Trump impõe taxas de 25% sobre carros importados; Brasil pode ser afetado
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O presidente americano, Donald Trump, anunciou tarifas contra carros importados, certas autopeças e caminhões leves nesta quarta-feira, ampliando sua ofensiva contra o comércio internacional e intensificando sua política protecionista. A medida pode acabar afetando as exportações do Brasil, principalmente no setor de autopeças.
Pelas novas regras que entram em vigor no dia 3 de abril, carros importados pagarão uma taxa de 25% para entrar no mercado americano. Hoje, a taxa é de 2,5%.
México é o maior fornecedor de carros aos EUA, seguido pela Coreia do Sul, Japão, Canadá e Alemanha. Por conta dos acordos de livre comércio, muitas montadoras americanas tinham espalhado sua produção pelo território mexicano e canadense nos últimos anos. Não por acaso, as ações da General Motors terminaram o dia em queda de 3%.
A estimativa do governo Trump é de que os EUA vão ter uma receita de US$ 100 bilhões apenas com as taxas coletadas a partir das novas tarifas. Durante a assinatura da ordem executiva que aplica a nova tarifa, Trump interrompeu seu assessor para dizer que a receita das tarifas vai subir de US$ 600 bilhões para US$ 1 trilhão, sem explicar como chegou a essa conclusão.
"Esse é o começo do dia da liberação dos EUA", disse Trump. "Vamos recuperar o dinheiro que os países levaram", afirmou. "Amigos e inimigos levaram muito de nós", afirmou. Segundo ele, as fábricas voltarão aos estados americanos. "A produção de carro vai voltar. Isso vai levar um tempo. Mas logo teremos uma ampla produção de veículos no país", insistiu.
Um estudo realizado pelo Departamento de Comércio alertou que, de fato, a participação americana na produção global de automóveis diminuiu vertiginosamente, caindo de 26% em 1985 para apenas 12% em 2017. Hoje, a Casa Branca descreve a situação como um risco para a segurança nacional.
Em 2023, a China se transformou ainda no maior exportador de carros do mundo e, em 2024, seu mercado movimentou 22 milhões de unidades, contra 15 milhões de veículos comprados pelos americanos.
Trump ainda indicou que empresas receberão incentivos fiscais para instalar fábricas nos EUA. Durante o anúncio, o presidente voltou a criticar os europeus pela forma que tratam os produtos americanos. "Enquanto isso, eles nos venderam milhões e milhões de carros", acusou.
Europa critica Trump
Instantes depois do anúncio, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lançou críticas contra Trump. "Lamento profundamente a decisão dos EUA de impor tarifas sobre as exportações automotivas da UE", disse a europeia. "Tarifas são impostos - ruins para as empresas, piores para os consumidores, nos EUA e na UE", afirmou.
"A UE continuará a buscar soluções negociadas, salvaguardando seus interesses econômicos", prometeu.
Brasil pode ser afetado: mercado americano é 2º maior destino de peças
Já os exportadores brasileiros podem ser afetados também, mesmo que tenham em parte respirado aliviados com o fato de que nem todas as autopeças tenham sido taxadas. Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,3 bilhão em autopeças aos EUA, 17% de toda a venda ao exterior feira pelo país.
O mercado americano é o segundo maior destino de autopeças nacionais.
Na ordem executiva, o governo dos EUA anunciou que ainda vai rever a lista de peças que poderão ser atingidas e incluídas na lista dos bens sobretaxados.
No caso de veículos, o Brasil exportou cerca de US$ 242 milhões aos EUA no ano passado. Mas quase a integralidade das vendas era composta por caminhões. Carros leves se limitam a US$ 6 milhões por ano.
A Casa Branca esperou as bolsas fecharem para fazer o anúncio. Durante o dia, diante da possibilidade de a adoção das taxas, o mercado financeiro registrou uma queda, inclusive para as ações da Ford.
Trump minimizou a queda, insistindo que as empresas trarão de volta aos EUA a produção completa de seus veículos.
A ofensiva faz parte de uma operação de Washington por adotar uma nova política comercial, exigindo reciprocidade de outras economias e privilegiando as empresas nacionais. Críticos, porém, alertam que as medidas protecionistas ameaçam elevar o preço de automóveis nos EUA, com um impacto para a taxa de inflação.
Trump já aplicou tarifas contra alumínio e aço, além de adotar medidas contra o Canadá, China e México.
No próximo dia 2 de abril, ele ainda promete revelar um pacote de barreiras que podem afetar também o Brasil. A ideia da Casa Branca é de que tarifas de um país contra bens americanos serão respondidas com barreiras contra produtos estrangeiros.
Trump prometeu que será "justo" com os outros países. "Seremos gentis com os governos. Mas vamos ganhar muito dinheiro", garantiu.
O governo Lula tenta negociar uma saída para evitar que bens brasileiros sejam prejudicados. Mas, por enquanto, são os americanos que insistem em abrir o mercado nacional para produtos como etanol.
Madeira e remédios
Trump também alertou que vai adotar novas tarifas sobre madeira. Os anúncios ocorrerão a partir da próxima semana, incluindo ainda taxas sobre medicamentos importados.
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