'Não acredito que estou aqui de novo': milhares voltam às ruas contra Trump

As festas organizadas para a posse de Donald Trump, a partir deste fim de semana, estão sendo acompanhadas por centenas de atos de repúdio ao presidente eleito, numa tentativa por parte de ativistas de direitos humanos, imigrantes, grupos feministas e dos movimentos negro e LGBT de mandar um alerta de que não aceitarão que seus direitos sejam desmontados.
Os atos ocorreram neste sábado (18), nas principais cidades dos EUA, inclusive em Washington DC.
Em Nova York, o UOL acompanhou um dos protestos, que reuniu milhares de pessoas que enfrentaram o frio para tomar as ruas da cidade. Caminhando lado a lado estavam imigrantes e gays. Mas, acima de tudo, um amplo contingente de mulheres.
Um dos principais objetivos dos grupos para os próximos meses é o de desmontar a tese de que Trump venceu por uma ampla margem de votos. "Iremos às ruas e vamos protestar por quatro anos", prometeu um dos organizadores da passeata, chamada de "Marcha do Povo".
Na conta final, Kamala Harris ficou com 75 milhões de votos, contra 77,3 milhões para o republicano. Em 2008, Barack Obama obteve 69,4 milhões de votos, contra 59,9 milhões para John McCain.
A diferença —que preocupa os ativistas— é que os republicanos conseguiram controlar o Senado, a Câmara de Deputados e contam com uma maioria conservadora na Suprema Corte.

O protesto, de forma simbólica, começou diante da corte que condenou Trump, há poucos dias. Antes de percorrer as ruas, discursos de lideranças locais insistiam sobre a necessidade de manter a mobilização.
Entre os organizadores, não faltavam reconhecimentos de que a derrota para Trump havia criado uma "depressão" em muitos ativistas, principalmente diante da constatação de que 52% das mulheres brancas votaram pelo republicano em 2024. "Vamos precisar recolocar energia nessas pessoas", indicou Sandra Allen, uma professora de escola pública de Nova York.
Grande parte da passeata ainda foi composta por movimentos feministas na defesa dos direitos reprodutivos e sexuais, enquanto ativistas alertavam que o novo governo já começava a ter um impacto negativo sobre as clínicas que fazem aborto legalmente.
Mas o movimento optou por se aliar a outros grupos sob ataque. Diego, neto de imigrantes da República Dominicana e de Cuba, tomou o microfone para fazer um discurso inflamado. "Meus avós saíram de seus países fugindo de ditadores. Eu não aceitarei que os EUA se transformem numa ditadura", insistiu.
Ximena Bustamante, uma mexicana que organiza clínicas para ajudar imigrantes, alertava que o "medo" já dominava muitas famílias. Para ela, os próximos meses serão difíceis e a comunidade local terá de agir para evitar o desmonte de direitos. "Os riscos são reais", insistiu.

Um filho de imigrantes do Equador alertava que eram os estrangeiros quem poderiam, se quisessem, "fechar Nova York" e tantas outras cidades pelos EUA. "Quem vai fazer o trabalho que nós desempenhamos?", questionou.
Na passeata, cartazes contra "oligarcas" se confundiam com ataques ao fascismo e defesa da democracia. "Desobedeça, resista", dizia um. Escovas para limpar vasos sanitários viraram réplicas do cabelo e rosto de Trump.
Uma senhora carregando um dos cartazes era o reflexo de um clima de desespero que se abate. "Não acredito que estou aqui de novo protestando contra essa merda".
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