Trump afirma que 'Brics morreu' depois de suas ameaças de colocar tarifas
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O presidente americano Donald Trump criticou, uma vez mais, os planos do Brics de reduzir o papel do dólar no comércio. O bloco é presidido pelo Brasil em 2025 e, em sua agenda, a questão do uso de moedas locais é uma das prioridades.
Ao anunciar planos de adotar novas medidas comerciais, o presidente foi questionado sobre o Brics e se seu objetivo era desmantelar o bloco. "Eu não me importo. Isso foi criado por um objetivo ruim", disse.
Trump voltou a alertar que se o bloco optar por reduzir o papel do dólar no comércio, ele irá impor tarifas de 100% contra os produtos desses países. "Eles vão nos implorar depois", disse, numa referência aos países emergentes.
"Brics morreu no momento que eu mencionei isso", afirmou.
"Se eles brincarem, não terão comércio conosco", insistiu. "O que vocês acham que vai acontecer?", questionou.
No começo do ano, Trump foi às redes sociais para fazer seu alerta. "Vamos exigir um compromisso desses países aparentemente hostis de que eles não criarão uma nova moeda do Brics, nem apoiarão qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar americano, ou enfrentarão 100% de tarifas", disse Trump.
"Não há nenhuma chance de os Brics substituírem o dólar americano no comércio internacional ou em qualquer outro lugar, e qualquer país que tentar deve dizer olá às tarifas e adeus aos EUA", insistiu.
O texto repete a ameaça feita no final de novembro.
Na presidência do Brics em 2025, o governo brasileiro irá agir para evitar que os trabalhos pelo uso de moedas nacionais no comércio entre os países do bloco sejam transformados em um ato político de ataque ao dólar.
O dólar representava 85% das reservas globais em 1970, proporção que caiu para 58% hoje, de acordo com o FMI. O euro representa 20% contra um volume ainda insignificante das demais moedas.
Fontes diplomáticas afirmaram ao UOL que, apesar da postura de Trump, os trabalhos do Brics por avançar no uso de moedas locais para o comércio "vão continuar". "Este não um objetivo que vai acontecer na noite para o dia. Mas isso não vai mais sair da pauta", garantiu um experiente negociador.
Umas das ideias, no médio prazo, é a de criar um mecanismo que permita as trocas comerciais em moedas nacionais, sem passar pelo dólar.
A primeira reunião da presidência brasileira do bloco ocorrerá em fevereiro. A expectativa é de que o encontro seja crítico para definir a agenda de trabalho do ano e as prioridades.
O Brasil, porém, vai insistir que o tema deve ser "técnico" e com o foco na expansão dos negócios. Não num ataque aos EUA.
Para sustentar a tese, o governo brasileiro destaca que, hoje, já exporta mais aos parceiros do Brics que aos EUA e Europa, juntos. Em 2023, o país vendeu US$ 120 bilhões às economias emergentes, contra US$ 83 bilhões aos mercados europeus e americano.
Na diplomacia brasileira, o tom que será usado é de que a ampliação do uso de moedas locais visa ser um instrumento para tornar o comércio entre os países em desenvolvimento "mais eficiente" e "mais seguro".
Outro enfoque do Brasil será o de mostrar que o processo estará sendo conduzido por bancos centrais e pelos ministérios das Finanças, e não a partir de posições ideológicas.
Para Trump, dólar é poder
Já para o governo americano, a redução do papel do dólar não significa apenas uma perda de hegemonia no comércio.
Parte das sanções unilaterais aplicadas pelos EUA é no sistema financeiro, diante da presença dominante do dólar. Um país, portanto, pode ser asfixiado apenas ao ser impedido de usar a moeda americana. Mas, se um sistema financeiro paralelo for criado com moedas alternativas, o poder da Casa Branca de impor sanções é reduzido.
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