Jamil Chade

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Trump diz que anunciará novas barreiras comerciais, mas sinaliza negociação

Donald Trump deve anunciar hoje que irá ampliar sua agenda protecionista e adotar um regime de tarifas recíprocas contra alguns de seus maiores parceiros comerciais. O Brasil é potencialmente um dos afetados, ainda que o grande objetivo seja o de conter a expansão da China e Índia.

Uma coletiva de imprensa está agendada para ocorrer na Casa Branca às 13h de Washington (15h de Brasília) para detalhar o pacote de medidas protecionistas.

Informações que circulam entre diplomatas, porém, apontam que as novas tarifas apenas entrariam em vigor a partir de abril. Se confirmada a data, isso seria um sinal de que a Casa Branca quer negociar com cada um dos países envolvidos.

Em publicação na rede social Truth Social pela manhã, Trump divulgou: "Três grandes semanas, talvez as melhores de todas, mas hoje é um grande dia: Tarifas recíprocas!!! A América grande de novo!!!".

Falando aos jornalistas na noite de ontem, o presidente americano já havia indicado que a ordem executiva com as novas tarifas seria assinada até esta quinta. "O mundo está tomando vantagens dos EUA e isso vai acabar", disse Trump, sem dar indicações de quais países seriam afetados.

A decisão da Casa Branca vem na mesma semana em que Trump estabeleceu um tarifa de 25% ao aço e alumínio de todo o mundo, com um impacto sobre cerca de US$ 6 bilhões de exportações brasileiras. O governo Lula sinalizou, porém, que quer uma negociação, já que as tarifas apenas entram em vigor em um mês. A UE já iniciou conversas com os representantes americanos e espera chegar a um entendimento.

Agora, Trump vai além e indica que estabelecerá regras para equiparar as tarifas que seus produtos recebem em mercados estrangeiros às taxas que são cobradas para os bens importados.

O anúncio ocorre às vésperas da chegada do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, para uma visita oficial ao presidente americano.

Etanol brasileiro

No caso brasileiro, o etanol é alvo potencial de um contencioso. O UOL revelou no último sábado que o governo considerava o setor como uma preocupação. O país cobra 18% para a entrada do produto americano, ponto que tem sido alvo de críticas por parte de diferentes administrações americanas.

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No caso brasileiro, o argumento do governo e do setor privado é de que a relação já é favorável aos americanos e que a justificativa de Trump faria pouco sentido.

Isso porque os bens americanos estão entrando no Brasil com taxas inferiores ao que é cobrado pelo país do restante dos parceiros internacionais. Uma análise do fluxo comercial entre os dois países a partir de dados oficiais revela que, se a tarifa média do Brasil ao mundo é de 11%, ela é de menos de 5% para os EUA.

48,1% das importações de bens americanos que entram no país não pagaram qualquer taxa, mais de US$ 15 bilhões. Produtos como carvão siderúrgico ou petróleo fazem parte dessa lista de produtos isentos.

Taxas de 0% a 2% também são cobradas em casos relacionados com motores e partes de produtos que, uma vez montados no Brasil, voltam a ser exportados. Dos dez produtos mais vendidos pelos EUA ao mercado nacional, oito deles contam com tarifas de menos de 3%.

Num outro levantamento da Câmara Americana de Comércio (Amcham), a constatação é ainda de que os EUA contam com um saldo positivo no comércio com o Brasil. Em uma década, o saldo favorável na balança comercial aos americanos somou US$ 100,6 bilhões. Em 2023, o déficit brasileiro foi de US$ 5,3 bilhões.

Em 2024, as exportações brasileiras para os EUA atingiram um volume recorde de US$ 40,3 bilhões em 2024. Mas as importações brasileiras provenientes dos EUA totalizaram US$ 40,6 bilhões, aumento de 6,9% em relação a 2023.

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