Trump declara emergência nacional e diz que deportará 'milhões e milhões'
Donald Trump reassume o poder nos EUA, prometendo o início de uma "Era Dourada" e declarando uma emergência nacional nas fronteiras, com a deportação de "milhões e milhões" de pessoas.
O republicano dividiu sua posse em dois momentos. Num primeiro discurso oficial, adotou um tom agressivo. Numa segunda intervenção, instantes depois e para seus aliados, ele repetiu mentiras sobre uma suposta fraude nas eleições de 2020 e acusou os democratas de ter apagado dados do estado.
Em ambos, o republicano abandonou qualquer tentativa de reconstruir pontes com inimigos, criticou o governo "corrupto" e insistiu que os americanos serão "respeitados de novo". "Nossa soberania será recuperada e segurança retomada", afirmou.
Se apresentando como alguém enviado e "salvo" por Deus para "acabar com o declínio" americano, Trump fez ameaças e difundiu desinformação.
Primeira cena
A posse começou com um discurso oficial, no qual Trump repetiu grande parte da narrativa da campanha eleitoral. O novo presidente anunciou que irá enviar americanos para Marte - o que gerou aplausos por marte de Elon Musk -, prometeu que irá "tomar" o canal do Panamá, renomear o Golfo do México e voltar a apostar em energias fósseis.
Numa das imagens transmitidas pelas câmeras oficiais do Capitólio, a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, balançava a cabeça, lamentando o pronunciamento.
Perdão a invasores e fraude na eleição de 2020
No discurso de posse, Trump atacou a instrumentalização da Justiça e insistiu que foi perseguido. O republicano é o primeiro a assumir o poder como condenado criminalmente. Instantes depois, num segundo discurso para apoiadores, ele indicou que irá perdoar os responsáveis pela invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.
Nesse segundo discurso, ainda dentro do Capitólio, Trump voltou a repetir a narrativa de que a eleição de 2020 foi "roubada", enquanto criticava membros da comissão que investigou seu papel nos distúrbios há quatro anos.
Imigração: tropas na fronteira
Mas usou sua primeira declaração para delinear algumas de suas prioridades. "Nossa prioridade é uma nação orgulhosa, próspera e livre", afirmou. "Faremos uma revolução do senso comum", prometeu.
Trump anunciou que, entre suas primeiras medidas, irá declarar uma "emergência de segurança nacional". Isso permitirá enviar tropas para a fronteira com o México e usar amplos recursos financeiros. Segundo ele, "milhões e milhões" de imigrantes serão enviados para fora do país. "Vamos manda tropas para acabar com a invasão", prometeu.
Trump ainda anunciou que cartéis de drogas serão designados como grupos terroristas - ampliando as possibilidades de atuação das forças armadas - e destacou como vai retomar programas para manter os estrangeiros no México, enquanto aguardam definições sobre suas condições e vistos.
Momentos depois, num segundo discurso, Trump garantiu que as novas etapas de construção do muro na fronteira com o México serão retomadas. "O muro vai ser erguido rapidamente", disse.
Ataques contra Biden; perdão preventivo anunciado
Sem qualquer gesto na direção de união nacional, Trump usou a posse para fazer duros ataques contra Joe Biden e à administração. "Temos agora um governo que não consegue administrar nem mesmo uma simples crise interna e, ao mesmo tempo, tropeça em um catálogo contínuo de eventos catastróficos no exterior", disse.
"Ele não consegue proteger nossos magníficos cidadãos americanos cumpridores da lei, mas oferece santuário e proteção para criminosos perigosos, muitos deles vindos de prisões e instituições psiquiátricas que entraram ilegalmente em nosso país vindos de todas as partes do mundo", afirmou, enquanto Biden olhava para o chão.
Minutos antes da posse, o democrata assinou um perdão preventivo para diversos membros de sua família. O temor é de que Trump use a Justiça para perseguir seus inimigos e mesmo parentes do ex-presidente. "Minha família tem sido submetida a ataques e ameaças implacáveis, motivados apenas pelo desejo de me prejudicar - o pior tipo de política partidária", escreveu Biden em um comunicado emitido enquanto estava no carro ao lado de Trump, em direção à posse. "Infelizmente, não tenho motivos para acreditar que esses ataques vão acabar."
"É por isso que estou exercendo meu poder sob a Constituição para perdoar James B. Biden, Sara Jones Biden, Valerie Biden Owens, John T. Owens e Francis W. Biden", continuou ele. "A emissão desses perdões não deve ser confundida com um reconhecimento de que eles se envolveram em qualquer irregularidade, nem a aceitação deve ser mal interpretada como uma admissão de culpa por qualquer ofensa", completou Biden.
Questionado sobre o gesto do ex-presidente, Trump apenas responde: "lamentável".
Volta do petróleo e saída do Acordo de Paris
Em sua posse, o republicano ainda anunciou o fim dos programas de economia verde, criados pelos democratas. "A crise inflacionária foi causada por gastos excessivos em massa e pelo aumento dos preços da energia. E é por isso que hoje também declararei uma emergência energética nacional. Vamos perfurar e perfurar", prometeu.
Durante o dia de hoje, Trump irá declarar a saída dos EUA do Acordo do Clima de Paris.
Sexo feminino e masculino
Durante a posse, Trump também anunciou que vai orientar a administração pública a considerar a existência de apenas dois sexos: masculino e feminino. Na prática, isso significa o fim de programas de proteção a pessoas trans e a impossibilidade de que termos como "não-binário" sejam colocados nos documentos oficiais.
"Nossa política oficial é de que existem dois gêneros: homem e mulher", afirmou, enquanto era ovacionado.
Trump também anunciou o fim de programas de diversidade no governo federal.
A guinada ocorre depois de ele ter sido derrotado nas urnas há quatro anos e dado como "encerrado" em sua carreira política. Desde então, foi condenado criminalmente e sofreu dois atentados. Mas sobreviveu, em todos os sentidos, e venceu com folga a eleição de 2024 contra Kamala Harris.
Desta vez, ele fez o juramento cercado por uma nova elite econômica e personalidades como Elon Musk, Mark Zuckerberg, Sundar Pichai e Jeff Bezos na ala de maior destaque da posse. Os três empresários ainda estiveram na manhã desta segunda-feira na missa organizada para a família de Trump e sua presidência, ao lado ainda dos líderes do Google.
Cerca de dez pessoas indiciadas pela invasão do Capitólio também foram convidados para ir à capital americana. A cerimônia ocorreu justamente na sala que foi vandalizada.
Antes de Trump falar, a senadora que presidiu o comitê da posse, Amy Klobuchar, relembrou que a coincidência do evento ocorrer no dia de Martin Luther King é um alerta de que os direitos fundamentais precisam ser preservados.
Mas quando o evento for encerrado, uma guinada conservadora será implementada.
Trump irá adotar uma centena de decretos que vão determinar a deportação de imigrantes, pedir que a procuradoria recomende a pena de morte para estrangeiros e o envio de militares na fronteira para impedir a chegada de novos fluxos.
As ordens executivas vão ainda estabelecer um banimento ao termo "desinformação", dar maior liberdade às redes sociais, atacar aos direitos do movimento LGBT e desmontar o acesso das mulheres aos direitos reprodutivos.
Em diferentes setores, a equipe de Trump estabelece a declaração de uma emergência nacional, o que lhe daria poderes extras e recursos, sem ter de negociar com o Legislativo ou enfrentar as cortes. Alguns membros de seu time de advogados chegam a apontar que cem decretos são esperados para hoje, driblando qualquer necessidade de negociação com o Congresso americano.
O gesto faz a oposição se lembrar de sua frase, durante a campanha eleitoral, de que não se importaria em ser um "ditador por um dia". Entre ativistas e grupos de direitos humanos, o temor é de que a promessa de respeitar e proteger a Constituição não sobreviva nem até o final do dia.
Para preparar esse momento, Trump construiu a narrativa nas últimas semanas de que sua vitória foi "avassaladora", que tem o controle do Senado e da Câmara dos Deputados, que conta com uma Suprema Corte conservadora e que recebeu o mandato para reconstruir os EUA.
Canal do Panamá
O novo presidente ainda confirmou suas ameaças de que quer retomar o Canal do Panamá, justificando que os navios americanos estariam sendo "prejudicados". "Os chineses controlam o canal", disse Trump. "Não demos o canal para a China", alertou. "Vamos toma-lo", prometeu.
Ele ainda afirmou que 38 mil americanos morreram nas obras, dado contestado pelos historiadores. O número oficial é de cerca de 5 mil.
Instantes depois, o governo do Panamá respondeu. "O Canal é e permanecerá panamenho", afirmou o país centro-americano.
De Golfo do México para Golfo da América
Trump vai assinar uma ordem executiva para renomear o Golfo do México. A partir de hoje, será o Golfo da América. Ao longo dos últimos meses, Trump tem alertado que iria iniciar uma nova relação com o México, fechando fronteiras e exigindo que grupos criminosos fossem designados como entidades terroristas.
Trump também alertou que pode aumentar tarifas para bens mexicanos, o que levou o governo do país latino-americano a dizer que iria responder a cada uma das medidas.
Trump também vai renomear o ponto mais alto dos EUA, no Alaska. Monte Denali passará a ser Mount McKinley, uma mudança que havia sido feita por Barack Obama fez, em 2015. A meta era homenagear os indígenas e a população original do Alaska. A retomada do nome McKinley seria uma homenagem ao presidente republicano William McKinley, e que foi assassinado. Foi ele quem iniciou políticas de adoção de tarifas contra produtos importados e garantiu a expansão do território americano sobre terras até então controladas pelo México.
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