Jamil Chade

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Reportagem

EUA retaliam Colômbia por recusar voos, e imigração abre crise regional

O governo de Donald Trump irá suspender a emissão de vistos e vetar a entrada de membros do partido no poder em Bogotá nos Estados Unidos e colocou tarifas sobre bens do país sul-americano. As ações, as mais duras já tomadas desde o início de seu governo, ocorrem depois que o presidente Gustavo Petro anunciou que não irá receber voos com deportados diante do tratamento que os imigrantes estão recebendo.

O novo presidente ainda revogou vistos de funcionários colombianos e alertou que, se Petro não mudar de ideia, as sanções serão ainda maiores nos próximos dias.

Como resposta, Petro anunciou que também irá sobretaxas os produtos americanos que entram na Colômbia. "Vocês me informam que colocam sobre o fruto de nosso trabalho humano 50% de taxas para entrar nos EUA. Eu faço o mesmo", indicou.

As medidas deixaram diplomatas em toda a região chocados com o comportamento do presidente americano e estão sendo vistas como um alerta ao Brasil e outros países da região.

A ação ocorre num momento em que o governo do México vetou um voo e o Brasil denunciou violações por parte dos americanos.

A deportação em massa era uma das principais bandeiras da campanha de Trump que, em sua primeira semana, anunciou o envio de mais de 500 estrangeiros ao seus países de origem, além do destacamento de tropas para as fronteiras.

Na manhã de domingo, Petro disse que não aceitaria a chegada de um voo com 160 pessoas. Horas depois, o serviço diplomático dos EUA, liderado por Marco Rubio, filho de imigrantes, informou que estava suspendendo a emissão de vistos na embaixada em Bogotá. A interrupção ocorre sem previsão de um retorno dos serviços.

Trump ainda revogou os vistos para funcionários do governo colombiano e aumentou as tarifas. As novas taxas serão de 25% e, se Petro não mudar de ideia, os impostos subirão para 50%.

Ele também ordenou a suspensão de visto para todos os membros do partido Colômbia Humana, do presidente Petro, e impôs inspeções de Alfândega e Proteção de Fronteiras em todos os colombianos e cargas por "razões de segurança".

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O presidente Trump acrescentou que serão impostas sanções ao Tesouro e ao setor bancário da Colômbia e disse que esse é o "começo" de mais medidas.

"Não permitiremos que o governo colombiano viole suas obrigações legais em relação à aceitação e devolução de criminosos" que entraram nos EUA, disse o presidente.

"Acabo de ser informado de que dois voos de repatriação dos Estados Unidos, com um grande número de criminosos ilegais, não foram autorizados a aterrissar na Colômbia", disse Trump. "Essa ordem foi dada pelo presidente socialista da Colômbia, Gustavo Petro, que já é muito impopular entre seu povo", insistiu.

"A negação desses voos por Petro colocou em risco a segurança nacional e a segurança pública dos Estados Unidos, por isso instruí minha administração a tomar imediatamente as seguintes medidas retaliatórias urgentes e decisivas", explicou.

São elas:

  • Tarifas emergenciais de 25% sobre todos os produtos que entram nos Estados Unidos. Em uma semana, as tarifas de 25% serão aumentadas para 50%;
  • Proibição de viagens e revogação imediata de vistos e revogação imediata de vistos para os funcionários do governo colombiano e todos os aliados e apoiadores;
  • Sanções de visto para todos os membros do partido, familiares e apoiadores do governo colombiano;
  • Aumento das inspeções da Alfândega e da Inspeções de proteção alfandegária e de fronteiras de todos os nacionais e cargas colombianas por motivos de segurança nacional;
  • Inspeções aprimoradas de alfândega e proteção de fronteiras de todos os cidadãos e cargas colombianos por motivos de segurança nacional;
  • Sanções financeiras, bancárias e de tesouraria da IEEPA a serem totalmente impostas.
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Instantes depois, foi a vez de Petro responder. Nas redes sociais, ele alertou que existem 15,6 mil americanos estabelecidos na Colômbia de forma irregular e que precisarão se apresentar aos serviços de imigração.

"A dignidade da Colômbia e da América Latina vêm em primeiro lugar. Os migrantes são seres humanos e sujeitos de direitos e devem ser tratados como tal", disse Petro. Ele também expressou preocupação com o possível congelamento do diálogo sobre Darién, uma região-chave no fluxo migratório e que fica entre Panamá e Colômbia.

Petro também defendeu a criação de mecanismos de regularização. "Se não houver regularização, a imigração ilegal aumentará. Vimos isso quando os EUA bloquearam a Venezuela e causaram a explosão da onda migratória", escreveu ele.

Na quinta-feira (23), o governo do México também tomou medidas similares, criando uma tensão com Trump.

Dias antes da posse do republicano, governos da América Latina se reuniram para fechar uma posição conjunta contra atitudes que possam prejudicar seus nacionais. Numa declaração assinada por Brasil, México, Colômbia e outros países, pedia-se que não houvesse uma "criminalização da imigração", assim como garantias de que todos seriam tratados de forma adequada.

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Itamaraty alertou sobre potencial crise

Nas semanas que antecederam à eleição e posse de Trump, o Itamaraty produziu informes nos quais alertavam sobre a potencial crise.

Numa nota publicada neste domingo, o governo brasileiro confirmou que não autorizou a continuação do voo com imigrantes deportados de Manaus para Belo Horizonte por considerar que os EUA violaram o acordo entre os dois países.

O Brasil insistiu que o tratamento foi "inaceitável". O voo com 88 brasileiros deportados foi ainda resultado de um acordo existente entre os dois países desde 2017. Mas esse foi a primeira operação depois da posse de Donald Trump, que prometeu uma deportação em massa.

Conforme o UOL antecipou com exclusividade no sábado (25), o Brasil vai pedir esclarecimentos aos representantes da Casa Branca.

"O uso indiscriminado de algemas e correntes viola os termos segundo os EUA, que prevê o tratamento digno, respeitoso e humano dos repatriados (...) O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas", diz a nota.

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Não é a primeira vez que, num voo com deportados, as algemas são usadas. Ao longo dos últimos anos, o Brasil tentou convencer o governo de Joe Biden a abandonar a prática. Foram cerca de 30 voos com deportados nos últimos quatro anos. Agora, porém, a situação não se limita ao uso das algemas e as denúncias se referem às condições gerais do tratamento dado aos brasileiros.

Uma ala dentro do governo chega a defender que os voos sejam suspensos, caso essas violações voltem a ocorrer.

O Brasil, porém, quer evitar a todo custo uma crise com Trump, principalmente nos primeiros dias de seu governo. Ao mesmo tempo, insiste que precisa preservar a situação dos brasileiros.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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