Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O ano que definirá nossa geração
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Farofa no chão, sangue na mão.
Morros que desabam. Cretinas crateras, imundas de descaso.
Bússola moral aterrada por uma obra de desmonte do estado de direito. Um projeto sem alvará.
Consequência de uma pandemia, muitos morrem de vírus.
Resultado de decisões deliberadas, privilégios inegociáveis e disputa por território, milhares morrem de desprezo.
Chora a mãe de um refugiado que sonhou em fugir da morte e desembarcou numa ficção de democracia. Racista, injusta e cruel.
Choram milhares de mães brasileiras de exilados. Aqueles que, abandonados pelo estado e como num pesadelo sem fim, são rejeitados como cidadãos em seu próprio país. Sonham em fugir para uma condição humana.
Hipotecamos vidas no Brasil, e a dívida descontrolada recai sobre as mesmas vítimas da história. O chicote arde na pele daqueles que apenas querem seus salários miseráveis. Chicotes empunhados por senhores que têm o estado ao seu lado e a impunidade como santuário.
Pelo mundo, à medida que um ano tenso começa, aquele ritmo que marcava nossa falsa imagem de país acolhedor é sufocado pelos berros das manchetes que - em línguas estrangeiras - escancaram o legado de uma história marcada pelo estupro da terra, a negação de dignidade e o acúmulo nas mãos de poucos.
A República foi profanada e entramos provavelmente no ano mais importante de nossa jovem democracia. Em 2022, tudo e todos serão testados.
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