Jamil Chade

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ONU alerta para limpeza étnica com plano de Trump; Casa Branca recua

O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que o plano de Donald Trump para "tomar Gaza" e deslocar milhões de palestinos ameaça causar uma "limpeza étnica". Em outras palavras, um crime contra a humanidade. A fala do chefe da entidade se somou a dezenas de condenações e críticas feitas por líderes em todo o mundo contra a proposta de Washington. Nesta tarde de quarta-feira, a Casa Branca sinalizava com um recuo em relação à proposta original, indicando que a expulsão dos palestinos seria apenas "temporária".

Num discurso duro nesta quarta-feira em Nova York, o chefe da ONU não poupou críticas à iniciativa o presidente americano que, um dia antes, havia feito o anúncio de seu plano ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Na mesma reunião na sede da ONU, o embaixador palestino, Ryad Mansour, alertou que seu povo "não deixará Gaza".

"Na busca por soluções, não devemos piorar o problema", disse Guterres. "É fundamental permanecermos fiéis à base do direito internacional. É essencial evitar qualquer forma de limpeza étnica", insistiu. Para ele, o mundo deve reafirmar a solução de dois Estados como a única saída.

"Qualquer paz duradoura exigirá um progresso tangível, irreversível e permanente em direção à solução de dois Estados, o fim da ocupação e o estabelecimento de um Estado palestino independente, com Gaza como parte integrante", defendeu.

Para Guterres, uma solução requer "um Estado palestino viável e soberano vivendo lado a lado em paz e segurança com Israel é a única solução sustentável para a estabilidade do Oriente Médio".

"Devemos trabalhar para preservar a unidade, a contiguidade e a integridade do Território Palestino Ocupado e a recuperação e reconstrução de Gaza. Uma governança palestina forte e unificada é fundamental. A comunidade internacional deve apoiar a Autoridade Palestina para esse fim", defendeu.

Casa Branca muda versão e sinaliza recuo

Menos de 24 horas depois de Trump fazer seu anúncio, segundo o jornal The New York Times, assessores da Casa Branca convenceram o presidente a abandonar a ideia de uma remoção permanente. Ela, agora, seria apenas temporária.

Tanto o secretário de Estado Marco Rubio, como a porta-voz da Casa Branca Karoline Leavitt indicaram um recuo. "O presidente deixou claro que eles precisam ser temporariamente realocados para fora de Gaza", disse Leavitt durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca.

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Já Rubio disse que a ideia "não foi feita para ser hostil". Para ele, trata-se de "uma ação generosa, uma oferta de reconstrução e de ser responsável pela reconstrução".

Mike Waltz, o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, justificou o plano de Trump como apenas uma forma de garantir que os países árabes "apresentassem sua proposta" para a região.

Ainda assim, a posição americana foi duramente criticada pelo mundo.

"Em sua essência, o exercício dos direitos inalienáveis do povo palestino diz respeito ao direito dos palestinos de simplesmente viver como seres humanos em sua própria terra", disse Guterres.

"Temos visto a concretização desses direitos ficar cada vez mais longe de nosso alcance. Temos visto uma desumanização e demonização assustadoras e sistemáticas de um povo inteiro", alertou.

Segundo ele, "nada justifica os horríveis ataques do Hamas em 7 de outubro". "E nada justifica o que vimos acontecer em Gaza nos últimos meses", insistiu.

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"Todos nós conhecemos muito bem o catálogo de destruição e horrores indescritíveis. As quase 50 mil pessoas - 70% delas mulheres e crianças - que foram registradas como mortas", disse.

Guterres destacou como maior parte da infraestrutura civil de Gaza - hospitais, escolas e instalações de água - foi destruída.

"A esmagadora maioria de toda a população que enfrentou deslocamento após deslocamento, fome e doenças", disse. "Crianças que não frequentam a escola há mais de um ano. Uma geração que ficou sem teto e traumatizada", lamentou.

Para Guterres, os esforços devem se concentrar neste momento em consolidar o cessar-fogo e a libertação de todos os reféns. "Não podemos voltar a ter mais morte e destruição", disse.

Ele destacou como a ONU está trabalhando "para alcançar os palestinos necessitados e ampliar o apoio". "Para isso, é necessário que o acesso humanitário seja rápido, seguro, desimpedido, ampliado e sustentado", disse.

"Peço aos Estados-Membros, aos doadores e à comunidade internacional que financiem totalmente as operações humanitárias e atendam às necessidades urgentes", apelou. Guterres também pediu que os governos continuem a apoiar a UNRWA.

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Mas ele alerta que a crise não se limita a Gaza. "A situação continua a se agravar na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental", disse.

"Estou seriamente preocupado com a crescente violência dos colonos israelenses e outras violações. A violência precisa acabar", afirmou.

Fim da ocupação

Guterres ainda pediu que Israel se retire dos territórios ocupados. "Conforme afirmado pela Corte Internacional de Justiça, a ocupação do Território Palestino por Israel deve terminar", disse. "O direito internacional deve ser respeitado e a responsabilidade deve ser garantida", afirmou.

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