Comitê da Câmara dos EUA controlado por Trump critica veto a Bolsonaro

O Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados nos EUA, controlado por aliados de Donald Trump, criticou a decisão das autoridades brasileiras de vetar a ida de Jair Bolsonaro para a posse do republicano.
Nas redes sociais, o comitê afirmou que "Jair Bolsonaro é um amigo dos EUA e um patriota". "Ele deveria ser autorizado a estar na posse do presidente Trump", disse. O comitê é presidido pelo deputado republicano da Flórida, Brian Mast, um aliado do presidente eleito.
No Brasil, o Supremo Tribunal Federal decidiu não entregar o passaporte de Bolsonaro, por considerar que existe um risco de fuga do suspeito.
Fontes no governo brasileiro acreditam que os bolsonaristas vão tentar instrumentalizar a decisão do Supremo para fortalecer a ofensiva de desinformação de que o Brasil estaria supostamente vivendo sob uma ditadura.
Nos últimos meses, alguns dos principais aliados do ex-presidente indiciado por golpe de Estado vêm costurando essa narrativa e que uma perseguição estaria ocorrendo contra o movimento de extrema direita. Para isso, usam peças de desinformação e sinalizam que irão desafiar a Justiça.
A aposta declarada e nos bastidores é de que a chegada ao poder de Donald Trump, nos EUA, possa colocar pressão no Brasil e evitar um desfecho negativo para o ex-presidente e seus aliados mais próximos, depois da divulgação do relatório da PF apontando como Bolsonaro teria atuado na trama golpista no Brasil.
Já diplomatas no Itamaraty apontam que, nesta semana, a sabatina de cinco horas no Senado americano do futuro chefe da diplomacia de Trump, Marco Rubio, o Brasil não foi sequer citado.
Mas, nas redes sociais, em encontros com movimentos políticos no exterior e em documentos entregues às organizações internacionais, parlamentares bolsonaristas insistem em comparar a situação do ex-presidente à repressão contra líderes da oposição na Venezuela, como Maria Corina Machado.
De forma orquestrada, bolsonaristas traçam paralelos entre o Brasil e a situação na Venezuela ou na Nicarágua.
Outra estratégia identificada por diplomatas é a tentativa de apresentar a suposta "ditadura" como algo que começa a afetar os interesses dos americanos no Brasil.
Numa carta de 14 de novembro de 2024 para a presidência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, quatro deputados republicanos alertam que a suspensão da plataforma X pelo STF afeta "milhões de brasileiros, assim como cidadãos americanos que moram ou fazem negócios no Brasil, e empresas americanas".
Entre os autores da carta estão os deputados Maria Elvira Salazar e Carlos Gimenez, parlamentares da Flórida conhecidos por sua retórica dura contra as esquerdas latino-americanas.
"A vitória de Trump é uma grande derrota para as ditaduras conquistas em Cuba, Venezuela e Nicarágua. Os inimigos da liberdade não tem lugar em nosso hemisfério", disse Gimenez.
Foi ainda Salazar que sugeriu uma lei que estabeleceria a suspensão de visto para qualquer autoridade que ameace a liberdade de expressão de americanos.
Mas foram os termos usados na carta que geraram um alerta da parte do governo brasileiro sobre o risco de que a narrativa possa ganhar contornos que justificariam uma ação por parte da Casa Branca.
'Nos resta o Congresso dos EUA'
Dias depois, e já com o indiciamento do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro foi às redes sociais "denunciar" o STF e deixar explícita sua intenção de atuação. "Nos resta o Congresso dos EUA --e agora o Executivo americano", escreveu.
A aposta é de que haja um convencimento cada vez maior entre alguns dos principais aliados de Donald Trump na Câmara de Deputados e no Senado, poderes que estarão nas mãos dos republicanos a partir de 2025.
Ainda em 2024, uma comitiva de parlamentares brasileiros esteve em Washington para encontros com alguns desses deputados americanos. Agora, o indiciamento e o veto à viagem são instrumentalizados para justificar que, de fato, há uma perseguição.
Até mesmo ex-chanceler Ernesto Araújo, que hoje atua por uma fundação dos herdeiros político do franquismo na Espanha, também sinalizou sua esperança de que o resgate venha do novo presidente americano. "Os manés viraram o jogo após a vitória de Trump? Quem perdeu agora?", escreveu o ex-ministro, numa referência à frase do ministro do STF, Luis Roberto Barroso, a um bolsonarista: "Perdeu, mané".
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