Trump corta US$ 4 bilhões para fundo climático da ONU e boicota G20

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Em carta enviada para a Secretaria-Geral da ONU, o governo de Donald Trump anunciou que está suspendendo o compromisso em destinar US$ 4 bilhões para financiar o fundo sobre mudanças climáticas na instituição. A decisão é decorrência da iniciativa de Washington de abandonar o Acordo de Paris.
"O governo dos EUA cancela todas as promessas pendentes ao Fundo Verde para o Clima", escreveu o secretário de Estado, Marco Rubio, ao secretário-geral da ONU, António Guterres. A informação foi primeiro revelada pelo site Politico. A secretaria da ONU confirmou ao UOL que recebeu a carta, detalhando seu conteúdo.
Dos US$ 6 bilhões que o governo americano havia prometido para o fundo, apenas US$ 2 bilhões haviam sido já enviados. Agora, todo o volume restante fica cancelado.
Ameaça à COP30 e ao G20
A ofensiva foi recebida no governo brasileiro como um duro golpe contra todo tipo de ação que possa estar sendo construída para a Conferência do Clima, que ocorre no final do ano em Belém, a COP30. O financiamento dos países ricos estará no centro do debate.
Criado em 2010, o Fundo Verde para o Clima tem como objetivo mobilizar recursos dos países ricos para projetos em todo o mundo. No Brasil, são 13 operações em curso, envolvendo US$ 440 milhões.
No mundo, mais de US$ 16 bilhões já foram distribuídos.
Além de mandar a carta para a ONU, o governo americano ainda afirmou que não enviará seu secretário de Estado, Marco Rubio, para a reunião do G20 na África do Sul. Oficialmente, o chefe da diplomacia americana alegou que não iria por conta de uma insatisfação do governo Trump com a política de distribuição de terras do governo local.
"A África do Sul está fazendo coisas muito ruins. Expropriando a propriedade privada. Usando o G20 para promover 'solidariedade, igualdade e sustentabilidade'. Em outras palavras: DEI [diversidade, equidade e inclusão] e mudança climática", disse Rubio em uma postagem no X. "Meu trabalho é promover os interesses nacionais dos Estados Unidos, não desperdiçar o dinheiro do contribuinte ou mimar o antiamericanismo", completou.
Diplomatas consideram que o boicote tem uma relação direta com os temas da agenda que os sul-africanos querem tratar, entre eles o clima.
Na semana passada, o presidente Cyril Ramaphosa apresentou as prioridades de seu país na presidência do grupo e enfatizou a necessidade de uma ação global coordenada sobre as mudanças climáticas, pedindo às nações industrializadas que honrem seus compromissos de financiar e apoiar iniciativas climáticas no Sul Global.
"Buscaremos um acordo para aumentar a qualidade e a quantidade dos fluxos de financiamento climático para as economias em desenvolvimento, conforme acordado em várias cúpulas climáticas da ONU", disse.
EUA também deixaram o Acordo de Paris
Na semana passada, a ONU afirmou que recebeu uma notificação oficial por parte do governo Trump, retirando-se do Acordo do Clima de Paris. Pelo procedimento internacional, a medida entra em vigor só em 27 de janeiro de 2026. Mas Washington já indicou que não irá colaborar mais com a entidade e suspende todos os repasses para os temas ambientais.
Conforme as Nações Unidas, a notificação foi enviada para o secretário-geral da entidade, António Guterres. "Reafirmamos nosso compromisso ao Acordo de Paris e o apoio para limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5 grau Celsius", afirmou a entidade.
Além de romper com o acordo, a avalanche de medidas ainda incluiu anúncios no setor de energia, com o fim de medidas de Joe Biden - que proibiam novas explorações de gás e petróleo nos EUA. A exploração no Alasca estará no centro das primeiras decisões.
Trump indicou que vai usar a declaração de uma emergência nacional para justificar suas ações, neste caso com o alerta de que os americanos precisam maior acesso à energia. Leis de combate à poluição e regulamentos ambientais serão suspensas.
Ao tomar posse, Trump chamou o acordo de "um roubo". "Não vamos sabotar nossa indústria, enquanto a China polui", disse.
Durante seu discurso, ele ainda debochou da produção de energia eólica. "Não vamos fazer nada com essa coisa de vento", disse. "Vamos economizar US$ 1 trilhão ao sair do acordo", insistiu. Enquanto assinava uma carta para a ONU informando da saída dos EUA, o público xingava a entidade.
O discurso de Trump gerou profunda preocupação na ONU, principalmente diante dos riscos para a Conferência do Clima, que ocorre em Belém no final do ano. O risco, para diplomatas, é que a negociação seja esvaziada.
Rompendo uma postura diplomática do governo Lula, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, também criticou o discurso. "Seus primeiros anúncios vão na contramão da defesa da transição energética, do combate às mudanças climáticas e da valorização de fontes renováveis na produção de energia", disse a brasileira, abandonando a cautela do Itamaraty e do Palácio do Planalto sobre a relação com Trump.
São o avesso da política guiada pelas evidências trazidas pela ciência e do bom senso imposto pela realidade dos eventos climáticos extremos que ocorrem, inclusive, em seu próprio país
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima
"Vejo com enorme preocupação o anúncio de que o presidente pretende acabar com o Green New Deal, tirar os EUA do Acordo de Paris, retomar a indústria automotiva norte-americana sem dar prioridade para carros elétricos e valorizar o uso de combustíveis fósseis", insistiu a ministra, lembrando que os EUA são o segundo maior emissor global de gases de efeito estufa. "Serão tempos desafiadores para o mundo inteiro", completou Marina Silva.
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