Trump suspende tarifas recíprocas por 90 dias para 'quem não retaliou'
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O presidente dos EUA, Donald Trump, escala a guerra comercial com a China e anuncia um aumento ainda mais intenso de tarifas. Enquanto ampliou o ataque contra Pequim, o republicano admitiu que sentiu um "pouco de medo" por parte das pessoas diante de suas decisões e também anunciou a pausa de 90 dias nas cobranças elevadas de tarifas e unificou todas as taxas em 10%. Anúncio foi feito em publicação na Truth Social, rede social dele.
O governo brasileiro confirmou que a medida não muda a barreira cobrada sobre o Brasil, de 10%, enquanto a OMC (Organização Mundial do Comércio) soou o alerta de que o novo gesto de Trump e de Xi Jinping ameaçam gerar um colapso da economia mundial e uma retração do comércio em 80% entre os dois gigantes.
Com base na falta de respeito que a China demonstrou em relação aos mercados mundiais, estou aumentando a tarifa cobrada dos Estados Unidos da América sobre a China para 125%, com vigência imediata
Donald Trump, em publicação nas redes sociais
"Em algum momento, espero que em um futuro próximo, a China perceberá que os dias de roubo dos EUA e de outros países não são mais sustentáveis ou aceitáveis", escreveu.
Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, disse que o nível da tarifa seria reduzido para 10% ao resto do mundo - o que, para alguns, significaria uma redução importante.
"Por outro lado, e com base no fato de que mais de 75 países ligaram para representantes dos Estados Unidos, incluindo os Departamentos de Comércio, Tesouro e o USTR, para negociar uma solução para os assuntos que estão sendo discutidos em relação a comércio, barreiras comerciais, tarifas, manipulação de moedas e tarifas não monetárias, e que esses países não tenham, por minha forte sugestão, retaliado de qualquer maneira, forma ou jeito contra os Estados Unidos, autorizei uma PAUSA de 90 dias e uma Tarifa Recíproca substancialmente reduzida durante esse período, de 10%, também com vigência imediata", completou.
A tática foi considerada uma manobra para tentar dividir os governos pelo mundo, impedindo a criação de uma ampla coalizão contra os Estados Unidos. Trump, porém, não citou os nomes dos países que entraram em contato. A pausa se refere apenas às tarifas recíprocas e não às taxas contra aço ou contra carros.
A medida foi interpretada por observadores do mercado financeiro como um gesto de recuo de Trump diante do desabamento das bolsas e da pressão de grandes empresários americanos. Horas antes, ele havia comemorado a entrada em vigor das tarifas e convocado o setor privado a investidor nos EUA.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, negou que a reviravolta tenha relação com a pressão dos mercados. Já o secretário de Comércio, Howard Lutnick, indicou que "o mundo está pronto para trabalhar com o presidente Trump para arrumar o comércio global, e a China optou pela direção contrária".
Trump admite "medo" e fala em 'flexibilidade' diante dos mercados
Mas, questionado qual era sua lógica, Trump admitiu instantes depois a jornalistas na Casa Branca que "as pessoas estavam com um pouco de medo" e, por isso, tomou a medida de suspender as tarifas por 90 dias. "Elas estavam ficando nervosas, com um pouco de medo", disse.
"Eu estava acompanhando o mercado. Eu vi na noite de ontem, quando estavam nervosos. Mas agora (a bolsa) está linda", afirmou.
Trump também acredita que um acordo com Pequim será possível. "A China é o maior abusador da história. Alguém tinha de fazer isso", afirmou, lembrando que Pequim somou um superávit de US$ 1 trilhão. "Agora reverti", disse.
Numa conversa com jornalistas na Casa Branca, ele mudou seu discurso e reconheceu que acompanhou o que estava ocorrendo nos mercados. Na segunda-feira. Ele insistiu que não haveria risco de uma pausa nas tarifas. "Temos de ser flexíveis. A palavra é flexível", disse.
"Nada está terminado. A China quer fazer acordo, mas não sabe como fazer. São orgulhosos, Xi (Jinping) é orgulhoso", disse. "Acordos podem ser feitos com todos. Será feito com China. Só quero acordos justos. Mas eles não estavam sendo justos", afirmou.
Trump tentou acalmar os mercados e os americanos. "Vai funcionar, fiquem tranquilos", disse. Para ele, a turbulência
Ele ainda não descarta dar isenções de tarifas para empresas que necessitem de uma redução de taxas para importação. "Algumas empresas foram mais afetadas. Vamos olhar para isso", disse.
Medida não muda taxa para o Brasil
Assim que o anúncio foi feito, o Itamaraty e outros ministérios passaram a buscar informações sobre o impacto sobre o Brasil. O governo indicou que falou com a Casa Branca no dia da imposição de tarifas e que manteria "canais abertos" para continuar negociando com os EUA nesta semana.
Mas, horas depois, fontes do governo confirmaram que o anúncio significa que o Brasil continuará a ser taxado em 10%, já que a declaração do americano indica que a pausa seria válida para as taxas mais elevadas. O setor privado também estima que o país continuará com a taxa anunciada.
Ao colocar todos os países no mesmo nível, porém, os cálculos de que o Brasil poderia ocupar espaço de outros países com mais taxas foram desfeitas. A pausa de 90 dias ainda cria uma pressão para que o governo chegue a um entendimento com os americanos.
OMC alerta para queda de comércio de 80% e impacto global
Num comunicado emitido horas depois da escala da guerra comercial, a OMC alertou que as tarifas mútuas entre os EUA e a China poderiam reduzir o fluxo de bens entre as duas economias em 80%, derrubando o restante da economia mundial.
"A escalada das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China representa um risco significativo de uma forte contração no comércio bilateral. Nossas projeções preliminares sugerem que o comércio de mercadorias entre essas duas economias poderia diminuir em até 80%", disse Okonjo-Iweala, diretora da OMC.
Para ela, a guerra poderia "prejudicar gravemente as perspectivas econômicas globais". Sua avaliação é ainda de que o mundo corre o risco de ser dividido em dois blocos. "É particularmente preocupante a possível fragmentação do comércio global ao longo de linhas geopolíticas. Uma divisão da economia global em dois blocos poderia levar a uma redução de longo prazo do PIB real global em quase 7%", disse.
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