Jamil Chade

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Reportagem

Resistência a Trump se organiza e imigrantes montam plano contra deportação

Não deixe as crianças abrirem a porta, memorize números de telefone de parentes e amigos e organize com quem deixar os filhos caso seja preso.

A chegada de um novo governo de Donald Trump está levando imigrantes nos EUA a se prepararem para o que o presidente eleito prometeu ser o "maior programa de deportação em massa da história".

Em igrejas, centros comunitários e mesmo nos fundos de lojas, grupos vêm se reunindo para se organizar. Enquanto isso, entidades de direitos humanos também distribuem informação sobre como cada um deve reagir diante de uma eventual operação de expulsão.

Se, em 2017, pouco se sabia o que o republicano era capaz de fazer, desta vez sua volta ao poder será confrontada por uma resistência por parte de governos municipais, estaduais, ativistas e mesmo cortes em todo o país.

No National Immigration Justice Center, por exemplo, o trabalho é fazer estrangeiros conhecerem seus direitos. "Uma das ferramentas que o governo Trump pode usar é a expansão do programa de "remoção acelerada", combinada com batidas em bairros e locais de trabalho", explicou a entidade.

Usando a remoção acelerada, um oficial de imigração pode deportar rapidamente indivíduos sem o devido processo legal se o governo estabelecer que eles entraram nos Estados Unidos sem documentos de imigração ou se estão no país há menos de dois anos. As pessoas deportadas sob remoção acelerada podem ser detidas e deportadas sem comparecer perante um juiz de imigração.

Por isso, a entidade sugere que cada família crie um plano. Isso inclui medidas como:

Identificar quem são seus contatos de emergência e memorizar seus números de telefone;

Fornecer à escola ou à creche do seu filho um contato de emergência para buscá-lo;

Fornecer autorização por escrito para que seu contato de emergência tome decisões médicas e legais para seu filho;

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Manter suas informações de identidade e informações financeiras em um local seguro;

Nunca assinar um formulário em branco, e pedir cópias de tudo que assinar.

Crianças avisadas

Entre os imigrantes, o sentimento é de angústia. "Não sabemos o que vai ser de nossas vidas", afirmou António, um mexicano que trabalha como pizzaiolo em Nova York. "Todos nós nos perguntamos onde estaremos nos próximos meses", admitiu.

Para outros estrangeiros, porém, saber seus direitos e como reagir pode ser a diferença entre ficar e ser deportado. Ainda assim, a senegalesa Fatou conta que reuniu há uns dias seus três filhos para explicar o que poderia ocorrer com a família. "Foi uma conversa difícil, mas eles precisavam entender os riscos que corremos", disse a mulher que atua na limpeza de prédios em Nova York.

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Em Chicago, é o escritório Minsky, McCormick and Hallagan que vem orientando os estrangeiros. Entre as diferentes recomendações, os advogados sugerem que os imigrantes "obedeçam às leis de trânsito".

"Tanto os imigrantes documentados quanto os indocumentados correm o risco de sofrer ações de imigração em resposta a violações das leis de trânsito e criminais", disseram. Por isso, a orientação é para que o estrangeiro solicite uma carteira de motorista. Alguns estados, como o de Illinois, permitem que imigrantes sem documentos solicitem uma carteira de motorista de visitante temporário. "Ter uma carteira de habilitação evita uma fiscalização adicional no caso de uma parada de trânsito", dizem.

Outra sugestão é para que os estrangeiros obtenham suas fichas criminais, justamente para provar sua condição.

Prefeituras montam barricadas contra Trump

As operações não se limitam à sociedade civil. Pelos EUA, prefeituras e governos estaduais têm iniciado programas de proteção aos imigrantes.

Em Nova York, com quase 700 mil imigrantes sem documentos, o governo criou uma força-tarefa que terá a função de avaliar cada uma das eventuais decisões tomadas por Trump. O que o estado alega é que essa população contribui com mais de US$ 3 bilhões em impostos para os cofres estaduais e locais. Cerca de 70% deles são trabalhadores essenciais. Além disso, quase metade das pequenas empresas é administrada por imigrantes na cidade de Nova York.

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As cidades de São Francisco e Chicago aumentaram o financiamento de programas de assistência jurídica e sessões de informação para que os estrangeiros saibam quais são seus direitos.

Los Angeles foi além e adotou leis que proíbem que os recursos da cidade sejam usados para apoiar os esforços federais de deportação.

Em Boston, a prefeita Michelle Wu, filha de imigrantes, garantiu que sua administração não irá cooperar com os agentes federais de imigração. "Não estamos cooperando com esses esforços que realmente ameaçam a segurança de todos, causando medo generalizado e tendo impacto econômico em larga escala", afirmou.

Já o prefeito de Denver, Mike Johnston, causou uma polêmica ao insinuar que usaria os policiais municipais para evitar que agentes federais de imigração entrassem em sua cidade para realizar deportações em massa.

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