Trump fará 'pressão máxima' sobre Maduro e cobrará apoio de Lula
O governo de Donald Trump, que começa no dia 20 de janeiro, vai aplicar o que seus assessores chamam de "pressão máxima" sobre a Venezuela. Conselheiros do partido republicano que conversaram com o UOL explicaram que o regime de Nicolás Maduro estará no centro das atenções da política externa de Trump para a América Latina e que a meta será a construção de uma coalizão regional contra Caracas.
Documentos elaborados por republicanos ainda deixam claro que a meta de uma nova política externa de Trump passa por garantir que o abastecimento de petróleo não dependa mais de regiões distantes do mundo. Mas principalmente de fontes do hemisfério.
Na avaliação dos republicanos, a estratégia adotada por Joe Biden com a Venezuela não funcionou. A Casa Branca, nos bastidores, negociou durante um ano com o governo Maduro e com a oposição. O resultado foi o acordo de Barbados, em outubro de 2023, e que estipulou a realização de eleições livres e, de forma simultânea, a retirada de parte das mais de 900 sanções impostas pelos EUA contra Maduro.
Para conselheiros de Trump, Biden foi "trapaceado" por Maduro e haveria pouco espaço, a partir de agora, para retomar a ideia de Barbados.
Na administração de Joe Biden, seus representantes apontaram que a estratégia que o governo Trump usou entre 2016 e 2020 na Venezuela não apenas fracassou como gerou a pior onda de refugiados e migração na história recente da América Latina.
O novo governo americano não descartará uma negociação. Mas insiste que isso será acompanhado por uma pressão e pela construção de uma coalizão regional. Já a ideia de um conflito armado com participação dos EUA não seria a prioridade. Trump venceu a eleição prometendo não se envolver em guerras.
Lula será cobrado
O Brasil, segundo eles, será cobrado a tomar uma atitude mais clara em relação ao governo de Maduro, ainda que a decisão de não reconhecer o resultado da eleição de julho em Caracas esteja sendo vista como um ponto "positivo" para o início de um diálogo.
O UOL apurou que, em setembro, a missão enviada pelo governo brasileiro para dialogar com republicanos constatou que o tom de que um eventual posicionamento de Trump sobre a Venezuela viria marcado por "forte pressão".
Venezuela se aproximou dos "inimigos dos EUA" e é "ameaça"
Parte da estratégia dos republicanos para a Venezuela consta de um documento preparado por Kiron Skinner e que faz parte do Projeto 2025, um pacote de medidas desenhadas por 140 ex-conselheiros de Trump e que serviriam de uma espécie de guia para o próximo governo.
Durante a campanha eleitoral, o então candidato republicano afirmou desconhecer o documento. Mas, dias depois da vitória, o estrategista Steve Bannon declarou que o Projeto 2025 deveria ser a base do novo governo Trump.
No capítulo sobre política externa, a incumbência de apresentar a proposta coube a Skinner. No primeiro governo Trump, ela foi alçada ao posto de diretora de Planejamento de Políticas no Departamento de Estado norte-americano, um cargo considerado como estratégico.
Sua avaliação e proposta sobre a Venezuela vai na direção que os conselheiros republicanos relataram ao UOL. Segundo ela, "a liderança comunista (da Venezuela) se aproximou de alguns dos maiores inimigos internacionais dos Estados Unidos, incluindo a China e o Irã, que há muito tempo buscam uma posição nas Américas".
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberO documento, portanto, sugere que, "para conter o comunismo venezuelano e ajudar os parceiros internacionais, o próximo governo (americano) deve tomar medidas importantes para alertar os abusadores comunistas da Venezuela e, ao mesmo tempo, fazer progressos para ajudar o povo venezuelano".
"O próximo governo deve trabalhar para unir o hemisfério contra essa ameaça significativa, mas subestimada, no Hemisfério Sul", diz o documento.
Em outro trecho, o projeto destaca como "os Estados Unidos têm interesse em um Hemisfério Ocidental relativamente unido e economicamente próspero".
"No entanto, a região agora tem um número esmagador de regimes socialistas ou progressistas, que estão em desacordo com as políticas orientadas para a liberdade e o crescimento dos EUA e de outros vizinhos e que representam cada vez mais ameaças à segurança do hemisfério", alerta.
Petróleo cobiçado e segurança hemisférica
O projeto destaca que "é necessária uma nova abordagem que, ao mesmo tempo, permita que os EUA se reposicionem de acordo com seus interesses e ajude os parceiros regionais a entrar em um novo século de crescimento e oportunidades".
Uma das apostas é o setor de energia. De acordo com a base do programa ultraconservador, uma das metas da nova política externa de Trump seria reduzir a dependência do petróleo de locais distantes e concentrar esforços para o abastecimento de energia a partir da região.
"Os Estados Unidos devem trabalhar com o México, o Canadá e outros países para desenvolver uma política energética focada no hemisfério que reduza a dependência de fontes distantes e manipuláveis de combustíveis fósseis, restaure o livre fluxo de energia entre os maiores produtores do hemisfério e trabalhe em conjunto para aumentar a produção de energia, inclusive para as nações que buscam uma expansão econômica significativa", afirma o documento.
De acordo com o projeto, ainda que as nações do Hemisfério Ocidental tenham "laços culturais e históricos mais fortes com os Estados Unidos do que a maioria dos outros países e regiões do mundo", a região está "entrando rapidamente na esfera de atores estatais externos antiamericanos, incluindo a China, o Irã e a Rússia.
"Países específicos das Américas, como Venezuela, Colômbia, Guiana e Equador, são ameaças crescentes à segurança regional em seus próprios direitos ou são vulneráveis a potências extracontinentais hostis", disse.
"Os Estados Unidos têm a oportunidade de liderar esses vizinhos democráticos na luta contra a pressão externa de ameaças vindas do exterior e de lidar com as preocupações locais de segurança regional. Essa liderança e colaboração devem abranger todas as ferramentas à disposição dos aliados e parceiros dos EUA, inclusive a cooperação com foco na segurança", completa.
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