Jamil Chade

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Reportagem

Trump anuncia fim de programas de diversidade e luta contra 'invasão'

Em seu último discurso antes da posse nesta segunda-feira, o presidente eleito Donald Trump antecipou medidas que irá tomar no seu primeiro dia no governo e prometeu "agir com velocidade e força". Ele afirmou hoje (19) a uma multidão de 20 mil pessoas em uma arena de Washington que seu governo vai acabar com a "invasão" de estrangeiros, além de erradicar a "esquerda" do governo e dos militares. Ele ainda antecipou a decisão de encerrar com programas de diversidade nas agências federais, nas forças armadas e governo.

"Voltaremos aos critérios de mérito", declarou Trump, ovacionado por apoiadores. O anúncio acontece semanas depois de gigantes como a Meta e McDonald's terem anunciado o fim de programas de promoção da diversidade em seus quadros.

O evento "Comício da Vitória" —marcado por uma apologia ao patriotismo e à bíblia— é uma quebra de protocolo. Mas foi uma exigência de Trump, que insistiu em fazer um último evento num fim de semana que ainda contou com festas e até fogos de artifício.

Em seu discurso e sem provas, Trump foi o Trump de sempre. Ele repetiu em quatro momentos a desinformação de que as eleições de 2020 foram "roubadas" e defendeu a posse de armas.

"Vamos recuperar nosso país. Amanhã, as cortinas se fecham para o declínio e começamos com prosperidade e força", disse. "De uma vez por todas, vamos acabar com o reinado de um establishment político fracassado e corrupto em Washington", afirmou. "Vamos acabar com a invasão de nossas fronteiras, tirar ouro líquido de nosso solo e trazer de volta ordem para nossas cidades, restabelecer o patriotismo nas escolas, acabar com as ideologias da esquerda radical para fora de nossos militares e do nosso governo", afirmou.

Nesta segunda, ele assume mais uma vez a Casa Branca, quatro anos depois de perder a eleição. Mas antecipou algumas de suas medidas, prometeu o desmonte de "decretos radicais" do governo de Joe Biden e insistindo ainda que irá evitar a Terceira Guerra Mundial, além acabar com a guerra na Ucrânia.

Fechar fronteiras

Durante o comício, ele antecipou que irá anunciar, ainda na segunda-feira, dezenas de decretos para fechar as fronteiras e expulsar estrangeiros. "Amanhã, quando o sol se por, a invasão vai acabar", insistiu. "Autorizamos milhões de pessoas a entrar, sem controle. Muitos são assassinos", acusou.

Sem provas, Trump alegou que governos sul-americanos e outros abriram suas prisões para deixar que criminosos façam a viagem para os EUA. "Estamos expulsando eles do país", disse, prometendo medidas "agressivas".

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"O crime em todo o mundo caiu. Sabe por quê? Porque eles trouxeram seus criminosos para os Estados Unidos. Olhe para a Venezuela. Eles vêm do Congo. A única coisa boa nele é que eles fazem nossos criminosos parecerem pessoas realmente legais. Essas pessoas são pessoas ruins, de todo o mundo, não só da América do Sul, de todo o mundo. Elas vêm de instituições mentais e de prisões", insistiu.

"Vamos recuperar soberania sobre nosso território e retirar as gangues selvagens", disse, numa referência ao crime organizado venezuelano.

O comício, que era para celebrar sua vitória, foi marcado pela insistência de Trump em atacar os imigrantes. "Eles tinham uma política de fronteiras abertas. Todos entraram", disse Trump, citando prisioneiros e doentes mentais.

Antes do discurso de Trump, Steven Miller, o principal conselheiro de Trump, confirmou no palco do comício que uma das primeiras ordens executivas será para fechar as fronteiras e expulsar imigrantes que estejam de forma irregular nos EUA. As medidas também visam a "erradicar os cartéis estrangeiros".

Ataque ao conceito de gênero e fim de programas de diversidade

Trump também deixou claro que vai anunciar, na segunda-feira, medidas para acabar com planos de diversidade nas agências federais.

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Em outro trecho do discurso, ele destacou como jovens estariam se aproximando do movimento conservador. "Dizem que os jovens são liberais. Mas eles não são mais, Muita gente está ao nosso lado", afirmou. "A insanidade trans estará fora das escolas", prometeu.

Miller ainda deu o tom do que pode ser o governo americano em relação aos temas de gênero. "Existem homens e mulheres. Não cabe a você decidir. Essa é uma decisão de Deus e não pode mudar", declarou.

Ele insistiu que a posse representava o fim de quatro anos de "pobreza, incompetência, perseguição, de fronteiras abertas". "Mas, amanhã, tudo isso vai acabar", insistiu. Miller chamou a posse de o começo da "era de ouro dos EUA".

O comício ainda contou com a apresentadora Megyn Kelly que, no palco, elogiou o fim de programas de diversidade no McDonald's e Facebook. "O momento contra os programas de diversidade foi construído, tijolo por tijolo", destacou.

Latinos com Trump

Num evento ensaiado e repleto de simbolismo, o comício colocou no palco dois cantores de Porto Rico. O gesto tentou abafar o fato de que, num comício em outubro, a equipe de Trump convidou um humorista que chamou Porto Rico de lixo.

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Anuel AA, cantor de Porto Rico, insistiu que Trump era "o presidente que irá nos proteger". O músico Justin Quiles, também de Porto Rico, justificou que a comunidade hispânica estava ao lado de Trump.

Patriotismo e fé em volume máximo

O comício repetiu o programa que marcou os encontros de Trump, com uma apologia ao patriotismo e orações para a proteção do presidente eleito. "Oramos pela unidade desse país", afirmou uma das mulheres que iniciou o comício, depois de meses de ataques e ódio promovidos pelos aliados de Trump. "Os EUA vão novamente prosperar", completou a oração.

"Oro para que haja um período de pureza nessa nação", afirmou a outra pessoa que liderava as preces, no palco montado para Trump.

Antes de Trump subir ao palco, não faltou a apresentação do cantor Kid Rock que, em entrevista, revelou que o presidente o consultou sobre temas de política externa.

Sua apresentação foi intercalada por mensagens políticas, letras de ataques a Joe Biden e apelos por uma "luta pela liberdade" e pelo "amor".

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Não faltavam ainda o uso de mensagem de Trump, mixadas nas canções: "Eu sou sua voz", insistiam os alto-falantes, martelando a narrativa do republicano de que ele representará os interesses das classes dos menos favorecidos. Enquanto isso, seu gabinete é formado por algumas das maiores fortunas do planeta.

Em seu discurso, porém, Trump deu sinais de que considera que tem o mandato para uma reforma profunda. Segundo ele, a eleição mostrou que conta com o apoio de latinos, mulheres, de estados tradicionalmente democratas, além de controlar o Senado e Câmara de Deputados.

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