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Lula diz a Macron que Brasil quer fazer parte de esforço de paz na Ucrânia
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou ao presidente da França, Emmanuel Macron, que o Brasil não fará parte das operações de guerra contra a Rússia, mas que está disposto a se engajar de forma ativa na busca pela paz. O recado foi dado na conversa mantida entre os dois líderes, na quinta-feira.
O telefonema de mais de uma hora tratou de vários temas da agenda bilateral. Mas também serviu para que o francês iniciasse uma aproximação ao Brasil nos assuntos relacionados com a Ucrânia. Segundo relatos do Palácio do Planalto, não houve uma pressão indevida por parte de Macron, que ainda está construindo uma nova relação com o Brasil e quer restabelecer a confiança bilateral, depois de quatro anos de tensão com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mas, entre os europeus, não se esconde que o apoio irrestrito à democracia brasileira depois dos ataques de 8 de janeiro por bolsonaristas seria instrumentalizado para ganhar a simpatia de Lula em temas de interesse dos centros do poder do Velho Continente.
Ainda assim, ficou claro pela conversa que Lula não vai adotar uma postura nos temas internacionais apenas para agradar aos novos aliados.
Esses foram alguns dos recados do brasileiro ao presidente da França:
- O Brasil reconhece que a Rússia de Vladimir Putin violou o território ucraniano e isso é ilegal;
- Mas Lula apontou que o comportamento da Otan nos últimos anos não contribuiu para garantir uma relação de confiança com o Kremlin.
- Lula sinalizou que o Brasil defende que negociações sejam estabelecidas com a Rússia para que se possa caminhar para um cessar-fogo;
- O presidente insistiu que o Brasil irá ajudar na criação da paz, mas não nas operações de guerra.
Dias antes da conversa com Macron, Lula já havia informado aos comandos militares brasileiros que não iria apoiar a ideia de fornecer munições para tanques ou qualquer outro veiculo que fosse destinado aos ucranianos para a guerra. O pedido havia sido feito pela Alemanha.
Nesta segunda-feira, a situação da Ucrânia deve voltar ao centro dos debates quando Lula receber Olaf Scholz, o chanceler alemão. Berlim, contrariando todas as expectativas, aprovou o envio de tanques para a Ucrânia.
Mas diplomatas alemães confirmaram ao UOL que sabem que a posição brasileira não indica uma adesão do país à aliança contra a Rússia.
No Conselho de Segurança da ONU, o Brasil tem optado por se abster em todas as votações sobre a guerra na Ucrânia, ainda que tenha votado na Assembleia Geral a favor de uma resolução condenando a invasão.
O ex-presidente Jair Bolsonaro já havia adotado uma postura de neutralidade na guerra. Mas sua decisão de visitar Putin, dias antes do conflito começar, seus elogios ao russo e sua relação com o Kremlin deixaram as capitais ocidentais irritadas e preocupadas com o comportamento brasileiro.
A esperança é de que, com Lula, essa postura não signifique um apoio velado ao presidente russo.
Armas de destruição em massa
Em 2003, em seu primeiro governo, Lula usou um discurso parecido ao se negar a entrar na guerra contra Saddam Hussein. Naquele momento em que o então presidente George W. Bush argumentava que o iraquiano mantinha "armas de destruição em massa", Lula afirmou na ONU que a "arma de destruição em massa era a fome".
Em 2013, durante Congresso do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automotiva dos Estados Unidos, Lula relatou uma conversa que teve com Bush: "Dia 10 de dezembro de 2002 eu estava eleito presidente da República e o presidente Bush me convidou para vir aos Estados Unidos. Ele tava com a obsessão de invadir o Iraque. Ele falou: 'Eu gostaria que o Brasil tivesse conosco nessa empreitada'. E eu disse: 'Presidente, o meu inimigo não é o Iraque, meu inimigo é a fome do povo brasileiro'".
Naquele momento, porém, Lula contava com o apoio de uma parte da Europa que tampouco queria entrar em guerra. Hoje, a aliança entre europeus e americanos se mostra sólida contra a Rússia.
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