Brasil diz que tratamento a deportados viola acordo com EUA: 'Inaceitável'

O governo brasileiro não autorizou a continuação do voo com imigrantes deportados por considerar que os EUA violaram o acordo entre os dois países. Em nota emitida neste domingo (26), o Brasil insistiu que o tratamento foi "inaceitável".
O voo com 88 brasileiros deportados foi ainda resultado de um acordo existente entre os dois países desde 2017. Mas esse foi a primeira operação depois da posse de Donald Trump, que prometeu uma deportação em massa. Conforme o UOL antecipou com exclusividade no sábado (25), o Brasil vai pedir esclarecimentos aos representantes da Casa Branca.
O uso indiscriminado de algemas e correntes viola os termos segundo os EUA, que prevê o tratamento digno, respeitoso e humano dos repatriados (...) O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas
Ministério das Relações Exteriores, em nota
Não é a primeira vez que, num voo com deportados, as algemas são usadas. Ao longo dos últimos anos, o Brasil tentou convencer o governo de Joe Biden a abandonar a prática. Foram cerca de 30 voos com deportados nos últimos quatro anos. Agora, porém, a situação não se limita ao uso das algemas e as denúncias se referem às condições gerais do tratamento dado aos brasileiros.
Uma ala dentro do governo chega a defender que os voos sejam suspensos, caso essas violações voltem a ocorrer. O México, nesta semana, vetou um dos voos com deportados por considerar que o tratamento não era adequado.
O Brasil, porém, quer evitar a todo custo uma crise com Trump, principalmente nos primeiros dias de seu governo. Ao mesmo tempo, insiste que precisa preservar a situação dos brasileiros.
Brasília informou que, por meio de contatos entre o Ministério das Relações Exteriores e autoridades da Polícia Federal e da Aeronáutica, em Manaus e em Brasília, "reuniu informações detalhadas sobre o tratamento degradante dispensado aos brasileiros e brasileiras algemados, nos pés e mãos, em voo de repatriação do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos EUA (ICE), com destino a Belo Horizonte".
"O voo fez escala no aeroporto Eduardo Gomes, na capital amazonense", explicou.
Segundo o governo, "as autoridades brasileiras não autorizaram o seguimento do voo fretado para Belo Horizonte na noite de sexta-feira, em função do uso das algemas e correntes, do mau estado da aeronave, com sistema de ar condicionado em pane, entre outros problemas, e da revolta dos 88 nacionais a bordo pelo tratamento indigno recebido".
Conforme a nota, o grupo pernoitou em Manaus e embarcou na tarde de ontem em voo da Força Aérea Brasileira até a capital mineira.
O Brasil concordou com a realização de voos de repatriação, a partir de 2018, para abreviar o tempo de permanência desses nacionais em centros de detenção norte-americanos, por imigração irregular e já sem possibilidade de recurso
Ministério das Relações Exteriores, em nota
"O Ministério das Relações Exteriores vai encaminhar pedido de esclarecimento ao governo norte-americano e segue atento às mudanças nas políticas migratórias naquele país, de modo a garantir a proteção, segurança e dignidade dos brasileiros ali residentes", completou.
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