Arquivo de JFK: CIA usou diplomacia do Brasil contra Fidel Castro em Cuba
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Os serviços de inteligência dos EUA usaram a mala diplomática brasileira para fazer chegar aos agentes que trabalhavam com a dissidência cubana em Havana cartas e informações. Os dados fazem parte dos documentos revelados pelo governo dos EUA nesta terça-feira.
A Casa Branca publicou milhares de documentos relacionados com a morte de John F. Kennedy, uma promessa de campanha de Donald Trump. O presidente chegou a dizer que o fim do sigilo envolveria cerca de 80 mil páginas. Assim que foram publicadas, historiadores e pesquisadores iniciaram uma varredura completa para tentar entender se existia, de fato, algo novo e que revelasse detalhes ainda não conhecidos sobre o assassinato do ex-presidente, ainda nos anos 60.
Parcelas importantes dos arquivos se referem à Guerra Fria e, principalmente, sobre o confronto entre comunistas e o Ocidente. A relação entre os EUA e Cuba também é amplamente examinada.
Um dos documentos aponta como um agente da CIA na região da Flórida abriu um novo canal de comunicação com opositores do regime de Fidel Castro, usando a inviolabilidade das correspondências entre consulados e embaixadas.
Um desses novos canais era por meio do Consulado do Brasil em Miami.
O documento de 9 de janeiro de 1963 faz um apanhado dos trabalhos dos agentes americanos entre novembro e dezembro de 1962.
De acordo com o informe, os esforços dos funcionários americanos eram para "apoiar" operações em Cuba e "desenvolver" novos canais de comunicação para permitir que informação e dinheiro chegasse a um agente infiltrado na ilha.
Um dos agentes, então, relatou sobre um "potencial canal de comunicação" usando um cidadão brasileiro que morava em Miami, descrito como Gonzalo ABELEM Martin. O informe da CIA revela: o responsável por abrir o canal clandestino era "funcionário do Consulado brasileiro".
Seu irmão, Manuel - também brasileiro - seria o receptor e atuava como funcionário na embaixada do Brasil em Cuba.
"Uma vez por mês a mala diplomática passa entre o Consulado do Brasil em Miami e a embaixada em Havana", diz o informe. Segundo o relato, o agente da CIA usou esse caminho para "mandar cartas" para outro agente em Havana.
Os dois brasileiros eram descritos como "amigos pessoais" do operativo da CIA.
O documento indica que a agência pensava em explorar esse canal para enviar outros materiais, inclusive dinheiro. Isso ocorria sob o sigilo da proteção diplomática, o que impedia que tanto o governo americano como o regime de Fidel Castro pudessem ter acesso ao que estava dentro da mala.
Em Cuba, o agente infiltrado estava em contato com diversas fontes e cidadãos cubanos, interessados em colaborar com os EUA e tramando contra os irmãos Castro.
Dentro da ilha, a agência falava sobre vendas de armas "estimadas em alguns milhares de dólares". Fontes cubanas insistiam ainda sobre a necessidade de que "batidas" fossem realizadas sobre depósitos para camuflar dados sobre o fluxo de armas.
Naqueles anos, o Brasil mantinha uma relação de apoio ao governo de Fidel Castro. Em 1961, por exemplo, Jânio Quadros condecorou Ernesto Che Guevara com a medalha da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Com João Goulart na presidência, a relação entre Havana e Brasília também prosperaram.