Base de Trump propõe saída dos EUA da ONU, que só tem dinheiro até outubro

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Era para ser um período de comemorações na ONU, que completa 80 anos em 2025. Mas, nos corredores e encontros fechados, o clima é radicalmente diferente. Com sua reputação deteriorada nos últimos anos, incapaz de agir diante do veto das superpotências e com o desembarque de Donald Trump na Casa Branca, a ONU passou a lutar por sua própria sobrevivência.
Em Washington, o senador republicano e aliado do presidente americano, Mike Lee, de Utah, apresentou um projeto de lei que determina a saída dos EUA da ONU. A proposta submetida no final de fevereiro encerraria a participação dos EUA na ONU e em seus órgãos afiliados, bem como o financiamento a essas instituições.
A legislação também especifica que os EUA não podem participar de operações de paz com a ONU e proíbe o Executivo de firmar qualquer acordo de associação com a ONU ou suas subsidiárias sem a aprovação do Senado, hoje controlado pelos republicanos.
A imunidade diplomática de todos os funcionários da ONU nos EUA seria imediatamente suspensa.
Um dos aspectos ainda do texto prevê a revogação do tratado de 1947 entre o governo dos EUA e a ONU, que estabelece as regras para as Nações Unidas terem sua sede em Nova York. Ou seja, a entidade teria de procurar outro destino.
Musk apoia retirada americana
Ainda que o texto dificilmente teria chance de obter o apoio de democratas e um número suficiente de dois terços para garantir sua aprovação, a proposta foi aplaudida pelo bilionário Elon Musk. Nas redes sociais, ele afirmou que "concorda" com a saída dos EUA da ONU.
Donald Trump tem se mantido mais cauteloso. Mas determinou que sua administração reavalie a participação dos EUA em todos os organismos internacionais. Quando assumiu, em 20 de janeiro, ele deu cem dias para que essa avaliação seja realizada.
Imediatamente, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lançou uma operação para tornar a entidade mais "eficiente", na esperança de convencer Trump a não romper.
Numa reunião no dia 17 de março, a administração da entidade explicou aos governos que o número de funcionários na ONU iria diminuir em cerca de 500 pessoas ao longo de 2025. Não haveria uma operação de demissão, mas a não ampliação de contratos encerrados e a não substituição de funcionários que se aposentem.
Cinco dias antes, o governo da Rússia sugeriu cortar os salários de toda a alta cúpula da ONU em 10% ou 20%, até que a crise de liquidez seja resolvida.
ONU só tem dinheiro até outubro
Ainda em 2024, a ONU teve de pegar dinheiro emprestado para que os tribunais pudessem manter suas atividades até o final do ano. Durante o encontro, a administração informou aos países que tudo indica que a ONU ficará sem dinheiro até outubro.
Hoje, entre fundos voluntários e o orçamento regular, os americanos correspondem a quase um terço do financiamento da instituição.
A senadora Marsha Blackburn, também republicana, é outra que apoia a ideia de uma ruptura. Enquanto isso, o deputado Chip Roy, do Texas, repetiu o mesmo caminho para apresentar um projeto similar na Câmara de Deputados.
"As Nações Unidas se transformaram em uma plataforma para tiranos e um local para atacar os Estados Unidos e seus aliados", disse Lee. "Deveríamos parar de pagar por isso. À medida que o presidente Trump revoluciona nossa política externa, colocando os Estados Unidos em primeiro lugar, devemos nos retirar dessa organização fictícia e priorizar alianças reais que mantenham nosso país seguro e próspero", defendeu.
Desde que assumiu, Trump rompeu com a OMS, saiu do Acordo de Paris, cortou recursos para dezenas de organismos internacionais e se retirou do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
Os deputados republicanos Eli Crane do Arizona, Diana Harshbarger do Tennessee, Anna Paulina Luna da Flórida, Harriet Hageman do Wyoming, Josh Brecheen de Oklahoma, Thomas Massie do Kentucky e Marjorie Taylor Greene da Geórgia também já anunciara que patrocinarão a legislação.
Um dos nomes mais fortes a apoiar o projeto é do presidente do Comitê de Serviços Armados da Câmara, o deputado republicano Mike Rogers, do Alabama.
Os congressistas apontaram para uma resolução que a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou para que Israel devolva todas as terras e bens que estabeleceu nos Territórios Palestinos desde 1967. "Não aceitaremos a hostilidade contínua da ONU contra nosso aliado Israel", escreveram os legisladores.
Essa não é a primeira vez que os americanos ensaiam uma saída ONU. Em 1997, o então senador Ron Paul apresentou um projeto similar. Mas recebeu apoio mínimo.
As pesquisas de opinião também revelam um baixo apoio da população americana às Nações Unidas e uma sociedade dividida. Em 2024, um levantamento mostrou que apenas 52% dos americanos tinham uma opinião positiva sobre a instituição.
Mais de 70% dos democratas e pessoas de tendência liberal relataram que mantêm uma visão favorável da ONU. Entre os republicanos, o apoio é de apenas 34%, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center divulgada em abril de 2024.
A história também revela que o governo americano nem sempre foi um entusiasta de organismos que pudessem representam um freio às suas ambições imperialistas. Em 1920, o Congresso dos EUA bloqueou a ratificação do Tratado de Versalhes, que criava a Liga das Nações.
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