes Muniz.

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Muniz é conhecido por promover festas de luxo no Recife e criar um bloco de Carnaval em Olinda, que homenageia a si mesmo.

Localizada na cidade de João Pinheiro, no norte de Minas Gerais, a 2.054 quilômetros do Recife, a Sinarco é de propriedade do empresário Cristiano Mendonça de Novaes, 49.

Desde 2022, a Sinarco já faturou R$ 119 milhões em contratos com várias secretarias da Prefeitura do Recife, de acordo com dados do TCE-PE.

Por sua vez, no mesmo período, a Alca Engenharia faturou R$ 33,9 milhões, e Max Construções, R$ 32,8 milhões, em contratos próprios.

Procurada pela coluna em maio, a prefeitura do Recife afirma que "as contratações com a Construtora Sinarco seguiram rigorosamente a legislação, com foco na legalidade, eficiência e economia."

De acordo com o TCE-PE, as auditorias "têm objetivo de aprofundar a análise dos indícios contidos nas representações do Ministério Público de Contas, e não têm prazo pré-determinado para serem concluídas".

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O órgão pediu a abertura de auditorias depois de analisar o conteúdo de denúncias anônimas e entender que há indícios de irregularidades que demandam uma investigação mais profunda.

Em paralelo, o Ministério Público Federal abriu um inquérito civil para apurar se João Campos cometeu improbidade administrativa no contrato firmado pela Secretaria de Saúde, financiado com recursos federais. A investigação corre em sigilo.

A Sinarco foi punida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais por atrasar a entrega da obra do fórum de Nova Lima
A Sinarco foi punida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais por atrasar a entrega da obra do fórum de Nova Lima Imagem: Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Contratos com as pastas de Educação e Saúde

Os maiores contratos da Sinarco com a gestão de João Campos são os firmados com as secretarias municipais de Educação e Saúde.

Com a pasta da Educação, a Sinarco e Sienergy, em consórcio em que a construtora é a sócia principal, assinaram dois contratos para serviços de manutenção preventiva e de correção em prédios de creches e escolas.

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O primeiro foi assinado em 29 de dezembro de 2021, com valor inicial de quase R$ 13,7 milhões. Uma sequência de aditivos elevou o contrato para cerca de R$ 20,4 milhões.

O segundo contrato foi assinado em 17 de outubro de 2022 e tinha valor inicial de R$ 15,8 milhões. Subiu posteriormente para cerca de R$ 19,8 milhões.

Já o contrato com a Secretaria de Saúde começou com um valor de R$ 29,7 milhões, com assinatura em 8 de maio de 2023, e os aditivos o elevaram para quase R$ 43 milhões, em janeiro de 2024.

Para realizar os serviços, a Sinarco firmou uma parceria com a Alca, por meio de uma SCP (Sociedade em Conta de Participação), um tipo de associação cujo objetivo é realizar um projeto conjunto sem que a sociedade tenha firma social ou personalidade jurídica.

Na divisão da sociedade, a Alca fica com 73%, e a Sinarco, 27%.

Em sua resposta ao UOL, a Sinarco afirmou que a legislação permite a subcontratação, desde que prevista no edital e dentro dos limites estabelecidos.

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"Foi com base nessa previsão que se firmou a parceria entre a Sinarco e a empresa Alca, em conformidade com os dispositivos legais aplicáveis."

Em sua resposta, a Alca disse que "firmou contrato com as mencionadas empresas, por já se encontrar estabelecida na região e possuir ampla expertise nos serviços de manutenção de prédios públicos, sem que isso constitua qualquer irregularidade ou burla ao procedimento licitatório."

Documentos da Sinarco que atestam a realização de serviços foram assinados por Góes Muniz e por um engenheiro que trabalha para a Max Construções.

Para Eliana Guerra, representante do Ministério Público de Contas, "a execução dos serviços permanece sob responsabilidade daquela empresa contratada e não da SCP."

Por essa razão, independentemente da parceria firmada, Muniz não poderia assinar boletins de medição da empresa de Novaes. Os boletins atestam quais serviços foram realizados para que o pagamento seja liberado.

"Há fortes indícios de atuação coordenada de empresas operadas por um mesmo indivíduo ou grupo de indivíduos a comprometer a competitividade em contratações de serviços de engenharia pelo Município do Recife", registra Guerra.

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Em sua primeira análise, a procuradora considerou que os boletins não estão em conformidade com a legislação.

As auditorias do Tribunal de Contas pernambucano também investigam suspeitas de duplicidade de pagamentos em serviços de manutenção realizados em creches e escolas e unidades de saúde, já que existem contratos com outras empresas para realização de serviços semelhantes.

As respostas completas dos citados na reportagem pode ser lida aqui.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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