China convoca Conselho de Segurança da ONU contra Trump: 'Intimidação'
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Num raro gesto entre potências, a China convocou uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para acusar formalmente o governo de Donald Trump de intimidação por meio do comércio internacional e de "lançar uma sombra sobre os esforços globais para a paz e o desenvolvimento" ao usar as tarifas.
Pequim enviou o convite não apenas aos 15 países do órgão da ONU. Todos os 193 governos poderão estar presentes, e a meta da China é de que a reunião escancare a existência de um consenso praticamente internacional contra Trump. Não haverá o voto de uma resolução e, por isso, a reunião é considerada como "informal". Fontes confirmaram ao UOL que o encontro, marcado para o dia 23 de abril, tem como objetivo colocar uma pressão diplomática sobre Trump.
A guerra comercial entre as duas potências ganhou uma dimensão inédita, diante da recusa da China de ceder aos americanos e de responder, em cada gesto de Trump, com uma retaliação do mesmo calibre contra os produtos americanos.
A convocação do Conselho de Segurança ocorre no mesmo dia em que o governo de Donald Trump admite que algumas das tarifas impostas pelos EUA contra a China chegam a 245%. Essa porcentagem, que inclui 125% nas tarifas recíprocas, 20% por conta da crise relacionada com o fentanyl e impostos de 100%, vale para carros elétricos, seringas e agulhas. Depois desses produtos, os mais taxados são as baterias de lítio (173%), a carne de lula (170%) e as blusas de lã (169%).
O Conselho de Segurança raramente é convocado para lidar com temas econômicos ou comerciais. Mas, neste caso, o que Pequim alega é que as medidas da Casa Branca são atos de intimidação contra nações soberanas e com um potencial de desestabilizar a economia global.
"Todos os países, especialmente as nações em desenvolvimento, são vítimas do unilateralismo e das práticas de intimidação", diz um documento circulado pela China. Oficialmente, a reunião terá como tema "o impacto do unilateralismo e das práticas de intimidação nas relações internacionais".
"Ao utilizar as tarifas como uma ferramenta de pressão extrema, os EUA violaram gravemente as regras do comércio internacional e provocaram choques e turbulências graves na economia mundial e no sistema de comércio multilateral, lançando uma sombra sobre os esforços globais para a paz e o desenvolvimento", diz o documento.
Os levantamentos de instituições internacionais revelam que, de fato, a crise entre as duas potências ameaça gerar um colapso na economia global. A Agência de Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas estima que a expansão do PIB do planeta pode desacelerar para 2,3% diante das tensões.
O FMI fala abertamente no risco de uma recessão, enquanto a OMC (Organização Mundial do Comércio) divulgou seu primeiro levantamento global do impacto da guerra comercial iniciada por Trump.
Segundo ela, sob as atuais condições, o fluxo de bens pelo mundo deve registrar uma queda de 0,2% em 2025. Mas, caso não haja um acordo sobre as tarifas recíprocas da Casa Branca que foram suspensas por 90 dias, o tombo no fluxo de bens poderia chegar a 1,5%.
Mas é um impasse entre China e EUA que mais preocupa a OMC. Nas atuais condições de tarifas mútuas de acima de 100% entre as duas economias, a previsão é de que o comércio entre as duas superpotências poderia encolher em 81%. Caso produtos eletrônicos sejam incluídos na conta, como iPhones, a contração seria de 91%.
Na prática, isso significaria uma dissociação entre as duas economias.
Para a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, a magnitude dessa ruptura terá "consequências profundas para a fragmentação e criando uma economia global separada em dois bloco isolados". "Acima de 125% em tarifas, não faz mais diferença. Veremos a criação de dois blocos", alertou. "Temos de evitar uma fragmentação", apelou.
Na prática, isso teria um impacto profundo para a produção global. O PIB do mundo viveria uma contração de 7% ao longo dos anos, enquanto algumas economias teriam uma retração de suas riquezas de mais de 10%. "Isso tudo terá um impacto para os mercados financeiros. Mas acima de tudo para os países mais pobres", alertou.
Na OMC, diante do risco de um colapso, governos iniciaram consultas para eventualmente convocar uma reunião ministerial extraordinária para lidar com a crise e reafirmar a necessidade de que o mundo mantenha regras globais de comércio.
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