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Jamil Chade

REPORTAGEM

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China tem três delegacias "clandestinas" no Brasil, denunciam ativistas

Colunista do UOL

05/12/2022 06h54

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Um levantamento realizado pela entidade Safeguard Defenders revela que as autoridades chinesas mantêm três delegacias supostamente clandestinas em solo brasileiro. A acusação feita pelo grupo de ativistas é de que tais centros sirvam para monitorar e intimidar chineses no exterior, além de obrigar dissidentes em determinados casos a embarcar de volta ao país.

Estima-se que mais de 40 milhões de chineses vivem fora de seu país de origem e, nos últimos anos, Pequim passou a estar cada vez mais interessada nas atividades desses grupos no exterior.

O estudo agora mostra que existem mais de 100 delegacias de polícia mantidas pela China, em 53 países. O documento está sendo publicado nesta segunda-feira e foi primeiro revelado pelo jornal The Guardian. O governo chinês explicou ao diário britânico que tais locais servem apenas para prestar serviços aos chineses no exterior, incluindo procedimentos burocráticos como renovação de passaporte ou carteira de motorista.

Mas, para a Safeguard Defenders, tais centros são usados para "assediar, ameaçar, intimidar e forçar" chineses a retornar ao país para serem processados. Em setembro, quando uma parcela desses casos foi revelada em países como Holanda, Canadá e Alemanha, autoridades ocidentais abriram investigações.

No caso brasileiro, autoridades de Fuzhou teriam um local em São Paulo, enquanto Qingtian manteria uma operação no Rio de Janeiro. Segundo os ativistas, as autoridades de Wenzhou também estão presentes no Brasil, mas o escritório até o momento não foi identificado.

Na América Latina, Peru, Colômbia, Panamá, Equador, Cuba, Chile e Argentina também contariam com delegacias clandestinas. O levantamento revelou que tais escritórios ainda existem em Los Angeles e Nova York.

Segundo o novo informe, um segmento importante dessas delegacias clandestinas estaria na Itália. Um desses centros em Milão foi usado como uma espécie de campo de testes para como Pequim faria o monitoramento de sua população no exterior, assim como o acompanhamento de dissidentes.

O documento publicado nesta segunda-feira ainda identificou um total de onze delegacias pela Itália, além de centros na Croácia, Sérvia e Romênia.

Os ativistas ainda apontam como "operações de persuasão" foram realizadas a partir de delegacias em Paris, além do retorno de 80 pessoas que estavam no exterior. De acordo com o grupo, alguns desses centros foram estabelecidos na África e na Ásia com o "consentimento" dos governos locais.

Para os ativistas, há ainda a suspeita de que os acordos de cooperação entre determinados países e a China estejam sendo abusados, justamente para que tais escritórios possam servir não apenas como centros de serviços, mas também como a função de monitoramento da população chinesa pelo mundo.