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Xi pede união para produção de vacinas e critica "preconceito ideológico"

O presidente chinês, Xi Jinping, participa de econtro dos Brics no último dia 17 - Li Xueren/Xinhua
O presidente chinês, Xi Jinping, participa de econtro dos Brics no último dia 17 Imagem: Li Xueren/Xinhua

Colunista do UOL

25/01/2021 10h03

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Alertando que Pequim não aceitará "preconceito ideológico", o presidente de China, Xi Jinping, usou seu discurso de abertura no Fórum Econômico Mundial nesta segunda-feira para pedir que haja um acordo e entendimento entre governos para "incrementar a colaboração para fabricar e distribuir a vacina para que esteja acessível a todos os países".

Segundo ele, Pequim cooperou com mais de 150 países e 13 organismos internacionais, além de mandar equipes médicas para 35 países. "A China seguirá dando assistência aos países menos preparados para a pandemia", disse.

Para o presidente, a vacina precisa ser um bem público e o governo chinês indicou que vai trabalhar para garantir que países mais pobres possam receber doses. O fórum, que tradicionalmente ocorre em Davos, está sendo realizado por meio virtual neste ano.

A declaração ocorre num momento em que a China é criticada por sua falta de abertura e transparência no início da crise sanitária e por não estar atendendo de forma suficiente à demanda por vacinas.

Questionada pelo governos de Jair Bolsonaro e atacada pelo chanceler Ernesto Araújo, a China ainda adotou um tom firme ao pedir que o mundo "abandone o preconceito ideológico" e a "mentalidade da Guerra Fria".

"A diferença por si só não é motivo de preocupação. O que gera uma preocupação é a arrogância, preconceito e ódio", declarou.

Brasil está sem interlocutor oficial com o governo chinês

Para o presidente, cada país tem seu modelo e sua história, e ninguém tem o direito de tentar impor um sistema.

O recado vem após o Itamaraty adotar, durante a pandemia, tom de críticas contra o comunismo chinês, alertando para o "comunavírus" e insistindo em criticar Pequim nos fóruns internacionais.

A situação levou o governo a se ver sem um interlocutor com o governo chinês, o que gera uma crise de abastecimento de vacinas no Brasil.

Choque de economias mundiais

No discurso de hoje, Xi Jinping indicou que seu governo está disposto a promover maior acesso à sua economia e ciência. Mas também deixou claro que seu governo não aceitará que economias pelo mundo usem a pandemia como uma oportunidade para rever cadeias de abastecimento, regras de abertura comercial ou mesmo a globalização.

"Não serve ao interesse de ninguém usar a pandemia como justificativa para reverter a globalização", alertou Xi.

Para ele, a pandemia está "longe de terminar" e uma resposta global deve ser baseada em ciência e "humanismo". "Conter o vírus é a maior missão da comunidade internacional", defendeu. Xi acredita que esse será o aspecto mais importante para que a economia mundial possa se recuperar.

Conselheiro de Biden critica falta de transparência

Menos de uma hora depois, a postura da China foi alvo de duros ataques por parte de Anthony Fauci, conselheiro médico do governo dos Estados Unidos (EUA). Para ele, que participou de um outro evento em Davos, a falta de transparência em Pequim teve "um impacto negativo substancial". "E isso vemos há tempos", declarou.

De acordo com ele, se houvesse uma transparência por parte da China, algumas informações poderiam ter evitado milhões de contaminações. "Isso teria influenciado a política", disse. "Metade das transmissões é realizada por pessoas que não têm sintomas", insistiu Fauci.

O alerta de Xi também tem a Casa Branca como alvo. Pequim não quer Joe Biden interferindo em assuntos que os chineses consideram como domésticos, como a situação de Hong Kong.

EUA de Biden já atuam no comércio mundial

Xi defendeu uma nova era nas relações internacionais. "O modelo de o vencedor levar tudo não funciona", disse. "Nenhum problema global pode ser resolvido por um país sozinho. Devemos ter uma ação global, uma resposta global e cooperação global", defendeu.

O recado vem no momento em que o governo de Joe Biden acena com um projeto para incentivar licitações nos EUA a dar maior privilégio a empresas americanas. O programa "Buy American" já é alvo de duras críticas por parte de alguns dos principais parceiros comerciais dos EUA e que esperavam um desembarque de Biden mais favorável ao comércio internacional.

Na OMC (Organização Mundial do Comércio) nesta segunda-feira, por exemplo, a Casa Branca manteve o veto ao restabelecimento dos tribunais da entidade, uma política adotada pelo governo de Donald Trump.