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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Lula negocia com China novo satélite; aparelho pode monitorar Amazônia

Xi Jinping é reeleito líder da China por mais 5 anos - Noel CELIS / AFP
Xi Jinping é reeleito líder da China por mais 5 anos Imagem: Noel CELIS / AFP

Colunista do UOL

15/03/2023 04h00

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O governo brasileiro negocia com a China a construção de um novo satélite que pode servir até mesmo para monitorar o desmatamento na Amazônia e observação climática. Pelo acordo, não haveria uso militar para os novos satélites binacionais.

Lula vai a China, e satélite será debatido. Fontes do Palácio do Planalto e do Itamaraty confirmaram que o tema estará na agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que visitará Pequim e Xangai entre dias 28 e 30 de março. A viagem ainda contará com diversos membros do governo, entre eles a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.

Um dos objetivos dos chineses é o de demonstrar ao novo governo brasileiro que uma aproximação aos interesses de Pequim trará vantagens ao país, ainda que a pressão do governo de Joe Biden é para que Lula mantenha um posicionamento de aliança com as democracias ocidentais. Dentro do Palácio do Planalto, porém, a ausência de grandes anúncios por parte da Casa Branca durante a viagem de Lula para Washington, em fevereiro, reforçou a tese de que uma relação com Pequim pode ser uma aposta importante para os próximos quatro anos.

O entendimento entre brasileiros e chineses é de que a nova geração de aparelhos não teria funções militares.

Mas a principal novidade é que o satélite contará com radares, algo que não existia nos projetos anteriores.

A aposta no novo satélite do Programa de Satélites de Recursos Terrestres (CBERS) com a China também marca uma retomada da cooperação com Pequim, depois de quatro anos de uma relação contaminada por ataques por parte da ala mais radical do bolsonarismo contra os chineses.

Num documento preparado pela equipe de transição, a ideia de voltar a cooperar com Pequim na produção de satélites já estava destacada como uma das prioridades. Entre as sugestões ao novo governo, a equipe formada por diplomatas, ex-ministros e especialistas defendia:

"Avaliar a possibilidade de retomar a cooperação espacial com a China".

O mesmo documento, a equipe de transição destaca como, nos últimos quatro anos, decisões em relação à política externa com a China foram tomadas com critérios ideológicos.

A China ainda foi alvo de desentendimentos entre os próprios ministros de Bolsonaro. Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde em 2019 e 2020, revelou que cada uma de suas tentativas de se aproximar dos diplomatas de Pequim no início da pandemia eram minadas pelo então chanceler Ernesto Araújo.

O chefe da diplomacia de Bolsonaro ainda foi alvo de um processo após ter afirmado que o então ministro das Comunicações, Fabio Faria, teria entregue o 5G para a China.

Nova etapa

Criado em 1988, o CBERS estabeleceu a produção de satélites de observação da Terra. O primeiro deles foi lançado em 1999. 20 anos depois, em 2019, um quarto satélite foi colocado em órbita.

Mas o percurso foi marcado ainda por uma desconfiança do governo americano em relação à aproximação entre brasileiros e chineses. Menos de dez anos depois do primeiro satélite, empresas brasileiras que atuavam na construção dos aparelhos tiveram problemas para importar dos EUA peças e componentes que eram considerados estratégicos.

Do lado brasileiro, o compromisso é de que a parceria não tenha qualquer componente militar na utilização dos satélites. Mas os americanos alegam que Pequim não faz essa distinção entre projetos civis e militares. Já há 15 anos, o temor da Casa Branca era de que os chineses poderiam disputar a hegemonia americana no espaço, a partir dos lançamentos de satélites.

Em um recente levantamento publicado em 2022, o astrofísico Jonathan McDowell, da Universidade de Harvard e do Smithsonian Center for Astrophysics in Cambridge, indicou que os americanos realizaram 78 lançamento de satélites no ano passado. Desses, 72 tiveram êxito. Os russos lançaram 21 operações, contra 64 por parte da China.

Mas, no que se refere aos satélites para fins militares, o informe destaca que Pequim colocou em órbita 45 aparelhos no ano passado, contra 30 dos EUA e apenas 15 da Rússia.