Jamil Chade

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Reportagem

Diplomata de Trump diz que Israel tem 'direito bíblico' em terra palestina

A nova embaixadora do governo de Donald Trump na ONU, Elise Stefanie, se recusou a responder se ela acredita que os palestinos têm o direito a um estado. A representante ainda afirmou que Israel tem o "direito bíblico" a toda a região da Cisjordânia.

Sua declaração ocorreu horas depois de Trump suspender sanções que Joe Biden havia colocado sobre colonos de extrema direita que atacaram palestinos na Cisjordânia.

O posicionamento do novo governo americano ainda ocorre no mesmo momento do lançamento de uma operação "significativa e de grande escala" de militares de Israel no território ocupado. Nesta quarta-feira, dez pessoas foram mortas na Cisjordânia, no segundo dia da ofensiva. Em Jenin, 2 mil palestinos foram deslocados e 30 deles foram presos.

As iniciativas de Trump e a postura da nova embaixadora, durante uma sabatina no Senado, acenderam um sinal de alerta entre diplomatas estrangeiros, representantes brasileiros e na ONU. Em junho, governos que defendem a causa palestina vão convocar uma cúpula em Nova York para traçar o caminho para o reconhecimento completo da Palestina como um estado soberano.

Em um diálogo com os senadores que irão aprovar seu nome para o cargo, a futura embaixadora foi questionada se defendia a ideia de autodeterminação do povo palestino, um elemento garantido pelo direito internacional e aprovado anualmente na ONU por uma maioria de países, inclusive Ocidentais.

Num primeiro momento, ela não respondeu.

O senador democrata Chris Van Hollen, então, perguntou se ela estaria de acordo com a visão de que, para que a paz seja estabelecida no Oriente Médio, os direitos humanos e o direito à autodeterminação devem estar garantidos "tanto para palestinos como israelenses". "Essa é uma resposta sim ou não, é só isso que peço", disse.

Ela, mais uma vez, se recusou a falar em autodeterminação. "Defendo os direitos humanos para todos. E acho que desgraça que Hamas e o Hezbollah destruíram os direitos dos palestinos. Israel está defendendo os direitos humanos", disse.

O senador insistiu. "Concordamos com isso, Mas queria saber se os palestinos têm direito a autodeterminação", perguntou.

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Pela terceira vez, ela se recusou a responder.

"Acredito que os palestinos merecem muito mais do que a liderança terrorista oferece. Quero garantir que possamos trazer os reféns israelenses de volta para casa", disse.

Van Hollen, perdendo a paciência, interrompeu a nomeada por Trump uma vez mais e voltou a questiona-la. Mas, desta vez, inverteu a questão. Ele perguntou se ela concordava com a visão de ministros da ala mais radical do governo de Benjamin Netanyahu de que Israel teria "direitos bíblicos" sobre o que hoje seria a Cisjordânia, um território palestino e onde está Ramallah, a sede do governo de Mahmoud Abbas.

A futura embaixadora confirmou que apoia essa visão. "Sim".

O motivo da preocupação na ONU ocorre por conta da impossibilidade de que haja um acordo de paz mais geral na região sem que as reivindicações históricas da palestina sejam atendidas. A principal delas é a garantia de um estado soberano, independente e com suas fronteiras reconhecidas internacionalmente.

A diplomata não é a única a expressar essa posição. Mike Huckabee, embaixador de Trump em Israel, disse em 2017 que a Cisjordânia "não existe". Ele ainda insistiu que "não existe palestino".

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