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OMS se diz pronta a ajudar estados. Mas governo federal precisa solicitar

Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus - Foto:Michael Dantas/AFP
Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus Imagem: Foto:Michael Dantas/AFP

Colunista do UOL

06/05/2020 12h59

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A OMS declarou nesta quarta-feira que está pronta para trabalhar com os estados no Brasil. Mas, para isso, precisará haver um pedido do governo federal. O comentário foi feito por Michael Ryan, diretor de operações da OMS, numa coletiva de imprensa. Ao ser questionada pela coluna sobre a situação do surto em Manaus e na Amazônia, a entidade deixou claro que, no passado, já estabeleceu operações específicas com os governadores estaduais do país, inclusive sobre febre amarela.

"Sob o pedido do governo, com muita frequência no passado, trabalhamos no nível estadual. Fizemos isso com a febre amarela e em muitas ocasiões", disse Ryan. "Estamos dispostos a dar apoio técnico direto a qualquer estado, por meio de um pedido do governo para que isso ocorra", explicou. Momentos depois, ele indicou que a América do Sul é uma região que "preocupa" e citou a situação no Peru e Equador.

A OMS é uma agência internacional composta por países e, portanto, qualquer ação da entidade precisa passar pelo governo central.

Nas últimas semanas, o governo federal questionou a OMS, enquanto o presidente Jair Bolsonaro chegou a colocar em questão a competência de seu diretor, Tedros Ghebreyesus. Nos últimos dias, autoridades de Manaus tem feito apelos internacionais por ajuda.

Tedros também indicou que a agência continua disponível para trabalhar com o país. "Estamos trabalhando com o governo do Brasil e vamos continuar a dar qualquer apoio que eles precisem", disse.

Durante a coletiva, ele indicou que a pandemia de coronavírus apenas será controlada se governos e a comunidade internacional reconhecer que a desigualdade terá de ser tratada.

O chefe da agência ainda aponta que, num momento de afrouxamento das quarentenas em diferentes partes do mundo, a questão da Saúde precisa ser a prioridade. Caso contrário, uma transição pode representar a volta do surto com força, criando uma situação "dramática".

Segundo ele, o número de pessoas afetadas já chega a 3,5 milhões de casos e 250 mil mortes. Por dia, desde o começo de abril, são cerca de 80 mil casos por dia notificados à agência.

Ainda que haja uma queda no número de casos na Europa, os incidentes aumentam na África e nas Américas, além da Rússia.

Para Tedros, cada região precisa lidar com a crise de uma maneira adequada e não há um modelo para cada um deles.

Mas, para a OMS, a crise pode "ampliar as desigualdades existentes" e tal cenário tem sido refletivo em taxas de mortalidade maiores e hospitalização.

"Precisamos lidar com isso", alertou. Para ele, governos precisam dar prioridade no teste dessas pessoas. "Não apenas é a coisa certa ser feita. Mas também a coisa inteligente", disse.

"Não podemos acabar (com o surto) se não lidamos com desigualdade", disse.

Afrouxamento da quarentena

A OMS voltou a alertar que, no processo de relaxamento das quarentenas em diferentes partes do mundo, a questão da saúde precisa ser considerada como prioridade. O recado foi a uma série de grupos econômicos que, em diferentes países, têm pressionado por uma abertura mais rápida.

"A saúde precisa estar em primeiro lugar", disse Tedros. Ele repetiu os critérios que governos precisam adotar para pensar em um relaxamento da quarentena. Isso inclui forte monitoramento da doença, controle da transmissão, serviços de saúde fortalecidos e medidas de prevenção em escolas e trabalho.

"O risco da volta (do surto) é muito grande se a transição não for feita de maneira cuidadosa e com fases", disse.

Tedros ainda defendeu que serviços de saúde sejam reforçados, inclusive para que países possam lidar com ameaças diárias. Segundo ele, no atual ritmo, 5 bilhões de pessoas não terão acesso a serviços públicos de saúde adequados até 2030. Para Tedros, isso é um problema de segurança global.

Hoje, o mundo destina US$ 7,5 trilhões por ano para a saúde, cerca de 10% do PIB do planeta. Mas, na avaliação da OMS, reforçar a ideia de prevenção é mais barato.

"A pandemia vai eventualmente acabar. Mas não podemos voltar ao que era", disse. "Precisamos nos preparar para o próximo (surto) e criar sistemas fortes, o que foi ignorado por muito tempo", defendeu.

"A história nos vai julgar não apenas se superamos (a crise). Mas que lição aprendemos e o que fizemos quando terminou", completou.