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Jamil Chade

REPORTAGEM

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OMS rejeita proposta de criação de passaportes para quem estiver vacinado

Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Gebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra -
Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Gebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra

Colunista do UOL

19/04/2021 11h50

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A OMS rejeita a proposta de governos europeus e de outros países de criar uma exigência de vacinação para permitir que uma pessoa possa viajar. A entidade alerta que tal medida poderia aprofundar a desigualdade entre países diante da falta de doses pelo mundo.

A rejeição foi publicado pelo Comitê de Emergência da OMS que, nesta segunda-feira, emitiu suas novas recomendações para governos em todo o mundo. Para a entidade, decisões sobre restrições de viagens devem ser tomadas com base na ciência e permitir viagens essenciais e repatriação e facilitar a circulação de mercadorias para evitar atrasos no acesso à ajuda e suprimentos essenciais.

Uma das recomendações, porém, é a de "não exigir prova de vacinação como condição de entrada, dada a limitada (embora crescente) evidência sobre o desempenho das vacinas na redução da transmissão e a persistente iniquidade na distribuição global de vacinas".

"Os estados são fortemente encorajados a reconhecer o potencial das exigências de prova de vacinação como fator que irá aprofundar as desigualdades e afetar a liberdade de circulação", disse.

A UE e outros países indicaram que poderão estabelecer um registro de vacinação que permita que pessoas possam cruzar fronteiras de forma livre e ter acesso a serviços. Em Israel, o passaporte já é uma realidade e dá acesso a academias de ginástica e outros locais.

A proposta, porém, causa preocupação na OMS. "Pessoas querem voltar a viajar, por necessidade ou negócios. Mas temos de olhar do ponto de vista cientifico e de igualdade", disse Soumya Swaminathan, cientista chefe da agência.

Ela alertou que, do ponto de vista da ciência, não há garantias de que uma pessoa vacinada não irá transmitir a doença. "Algumas vacinas mostram que podem evitar a disseminação da doença em 70% ou 80%. Mas não dá para garantir que a pessoa não vá ser risco para outros", disse. Além disso, não existem critérios sobre os níveis de anticorpos presentes numa pessoa.

Mas a maior preocupação se refere à desigualdade que pode ser aprofundada no mundo, se tal medida for adotada. "Alguns países vacinaram 30% de sua população, enquanto muitos não conseguiram chegar sequer a 1%", disse.

"Tal passaporte não pode ser aplicado globalmente neste momento. Não é possível", afirmou.

Ela admite que se governos estão falando de apenas um registro para manter o controle de quem foi vacinado, isso seria positivo. "Mas isso é algo diferente de criar algo que representa uma obrigação para que alguém possa viajar", alertou.