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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Governo omite crise social, fome e pobreza, e faz discurso ufanista na OIT

Imagem fome SP - Reinaldo Canato/UOL
Imagem fome SP Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Colunista do UOL

06/06/2022 07h12

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O governo de Jair Bolsonaro usa a tribuna da OIT (Organização Internacional do Trabalho) para fazer um discurso ufanista da recuperação da economia nacional e do emprego.

O ministro do Trabalho, José Carlos Oliveira, participa nesta semana da Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra. Segundo ele, os programas brasileiros estão até mesmo sendo "replicados" pelo mundo.

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicou que a taxa de desemprego no Brasil é de 10,5% no trimestre encerrado em abril. Ainda que o índice seja o menor desde 2016, o desemprego ainda atinge 11,3 milhões de brasileiros. Outra constatação é de que a renda dos trabalhadores continua sendo 7% abaixo dos níveis de 2021 e que a fome voltou.

Hoje, 17,5 milhões de famílias brasileiras viviam com renda per capita mensal de até R$ 105, o que considera como extrema pobreza. O número é mais de 11% superior aos dados de 2021 e 22% a mais que em março de 2020. Quase 5 milhões de pessoas passaram a fazer parte do Cadastro Único, do governo federal, que compila os registros dessas pessoas.

Mas, em seu discurso em Genebra, o governo adotou uma postura diferente. Segundo o ministro, "a necessidade de conciliar a manutenção de emprego e renda com políticas emergenciais de saúde pública nos conduziu a programas bem-sucedidos e replicados no mundo, como o Auxílio Emergencial".

"Não sei onde está localizado esse 'Brasil' relatado pelo ministro. Certamente não é o mesmo de onde venho, e onde milhões de trabalhadores estão desempregados com no trabalho informal, um país que voltou ao mapa da fome", retrucou Antonio Lisboa, membro da representação dos trabalhadores na OIT e secretário de Relações Internacionais da CUT.

De acordo com o ministro, o programa assegurou renda imediata a mais de 68 milhões de cidadãos em situação de vulnerabilidade, "quando comércios e outros ambientes de trabalho tiveram de ser temporariamente fechados". "Liberamos, igualmente, renda extra para que os trabalhadores pudessem sacar imediatamente o equivalente a US$ 200 de seu Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Em poucos meses após o início da pandemia, uma população equivalente à da França foi amparada no Brasil", disse.

O ministro ainda indicou como medidas de alívio aos empregadores foram adotadas. "O governo do Presidente Jair Bolsonaro estabeleceu o maior programa de preservação de emprego emergencial no mundo, o BEM, que assegurou recursos adicionais para preservar 11 milhões de trabalhadores no mercado formal", justificou.

Ele ainda destacou como o Brasil esteve entre os 10 países que mais investiram nesta recuperação, com cerca de US$ 200 bilhões. "Por isso agora começamos a colher bons frutos", disse.

"Por conta disso, somos o país com a maior queda de desemprego, entre os países do G20, nos últimos 12 meses. Com pouco mais de 10% de taxa de desemprego, este é o melhor índice do País nos últimos 6 anos. São mais de 96 milhões de indivíduos ocupados no mercado de trabalho, um recorde histórico. Só no ano passado foram formalizados 2,7 milhões, maior patamar em mais de 10 anos. Não paramos aí, pois até abril de 2022, acrescentamos outros 800 mil postos formais de trabalho", afirmou.