EUA optam, por enquanto, pelo silêncio diante da decisão contra Bolsonaro
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O governo de Donald Trump optou, pelo menos por enquanto, pelo silêncio diante da decisão do STF de julgar o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Em resposta ao UOL, o Departamento de Estado norte-americano instruiu a reportagem a consultar a embaixada dos EUA em Brasília sobre uma eventual posição sobre a decisão desta quarta-feira.
A atitude da diplomacia americana, porém, foi a de não se pronunciar. "Por questão de política interna, não comentamos sobre casos judiciais", afirmou a Assessoria de Imprensa da Embaixada dos Estados Unidos.
A reportagem revelou na terça-feira que o governo americano estava acompanhando "de perto" o julgamento de Bolsonaro.
A pressão sobre o presidente Trump é para que medidas sejam tomadas contra os membros do STF ou qualquer um que possa estar implicado com uma eventual condenação do ex-presidente. Por enquanto, não existe uma definição sobre como a Casa Branca atuará.
Convocação de aliado de Trump
Aliados do bolsonarismo e mesmo o ex-presidente vêm insinuando que contam com Trump para fazer uma pressão de fora.
Nesta quarta-feira, por exemplo, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados aprovou um requerimento para convocar um ex-funcionário da Usaid, Mike Benz, num esforço de Eduardo Bolsonaro para implicar um suposto repasse de recursos da agência para a eleição no Brasil, em 2022.
A meta é a de tentar mostrar que houve uma suposta manobra contra Jair Bolsonaro. Benz tem sido um aliado do governo Trump na divulgação de supostas informações de como o dinheiro da agência foi usado pelo mundo.
Membros próximos ao gabinete de Trump explicaram ao UOL que, de fato, a situação no Brasil é um dos focos do trabalho do atual governo no que se refere à América Latina. Conforme a reportagem revelou no fim de semana, a eleição no Brasil em 2026 é considerada como estratégica não apenas para os interesses de Trump na região, mas também para o movimento ultraconservador mundial.
Um dos caminhos que a Casa Branca avalia adotar é o de insistir na narrativa de que as instituições brasileiras estariam sendo usadas para impedir que o ex-presidente possa manter seu papel político. O foco não é o de salvar Bolsonaro de uma eventual prisão, mas essencialmente de desmoralizar a Justiça brasileira e, com ela, o processo eleitoral de 2026.
Para isso, não se descarta fazer uma comparação à suposta perseguição que Donald Trump enfrentou na Justiça americana e o que ocorre com o brasileiro. O atual presidente dos EUA é o primeiro da história do país a assumir o poder tendo sido condenado criminalmente.
Assim, Washington avalia adotar uma linha de que Bolsonaro estaria também sendo "perseguido", omitindo as provas contra o brasileiro e a existência do Estado de direito no país.
Sanções contra Alexandre de Moraes e outras pessoas envolvidas num eventual processo contra Bolsonaro podem ser consideradas.
Para embasar a ofensiva, um dos elementos que o governo americano avaliará é como Moraes poderá usar a existência das redes sociais como um suposto instrumento por parte dos golpistas. Uma das ideias é a de usar esse elemento como "prova" da "censura" praticada pelo STF contra a liberdade de expressão, numa manipulação do conceito.
No mês passado, o Departamento de Estado emitiu um comunicado contra o Brasil neste sentido, ligando um alerta em Brasília de que uma retaliação poderia estar sendo construída.
Para juristas ouvidos pelo UOL nos EUA, a ofensiva não tem respaldo no direito internacional e representa uma ingerência indevida nos assuntos domésticos de outro país. Mas vem sendo usada com intensidade por parte do novo governo americano, rompendo qualquer lógica de respeito à soberania de um país.
Em apenas dois meses, Trump proliferou medidas unilaterais, sempre que optou por fazer valer o interesse dos EUA, de seu governo ou da extrema direita.
Assim, a Casa Branca adotou no final da semana passada sanções contra a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Justificando que o aliado israelense estaria em apuros, Trump adotou retaliações contra o procurador-geral do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan.
Na África do Sul, o governo Trump adotou medidas contra o presidente Cyril Ramaphosa, por conta de sua política de distribuição de terras. Houve também uma ameaça contra o Panamá, por suas relações com a China.
Todas essas medidas excederam a jurisprudência dos EUA em agir, assim como violam tratados de direito internacional ou a simples prática diplomática. Ainda nesta semana, Trump anunciou que qualquer país que compre petróleo da Venezuela terá de pagar uma tarifa extra de 25% ao governo americano, uma violação explícita de acordos comerciais
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