Trump negociará acordo com Putin e diz que Ucrânia perderá territórios

Ler resumo da notícia
O presidente Donald Trump promove uma mudança radical no posicionamento dos EUA na guerra na Ucrânia, afasta a possibilidade de que Kiev faça parte da Otan e alerta que o país europeu perderá territórios. Ou seja, Vladimir Putin ficará com uma parcela dos territórios invadidos e que os europeus, depois de destinar bilhões de euros para a guerra, terão de aceitar que o Kremlin verá uma mudança no mapa da região.
As declarações foram feitas nesta quarta-feira, depois de o americano manter uma "conversa longa e altamente produtiva com o presidente da Rússia, Vladimir Putin". O telefonema de uma hora e meia foi o primeiro entre os líderes dos dois países desde o início da guerra e deixando diplomatas em todo o mundo especulando se uma solução para a crise na Ucrânia irá ignorar as ambições do presidente Volodymyr Zelensky.
Nas redes sociais, Trump indicou que foi determinado o início imediato de um processo de negociação para tentar acabar com a guerra na Ucrânia e, instantes depois de conversar com o chefe do Kremlin, telefonou para Zelensky para informá-lo das decisões.
Horas depois da ligação, Trump explicou a jornalistas que o primeiro encontro entre ele e Putin deve ocorrer na Arábia Saudita, numa iniciativa do príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman.
A guinada americana é importante e atende a alguns dos principais pontos reivindicados por Putin ao longo dos últimos anos.
O governo Trump indicou que:
Não vê a possibilidade de que a Ucrânia faça parte da Otan
Não há como retornar para as fronteiras que existiam antes da invasão russa ou mesmo o mapa de 2014, antes da anexação da Crimeia por Moscou.
Trump, nesta quarta-feira, confirmou que sua posição é favorável a esses pontos.
Questionado se Kiev recuperaria terras invadidas, o presidente duvidou. "É improvável, perderam muita terra. Uma parte pode ser recuperada", disse. Para ele, a "única coisa que importa" é acabar com a guerra. "Essa guerra é ridícula", insistiu.
Também nesta quarta-feira, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, surpreendeu os europeus ao dizer que seria impossível que as fronteiras da Ucrânia voltassem a ser o que eram antes de 2014, quando Putin primeiro lançou sua ofensiva.
Diplomatas consultados pelo UOL apontaram que Trump quer colocar todo seu foco em frear a China. Destinar bilhões de dólares para salvar a Ucrânia, portanto, não faria sentido.
Antes do encontro entre Putin e Trump na Arábia Saudita, o primeiro contato para buscar uma solução para a guerra está marcado para sexta-feira, em Munique na Alemanha, entre o vice-presidente americano JD Vance e o próprio presidente ucraniano.
O Kremlin também confirmou a conversa e indicou que um "acordo de longo prazo" é possível por meio de conversas de paz. Mas alertou que os "motivos fundamentais" do conflito precisariam ser tratados. O termo é usado sempre que Moscou quer se referir à expansão da Otan e as ameaças ao território russo. Para o Kremlin, qualquer negociação terá de tratar da fronteira entre a aliança militar Ocidental e a Rússia.
Putin ainda convidou Trump para visitar o Kremlin e ambos conversaram ainda sobre Irã e o Oriente Médio.
A conversa entre Trump e Putin coincidiu com a liberação de americanos detidos tanto na Rússia como pelo regime de Minsk, aliado ao Kremlin.
A ligação telefônica ocorre um dia depois de o presidente da Ucrânia afirmar que estaria disposto a "trocar" territórios com os russos e entrar em uma negociação, algo que os russos se negam a aceitar. Pressionado, o governo de Kiev também sinalizou que importantes contratos seriam dados para os EUA na exploração de recursos naturais de seu país. Trump, um dia antes, chegou a alertar que a Ucrânia teria de ceder.
Nesta quarta-feira, o presidente americano deixou explícito que seu diálogo será com Putin, numa mudança profunda de postura dos EUA em relação ao conflito.
O poder do dólar
Em suas redes sociais, Trump sinalizou que um dos temas foi ainda sua recusa em aceitar que países abandonem a moeda americana, como vem propondo o Brics, para o comércio.
"Discutimos sobre a Ucrânia, o Oriente Médio, energia, inteligência artificial, o poder do dólar e vários outros assuntos", disse o americano. "Ambos refletimos sobre a grande história de nossas nações e o fato de termos lutado juntos com tanto sucesso na Segunda Guerra Mundial, lembrando que a Rússia perdeu dezenas de milhões de pessoas, e nós, da mesma forma, perdemos muitas", afirmou Trump.
"Cada um de nós falou sobre os pontos fortes de nossas respectivas nações e o grande benefício que teremos um dia ao trabalharmos juntos. Mas primeiro, como ambos concordamos, queremos acabar com os milhões de mortes que estão ocorrendo na guerra com a Rússia/Ucrânia", disse o americano.
Segundo ele, Putin "até usou meu forte lema de campanha, "SENSO COMUM". Nós dois acreditamos muito nisso".
"Concordamos em trabalhar juntos, muito próximos, inclusive visitando as nações um do outro. Também concordamos em fazer com que nossas respectivas equipes iniciem as negociações imediatamente, e começaremos ligando para o presidente Zelensky, da Ucrânia, para informá-lo sobre a conversa, algo que farei agora mesmo", revelou Trump.
"Pedi ao Secretário de Estado Marco Rubio, ao Diretor da CIA John Ratcliffe, ao Conselheiro de Segurança Nacional Michael Waltz e ao Embaixador e Enviado Especial Steve Witkoff para liderar as negociações que, tenho certeza, serão bem-sucedidas", informou.
"Milhões de pessoas morreram em uma guerra que não teria acontecido se eu fosse presidente, mas aconteceu, portanto, precisa acabar", insistiu. "Não se deve perder mais vidas! Quero agradecer ao presidente Putin por seu tempo e esforço com relação a esse apelo e pela libertação, ontem, de Marc Fogel, um homem maravilhoso que cumprimentei pessoalmente ontem à noite na Casa Branca", disse Trump.
"Acredito que esse esforço levará a uma conclusão bem-sucedida, espero que em breve", completou.
Telefonema com Zelensky e reunião na sexta-feira
Nas redes sociais, Trump também explicou detalhes do que conversou com Zelensky.
"A conversa correu muito bem. Ele, assim como o presidente Putin, quer fazer a PAZ", disse. "Discutimos vários tópicos relacionados à guerra, mas, principalmente, a reunião que está sendo marcada para sexta-feira em Munique, onde o vice-presidente JD Vance e o secretário de Estado Marco Rubio liderarão a delegação", anunciou.
"Tenho esperança de que os resultados dessa reunião sejam positivos. É hora de acabar com essa guerra ridícula, na qual houve MORTE e DESTRUIÇÃO em massa e totalmente desnecessárias. Deus abençoe o povo da Rússia e da Ucrânia", completou.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.