Contra Trump, Brasil cria missão para acordo comercial com UE ainda em 2025

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Diante da incerteza provocada pelas tarifas impostas por Donald Trump, o governo brasileiro vai enviar uma missão, a partir da próxima semana, para conseguir a adoção do acordo de livre comércio entre Mercosul e a União Europeia ainda em 2025.
O acordo foi anunciado em dezembro de 2024, depois de cerca de 25 anos de negociação, mas ainda precisa ser aprovado pelo parlamento de cada um dos 27 membros da UE. A nova missão tem como objetivo acelerar o processo, reforçando o compromisso do Brasil com a abertura comercial, a sustentabilidade e o fortalecimento de laços estratégicos.
Na semana passada, o Itamaraty tentou entender, em reunião virtual de negociadores brasileiros e americanos, se existiria espaço para rever a taxa de 10% que os EUA impuseram a todos os produtos do Brasil, com tarifas ainda mais elevadas no setor de autopeças e aço. Mas os interlocutores sentiram que a Casa Branca deve priorizar as negociações com Europa e Ásia. Portanto, no governo brasileiro, prevaleceu a posição daqueles que defendem uma diversificação de mercados.
Fontes dizem que Brasília espera que Bruxelas ceda, diante da crise entre Europa e EUA, e que o Brasil possa anunciar a ratificação do acordo Mercosul-UE em cúpula prevista para o final do ano no país.
A avaliação é de que o momento é propício para buscar um avanço definitivo. Chamou a atenção que algumas das economias que resistiam à ideia do acordo já estão dando sinais de que podem rever suas posições.
O governo austríaco continua contrário ao pacto, mas o ministro do Trabalho e da Economia, Wolfgang Hattmannsdorfer, enfatizou em abril que uma estrutura diferente deve ser usada para avaliar o acordo do Mercosul.
O governo francês é um tradicional opositor do acordo, mas a constatação é de que "as circunstâncias mundiais" mudaram.
"Os acordos comerciais existentes e futuros entre a UE e outras economias poderiam amortecer ainda mais os choques tarifários ligados à política comercial dos EUA", disse o governador do Banco da França, François Villeroy de Galhau, em sua carta anual ao presidente francês Emmanuel Macron, em 9 de abril, citando acordos com Japão, Canadá e Mercosul-UE.
Na Alemanha, a posse do novo chanceler Friedrich Merz, em maio, também promete criar pressão pelo pacto, principalmente diante do risco da indústria automobilística perder competitividade no mercado americano.
"O acordo de livre comércio do Mercosul deve entrar em vigor rapidamente", disse Merz ao jornal alemão Handelsblatt, no último fim de semana.
Agenda da missão
De 23 a 30 de abril, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e o Ministério das Relações Exteriores organizam três encontros com os representantes dos Setores de Promoção Comercial e Investimentos (Secoms), dos Setores de Ciência, Tecnologia e Inovação (Sectecs) e Adidos Agrícolas.
A primeira parada ocorre nos dias 23 e 24 em Lisboa, um tradicional entusiasta do acordo entre Mercosul e UE.
Entre os dias 25 e 26, a delegação estará em Varsóvia, Polônia, na esperança de focar o trabalho nos países do leste europeu. Para essas economias, as exportações sul-americanas podem representam uma concorrência para suas vendas agrícolas.
O ciclo termina nos dias 28 e 29 em Bruxelas, sede da Comissão Europeia.
A missão terá ainda empresários de diversos setores como proteína animal, café, frutas e agricultura familiar. Ao UOL, a Apex disse que os avanços para o acordo estarão no centro das discussões. "Se os EUA de fato implementarem essas medidas, pode ter como consequência, por exemplo, acelerar o processo do acordo", confirmou Viana.
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