Jamil Chade

Jamil Chade

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Exclusivo
Reportagem

Lula defende lançar brasileiro em eleição estratégica em comissão na OEA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer um brasileiro na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, num momento chave para o organismo que vem sendo alvo de investidas da extrema direita e sofrendo um processo de chantagem por parte da base mais radical do governo de Donald Trump.

Uma das aposta do Brasil é pelo acadêmico Fabio de Sá e Silva, que já esteve à frente de pesquisas e políticas em temas prisionais, de segurança pública e acesso à justiça. Silva já trabalhou no antigo Ministério da Justiça e foi consultor de vários organismos internacionais com atuação em direitos humanos, incluindo a própria Comissão.

A eleição no organismo da OEA (Organização dos Estados Americanos) é considerada como estratégica, tanto para os governos progressistas como para o movimento ultraconservador. O voto ocorre no meio do ano e vai definir três das sete vagas da Comissão.

Ao longo da história, o órgão foi fundamental para denunciar ditaduras na América Latina e alertar sobre graves violações de direitos humanos.

Mas, recentemente, passou a ser alvo de uma tentativa por parte da extrema direita para tentar influenciar sua agenda. Grupos como a ADF, com um poderoso escritório de lobby em Washington, passaram a prestar consultoria para as alas mais radicais do bolsonarismo, na esperança de convencer a Comissão de que existe uma suposta ditadura no Brasil e a censura de vozes dissidentes.

Em recentes viagens de deputados do PL para Washington, foram essas entidades que serviram como base logística e chegaram a entrar nas reuniões.

Outro caminho usado pela extrema direita tem sido o da chantagem. Com os americanos bancando uma parcela significativa do orçamento do organismo, deputados da base de Donald Trump ameaçaram cortar os recursos da Comissão, caso o órgão não denunciasse as supostas violações cometidas pelo STF no Brasil.

Um relatório que está sendo preparado por Pedro Vaca, o comissário de Direito de Liberdade de Expressão, promete ser um termômetro importante da capacidade de influência do movimento ultraconservador.

O que ainda acendeu o alerta por parte do Brasil foi a decisão do governo Trump de convocar americanos - sempre de sua própria linha ideológica - a se candidatar ao posto.

A sinalização do interesse americano mobilizou vozes progressistas na região. Na semana passada, o brasileiro esteve com Lula. A decisão do Planalto foi por dar um sinal verde para que o Itamaraty inicie uma campanha por votos.

Continua após a publicidade

Cautelosa, a chancelaria estima que, com a corrida já avançada e com outros nomes já em viagem pela região, o Brasil terá de fazer um trabalho intenso por apoio. Um dos cálculos ainda feitos pelo Itamaraty seria a de garantir que nomes progressistas possam avançar, mesmo que não sejam brasileiros.

Para a diplomacia, diluir o voto entre diferentes nomes da ala mais próxima aos direitos humanos poderia acabar abrindo caminho para a vitória da extrema direita.

Oficialmente, a candidatura do acadêmico ainda não foi lançada, enquanto movimentos por outros brasileiros também atuam nos bastidores.

Precedente vitorioso

Apesar da preocupação, membros do governo brasileiro destacam que a região já demonstrou que pode se unir quando se sentir ameaçada. Um exemplo foi a candidatura vitoriosa do chanceler do Suriname para ocupar a secretaria-geral da OEA, há poucas semanas.

Numa costura feita por Brasil, Chile, Uruguai e Colômbia, o grupo conseguiu desbancar um candidato paraguaio e que havia recebido a benção de Trump e do bilionário Elon Musk.

Continua após a publicidade

A esperança é de que uma combinação semelhante ocorra para não permitir que a Comissão seja ocupada pela extrema direita.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.