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Jamil Chade

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Opinião: Ao mentir sobre agressão em Roma, Bolsonaro autoriza a violência

Colunista do UOL

08/11/2021 19h19Atualizada em 08/11/2021 20h08

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Jair Bolsonaro mentiu ao dizer que não houve agressão contra os jornalistas em Roma. Mais que uma peça de ficção para sua base mais radical, seus comentários minimizando o ocorrido autorizam a violência.

Numa entrevista nesta segunda-feira (8), ele qualificou os fatos de "atrito". E insistiu que não houve agressão. Para completar, o presidente ainda busca uma justificativa: "Porque eles começaram a me agredir, falando coisas absurdas".

O absurdo, aparentemente, é uma simples pergunta. Leonardo Monteiro, da TV Globo, questionou o motivo pelo qual Bolsonaro não apareceu nos dois primeiros compromissos que ele teria no G20, naquela manhã. Recebeu, em troca, uma resposta atravessada do presidente, que não esclareceu sua ausência.

policial, jornalistas, roma - Reprodução - Reprodução
Policial que agrediu jornalistas em Roma
Imagem: Reprodução

Instantes depois, eu perguntei o motivo pelo qual ele não iria para a COP26, para onde foram 130 chefes de estado e de governo. Sua resposta: "Não te devo satisfação, rapaz".

Nas redes bolsonaristas, versões fantasiosas sobre o ocorrido nas ruas de Roma começaram a circular horas depois das agressões. Todas elas invertendo os fatos, apesar de terem sido amplamente filmados. Funcionários do governo também assumiram a tarefa de colocar dúvidas sobre as imagens, em postagens nas redes sociais, mesmo não estando no local. A Secretaria de Comunicações da presidência, que acompanhava o presidente no momento das agressões, em nenhum momento agiu.

Tão grave quanto a agressão é a tentativa, agora, de dizer que ela não existiu. Ao assumir essa postura, o presidente e seus aliados chancelam a violência e dão carta-branca a novos ataques. O que está sob ameaça não é um indivíduo. Mas a liberdade de imprensa e a democracia.Espero

estar enganado. Mas o que ocorreu numa tarde de domingo em Roma pode ser simplesmente um prelúdio para a violência que será adotada como parte legítima da política em 2022, um ano decisivo para a democracia no Brasil.