Bolsonaro 'preparava comunidade internacional' para golpe, diz PGR
Ler resumo da notícia
O ex-presidente Jair Bolsonaro atuou para tentar convencer a comunidade internacional a adotar uma postura de "tolerância" diante do que seria um golpe de estado no Brasil. A declaração faz parte da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, nesta terça-feira, contra o ex-presidente e outras 33 pessoas.
O argumento da peça de denúncia se refere à reunião de 18 de julho de 2022 de Bolsonaro com embaixadores e representantes diplomáticos acreditados no país.
Ali, segundo a denúncia, o encontro seria "conduzido para verbalizar as conhecidas e desmentidas acusações sobre fraudes, por meio de truques informáticos, em vias de serem cometidas".
"O que parecia, à época, um lance eleitoreiro, em si mesmo ilícito e causador de sanções eleitorais, mostrou-se, a partir da trama desvendada no inquérito policial, um passo a mais de execução do plano de solapar o resultado previsto e temido do sufrágio a acontecer logo adiante", afirmou a procuradoria.
"O descrédito do sistema de eleição e as palavras acrimoniosas de suspeitas sobre Ministros do STF e do TSE, temário do discurso do Presidente da República aos representantes diplomáticos em Brasília, representavam passo a mais na execução do plano de permanência no poder, independentemente do resultado das urnas", constatou.
"Ganham significado contundente estas frases pronunciadas pelo Presidente da República no evento: "estamos tentando antecipar um problema que interessa para todo mundo. O mundo todo quer estabilidade democrática no Brasil".
Na avaliação da procuradoria, "preparava-se a comunidade internacional para o desrespeito à vontade popular apurada nas eleições de outubro".
"O grupo sabia da importância da tolerância dos países para com o golpe. Evidência disso está no documento apreendido em que se recomendava, para a ação de ruptura, "a exploração da base legal nos cenários interno e externo e a exploração global dos indícios de fraude".
"À época, interpretou-se o evento como instrumento indevido de manobra eleitoreira. Apesar do inegável impacto eleitoral do evento, as investigações da Polícia Federal revelaram a faceta de interesse também penal do evento", disse.
Segundo a PGR, o discurso promovido na ocasião, examinado em conjunto com as demais ações narradas na acusação, encaixa-se na estratégia maior de enfraquecimento do Estado Democrático de Direito, "no âmbito nacional e internacional".
Para a PGR, a reunião de Bolsonaro com os embaixadores aconteceu "exclusivamente para que fossem ouvidas palavras de desconfiança e descrédito com relação ao sistema eleitoral eletrônico gerido pelo Tribunal Superior Eleitoral, com sugestões desmerecedoras lançadas a integrantes da Corte".
"O propósito se mostra enfim o de incutir na sociedade o sentimento de insubordinação aos poderes constituídos", diz.
"Objetivava-se que a comunidade internacional, por meio de representantes diplomáticos, e os cidadãos brasileiros, por meio da divulgação por televisão e pela internet do evento, fossem expostos a alegações inverídicas, agrupadas para afetar a confiança no sistema de votação vigente", disse.
"A circunstância de essas palavras haverem sido vertidas com solenidade, pelo Chefe de Estado, perante a comunidade dos representantes diplomáticos estrangeiros, induzia o cidadão a conferir ainda maior verossimilhança às acusações infundadas, em prejuízo da clareza da verdade. O discurso, que reiterava outros tantos, reforçou a estratégia da organização criminosa de perturbar a tranquilidade social que deveria ambientar as eleições no sistema democrático", completou.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.