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Mourão critica falta de verbas internacionais e diz negociar Fundo Amazônia

Bruno Batista/VPR
Imagem: Bruno Batista/VPR

Colunista do UOL

27/01/2021 10h38

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Resumo da notícia

  • Vice diz que, diante do cenário econômico pós-pandemia, governos não terão superávits disponíveis para investir na Amazônia

O vice-presidente Hamilton Mourão criticou nesta quarta-feira o fato de que a comunidade internacional, apesar da pressão, não estar ampliando financiamento para operações na Amazônia para lidar com o desmatamento e proteger a biodiversidade. Segundo ele, depois da pandemia, governos não terão recursos para destinar para a região e o setor privado terá de ampliar sua participação. "

Sua declaração ocorreu durante o Fórum Econômico Mundial, em um debate organizado para lidar com "financiamento para a transição da Amazônia para um futuro sustentável" e que Mourão defendeu que fosse "aberto".

"Apesar de o interesse internacional no status da Amazônia ter aumentado de forma importante, o mesmo não pode ser dito da cooperação financeira e técnica internacional", disse o vice-presidente. "Ficou abaixo as necessidades atuais", alertou.

De acordo com ele, o governo brasileiro, depois de romper com Noruega e Alemanha, agora voltou a renegociar o Fundo Amazônico, estabelecido em 2008 para financiar a preservação da floresta.

Nos primeiros meses do governo Bolsonaro em 2019, Oslo e Berlim foram surpreendidas com a decisão do ministro Ricardo Salles de romper com o mecanismo que garantia US$ 1 bilhão para a região. O critério, porém, era baseado na capacidade de o país de reduzir o desmatamento.

Chamando agora o mecanismo de "inovativo" e elogiando seu papel "importante para implementar projetos cruciais", Mourão indicou que governo está em negociação com esses dois países para retomar a distribuição de recursos. Outras iniciativas também foram citadas, como ações com o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Socorro do setor privado

Mourão ainda insistiu sobre a necessidade de atrair investidores privados para a região, como forma de garantir um "futuro sustentável". Mas ele admitiu que existe um obstáculo: a falta de um ambiente favorável para esses investimentos diante da falta de uma estrutura básica.

"É importante que o setor privado assuma a liderança no financiamento de pesquisa e programas científicos na região", disse.

"Vamos ser honestos: governos são os principais responsáveis por garantir a proteção ambiental", afirmou. "Mas, principalmente num cenário econômico pós-pandemia, governos não terão superávits disponíveis para esse tipo de ação", alertou.

Davos sem Bolsonaro

Sua intervenção ocorre um dia depois que ele disse, em entrevista exclusiva à CNN, sentir falta de ter diálogo mais frequente com o presidente Jair Bolsonaro. "Não há conversas seguidas entre nós. As conversas são bem esporádicas", afirmou o general. Indagado se sente falta de mais diálogo, respondeu: "Faz falta, sim. Faz falta até para eu entender em determinados momentos o que eu preciso fazer".

Davos havia convidado Bolsonaro para seu evento anual, que ocorre neste ano de forma virtual. Mas o presidente brasileiro não atendeu ao pedido e, em seu lugar, designou Mourão. O vice-presidente falou em um debate que também contou com o vice-presidente da Colômbia, Ivan Duque, Maria Alexandra Moreira López, secretária-geral da Organização do Tratado para a Cooperação Amazônica, e Mauricio Claver-Carone, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Do lado brasileiro, o debate também contou com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, o CEO da Vale, Eduardo de Salles Bartolomeo, e o CEO do Itaú Unibanco, Candido Botelho Bracher.

Apesar de seu país ser apenas 6% da bacia amazônia, Ivan Duque assumiu em Davos uma espécie de liderança sobre o tema nos últimos anos. Em seu discurso, ele alertou que as maiores ameaças estão relacionadas com o desmatamento por conta da mineração ilegal, cultivos ilegais e pecuária ilegal. "Todos temos de enfrentar essas ameaças", defendeu.

Brasil tem série de episódios internacionais que pressionam sobre meio ambiente

Em 2019, na única participação de Bolsonaro em Davos, o presidente foi flagrado em uma conversa com o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore. Ao ser questionado pelo americano sobre a questão do desmatamento na Amazônia, Bolsonaro afirmou que estava interessado em "explorar" o local, junto com o governo americano. Confuso diante da resposta, Gore admitiu que não entendeu o que aquilo significava. O vídeo viralizou.

O governo brasileiro vem sendo alvo de uma forte pressão internacional também nos meios diplomáticos e econômicos por conta da situação do desmatamento que, em 2020, atingiu patamares elevados. Na Europa, parlamentos nacionais e regionais têm aprovado moções para impedir que o bloco feche um acordo comercial com o Mercosul.

Às vésperas da participação de Mourão em Davos, ex-ministros brasileiros se uniram para enviar uma carta aos governos europeus pedindo ajuda no que se refere ao desmatamento. No fim de semana, caciques brasileiros submeteram ao Tribunal Penal Internacional uma queixa contra Bolsonaro, por conta da situação dos indígenas e do desmatamento.

Nesta semana, a Comissão Europeia voltou a anunciar que vai estabelecer leis que impedirão empresas de importar commodities ou insumos se não provarem que os produtos são sustentáveis.

Já o presidente Emmanuel Macron, da França, deixou claro que seu governo não ratificaria o tratado com o Mercosul nas atuais condições do desmatamento no Brasil e iniciou uma política para reduzir a compra da soja brasileira. O Itamaraty considera que Paris usa a agenda ambiental para camuflar uma política protecionista.