Jamil Chade

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Governo Bolsonaro assinou acordo com agência que Trump chama de 'corrupta'

Em março de 2019, o governo de Jair Bolsonaro assinou um acordo com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, a Usaid, para o desenvolvimento de ações na Amazônia. O ato foi divulgado pela embaixada dos EUA como um dos principais fatos da viagem de Bolsonaro para se reunir com Donald Trump, que estava em seu primeiro mandato como presidente.

A agência é hoje alvo de fortes ataques por parte de Trump, que insiste em seu fechamento. Nas redes sociais, o presidente acusa a entidade de desvios e de apoiar projetos que beneficiam a agenda progressista.

No Brasil, alguns dos principais nomes do bolsonarismo tem agido para fazer eco às iniciativas de Trump. "O escândalo da Usaid está gerando uma luta pela vida. ONGs, mídias e organismos multilaterais que não apoiam o corte de Trump lutam pela vida", escreveu o deputado Eduardo Bolsonaro, nas redes sociais.

Numa outra postagem citando um acadêmico, ele ainda aponta como Trump "tem feito um amplo movimento de cancelar a atuação nefasta da agência".

Mas nenhum deles cita o fato de que, em março de 2019, o então diretor da Usaid, Mark Green, fechou um acordo com o então secretário brasileiro do Escritório de Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Castelo Branco. Naquele momento, a pasta era liderada por Ricardo Salles.

Na declaração final da visita de Bolsonaro à Casa Branca, pode-se ler:

Os dois líderes anunciaram uma nova fase do Fórum de CEOs dos Estados Unidos e do Brasil e saudaram a criação de um Fundo de Investimento de Impacto sobre a Biodiversidade, no valor de US$ 100 milhões, que catalisará investimentos sustentáveis na região amazônica.

Naquele dia, a assessoria de Comunicação da pasta de Salles anunciou:

O secretário de Relações Internacionais do MMA, Roberto Castelo Branco Coelho de Souza, assinou ontem com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) uma declaração de intenção que prevê a criação de um fundo de US$ 100 milhões para desenvolvimento econômico da Amazônia.

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A assinatura foi ontem em Washington, capital dos Estados Unidos. E fez parte da programação oficial da visita do presidente Jair Bolsonaro àquele país.

O acordo entre a pasta de Salles e a Usaid previa o trabalho para o "lançamento do primeiro investimento de impacto focado na biodiversidade conduzido pelo setor privado para a Amazônia". "O fundo, a ser financiado em grande parte pelo setor privado, pretende alavancar US$ 100 milhões em investimentos em setores de difícil acesso e alto risco para estimular negócios bem-sucedidos que se alinham com a conservação da floresta e da biodiversidade", anunciava.

Numa comunicação da embaixada americana, a diplomacia de Trump insistia que "o novo fundo preencherá uma lacuna crucial de financiamento ao fornecer acesso a crédito e investimentos que fortalecerão o empreendedorismo, a inovação, as startups e as cadeias de valor sustentáveis na Amazônia".

"Os dois países continuam comprometidos com uma abordagem liderada pelo setor privado, financeiramente viável e escalável, que é fundamental para o desenvolvimento de oportunidades econômicas para as comunidades locais, ao mesmo tempo em que protege os preciosos recursos naturais e a biodiversidade da Amazônia", destacou.

Na Carta de Intenções, obtida pelo UOL, os dois países afirmaram que "acreditam que, com o investimento de impacto no Brasil em rápida expansão, uma abordagem financeiramente viável e escalonável liderada pelo setor privado pode impulsionar o financiamento de oportunidades econômicas que preservem as florestas e a biodiversidade e também tenham impactos positivos nas comunidades locais".

"Os riscos e desafios para trabalhar na Amazônia impediram que a maioria dos investidores de impacto se expandisse para a região. É nosso entendimento mútuo que liberar o financiamento privado para empresas sustentáveis na Amazônia fortalece a autonomia e o bem-estar das comunidades e empreendedores que dependem da floresta na Amazônia, e cria oportunidades para a conservação da biodiversidade, a restauração da terra e a redução do desmatamento, o que pode levar à substituição de práticas ilegais e insustentáveis por opções legais e sustentáveis", disse.

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"Os governos do Brasil e dos Estados Unidos propõem um novo modelo de desenvolvimento que pode ser escalonado e replicado no futuro em toda a Amazônia, outras regiões do Brasil e no restante do Hemisfério Ocidental", destacou.

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