Jamil Chade

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Reportagem

Inflação sobe nos EUA e amplia pressão contra protecionismo de Trump

A taxa de inflação nos EUA sobe em janeiro e abre especulações no mercado sobre a capacidade de Donald Trump de aplicar medidas protecionistas, diante de suas promessas de reduzir o custo de vida para os americanos.

O presidente apenas assumiu o governo em 20 de janeiro e, imediatamente após o anúncio do índice, correu para as redes sociais para alertar que essa era a "inflação Biden em alta", numa referência ao governo anterior.

Mas com um salto de 3%, 0,3% acima do que o mercado previa, as dúvidas foram ampliadas sobre o caminho adotado por sua gestão econômica. Numa taxa anualizada, o índice subiu em 3,3%.

Os custos de energia e alimentos continuaram a subir, principalmente os dos ovos, cujos preços dispararam devido à gripe aviária. Os preços dos ovos subiram 15,2% de dezembro a janeiro, o aumento mais rápido registrado por esse índice desde 2015. Eles aumentaram 53% em relação ao ano anterior.

"Os mercados não estão convencidos de que veremos uma desinflação no final do ano, e os dados de hoje certamente não dão evidências disso", disse Eric Winograd, economista-chefe da AllianceBernstein, ao jornal The Financial Times.

Durante sua campanha eleitoral, a inflação foi o centro de sua mensagem aos eleitores. Sua promessa era de que, no primeiro dia de governo, medidas seriam anunciadas e que, rapidamente, iriam ver uma queda no custo de vida. Por enquanto, porém, suas principais medidas econômicas vão no sentido contrário, com barreiras comerciais que potencialmente podem elevar o custo dos produtos.

Desde novembro, porém, Trump vem abandonando frases que garantam o fim da inflação e reforçando os ataques contra taxas de juros.

Em uma coletiva de imprensa na semana passada, Karoline Leavitt, a porta-voz da Casa Branca, admitiu que não havia um "cronograma" sobre as medidas que poderiam ser adotadas para atacar a inflação.

Nesta quarta-feira, Trump defendeu que o Federal Reserve Bank, o BC americano, reduza as taxas de juros e que isso deveria acompanhar suas ideias de aplicar tarifas contra bens importados.

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Um dia antes, o presidente do Fed, Jay Powell, garantiu ao Congresso que sua instituição continuaria "fazendo o nosso trabalho e não se metendo em política".

Nesta quarta-feira, Leavitt admitiu que a inflação "é pior que imaginávamos". "Mas isso revela que recebemos uma situação complicada. É o indiciamento do governo Biden", disse.

Questionada sobre o que seria feito, ela apenas repetiu que acredita que as políticas econômicas "vão levar" a uma queda da inflação.

Enquanto isso, Trump adotou tarifas de 10% sobre bens chineses e ameaçou com taxas contra Canadá e México. Nesta semana, ele anunciou barreiras ao aço de todo o mundo e indicou que poderá adotar uma política de elevação de tarifas contra qualquer país que não seja "justo" no comércio com os EUA.

Mas a imposição das tarifas e suas ameaças geraram preocupações tanto de parceiros internacionais como de instituições americanas.

O Canadá, por exemplo, abastece 60% do mercado americano de petróleo e uma barreira imediata poderia representar um maior custo de energia nos EUA. O comércio bilateral nesse segmento chega a ser de US$ 100 bilhões.

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No final de janeiro, o presidente negou que tarifas impactam a inflação, sem explicar sua lógica e nem dar demonstrações de seu argumento. Mas admitiu que algum tipo de "ruptura temporária" poderia ocorrer com alguns produtos.

Dias depois, ele admitiu que algumas de suas medidas poderiam causar "dor". Mas que sabia que os americanos "entenderiam".

Estudos realizados em 2018, quando Trump também iniciou uma guerra comercial, mostram que quase a integralidade dos custos extras causados pelas tarifas foi incorporado nos preços finais ao consumidor. Segundo a Tax Foundation, os impostos de importação vão custar ao bolso do consumidor americano cerca de US$ 860 bilhões por ano.

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