Jamil Chade

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Trump articula novo chefe da OEA linha-dura contra esquerdas

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, quer usar a OEA (Organização dos Estados Americanos) como instrumento de pressão na região e, para isso, costura o apoio a uma nova direção que possa implementar sua visão ultraconservadora. A eleição ocorre em 2025 e deve ser um dos primeiros testes da diplomacia do republicano na região.

Se a OEA é vista com desconfiança por uma ala importante na América Latina e não é a peça-chave para a estratégia brasileira de integração regional, a visão da Casa Branca é a de instrumentalizar a entidade com sede em Washington para atender a seus interesses no Hemisfério. 60% do orçamento da OEA vem da contribuição americana, e assessores de Trump explicaram ao UOL que querem garantir que esses recursos cumpram a missão de fortalecer sua posição na região.

Um sinal disso ocorreu há dez dias quando deputados republicanos enviaram uma carta à Comissão Interamericana de Direitos Humanos — um órgão autônomo, mas ligado à OEA — com ameaças de que haveria um corte de recursos dos EUA caso a Comissão não atuasse contra o Brasil e as decisões do STF contra Elon Musk, um membro do futuro governo Trump.

Nos últimos dias, o presidente eleito suspendeu por alguns instantes a nomeação de seu gabinete e recebeu em sua residência em Mar a Lago (Flórida) o chanceler do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano. Oficialmente, o encontro ocorreu para que ambos pudessem dialogar sobre a situação política na América Latina e contextos específicos como Cuba, Nicaragua e Venezuela. Mas, a viagem teve outro objetivo: fortalecer a campanha do paraguaio para ser o sucessor de Luis Almagro no comando da OEA.

Diplomatas e observadores da região consideraram que a acolhida de Trump ao paraguaio representa um sinal da força da candidatura do sul-americano.

A viagem ocorreu dias depois de uma conversa por telefone entre o presidente do Paraguai, Santiago Peña, com Trump. O argentino Javier Milei já havia estado na Flórida com o presidente eleito e, agora, foi o paraguaio quem manteve conversas sobre "o fortalecimento das relações e o desenvolvimento econômico".

Ramírez Lezcano ainda esteve com o bilionário Elon Musk, personagem que vem ganhando espaço até mesmo na composição da política externa de Trump. Além de participar de reuniões com Volodymyr Zelensky, o dono da plataforma X ainda teve encontros com o embaixador do Irã e outros interlocutores estrangeiros. No encontro, o chanceler ofereceu o Paraguai como local para investimentos de Musk.

Após a eleição de julho na Venezuela, o Paraguai se distanciou da postura adotada por Brasil, Colômbia e México, que buscavam uma mediação, sem reconhecer necessariamente a suposta vitória de Nicolás Maduro.

Numa reunião na OEA no final daquele mês, o Paraguai se aproximou da posição dos EUA e indicou que a fraude era uma realidade.

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"Existem sinais claros de que a vontade expressa pelo povo venezuelano nas urnas não se reflete nos resultados publicados pelas autoridades eleitorais na Venezuela", disse o chanceler.

Ao longo dos últimos meses, o candidato tem se aproximado ao voto americano em outros temas, além de adotar um discurso similar ao posicionamento da Casa Branca. Isso inclui críticas à ofensiva da China na região, a proteção dos interesses de Taiwan, alertas sobre o Irã e até mesmo sobre a imigração irregular.

O posicionamento do paraguaio agrada Marco Rubio, o futuro chefe da diplomacia de Trump, neto de cubanos exilados e que, ao longo dos anos, vem adotando um tom duro contra as ditaduras latino-americanas.

O candidato ainda se encontrou com Carlos Trujillo, um dos nomes chave da equipe de transição de Trump e ex-embaixador americano na OEA. Para ambos, o organismo internacional deve ter um papel maior, inclusive para barrar a influência de China, Rússia ou Irã na região.

Durante o mandato como embaixador na OEA, Trujillo foi acusado de disseminar desinformação sobre a situação na Bolívia, no momento do golpe de estado contra Evo Morales, em 2019.

Naquele momento, o governo Trump articulou uma declaração conjunta com Jair Bolsonaro para denunciar "anomalias durante a eleição presidencial da Bolívia".

Na OEA, os governos Trump e Bolsonaro ainda tiveram o apoio de Argentina e Colômbia para alertar que "o povo boliviano tem o direito de escolher seus líderes por meio de eleições livres e justas".

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Naquele momento, Trump e Bolsonaro estiveram entre os primeiros governos a reconhecer as autoridades que derrubaram Morales. Hoje, elas estão presas por golpe de estado.

No entanto, a Casa Branca ainda não se comprometeu com nenhum dos nomes que circula pelo cargo an OEA. Em Washington, outra opção que começa a ganhar força é a de Ivan Duque, ex-presidente da Colômbia e que, em seu mandato, manteve uma estreita colaboração com Trump na pressão contra Nicolás Maduro, na Venezuela.

Outro nome examinado é o de Ivonne Baki, embaixadora do Equador e amiga de Trump por mais de 20 anos. Em 2000, por exemplo, o então empresário americano fez uma doação substancial para um projeto de conservação da equatoriana.

Em 2004, graças à relação entre Trump e Ivonne Baki, o concurso de Miss Universo foi realizado em Quito. Naquele momento, o empresário americano era o dono do evento.

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