Erika cobra atitude do governo brasileiro diante de Trump: 'Abuso de poder'
Ler resumo da notícia
A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) quer que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tome uma posição de princípio diante das políticas de gênero de Donald Trump, depois que seu visto para ir aos EUA foi alterado em sua identidade para "masculino".
Em entrevista ao UOL, ela garantiu que não viajará aos EUA nesta condição. Ela tinha sido convidada para eventos na Universidade de Harvard e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts e, por isso, havia solicitado um visto.
Em nota, a embaixada dos EUA explicou que a modificação ocorreu como parte da instrução adotada em todo o mundo para apenas aceitar em documentos oficiais a existência de dois sexos. "De acordo com a Ordem Executiva 14168, é política dos EUA reconhecer dois sexos, masculino e feminino, considerados imutáveis desde o nascimento", diz a diplomacia americana.
Diante do incidente, a deputada pediu um encontro com o chanceler Mauro Vieira e, nesta quinta-feira, o Itamaraty respondeu que a reunião poderia ser marcada para o começo da próxima semana.
Erika, porém, acredita que o governo poderia já ter reagido. "Ele poderia ter repudiado, indicado que era um incidente diplomático ou abuso de poder", disse.
Sua ideia é a de garantir que o governo adote um tom de que "não irá permitir esse tipo de interferência". "O Brasil precisa demarcar uma posição de estado", afirmou.
A deputada admite que Brasília não deverá comprar um desgaste político neste momento, diante do clima geopolítico internacional. "Mas espero que pelo menos uma nota de repúdio seja feita", afirmou. Ela ainda vai conversar com a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados e com a presidência do Legislativo, deputado Hugo Motta.
Limites da soberania
Quando Trump anunciou sua decisão, o Departamento de Estado rapidamente parou de emitir documentos de viagem com o marcador de gênero "X", usado por pessoas não binárias.
Ficou decidido ainda que o governo impediria que pessoas mudem o gênero listado em seus passaportes ou obtenham novos passaportes que reflitam seu gênero em vez do sexo designado no nascimento.
Além disso, as solicitações que já haviam sido enviadas para alterar o marcador de gênero foram suspensas. O Departamento de Estado também substituiu sua página da Web com informações para viajantes "LGBTQI+" para apenas "LGB", removendo qualquer referência a pessoas transgênero ou intersexo.
Internamento, o governo Trump também decidiu ordenar que os órgãos oficiais acabem com todas as referências e considerações sobre a identidade de gênero de uma pessoa. "Essa redefinição abrangente ameaça os programas federais usados por pessoas transgênero e afeta a documentação federal, como passaportes, que atualmente podem refletir a identidade de gênero de pessoas transgênero e não binárias", alertou a Human Rights Watch.
"A ordem também promete reter o financiamento federal de quaisquer programas que promovam a "ideologia de gênero", ecoando a linguagem usada por movimentos de direita na Europa e na América Latina para se opor não apenas ao reconhecimento de pessoas transgênero, mas também a direitos sexuais e reprodutivos mais amplos", disse.
"De forma preocupante, a ordem instrui as agências a abrigar pessoas transgêneras em detenção de acordo com o sexo que lhes foi atribuído no nascimento, colocando-as em risco extremo de violência física e sexual, e a reter cuidados de afirmação de gênero nas prisões, o que pode equivaler a tratamento ou punição cruel, desumano e degradante de acordo com a legislação internacional", alertou.
Ainda que as medidas representem uma ameaça nos EUA, a surpresa de muitos foi descobrir que isso pode ser aplicado ainda para estrangeiros, como no caso de um visto.
Também foi considerado como "complicado" o ato do governo Trump de exigir que empresas e funcionários de embaixadas americanas pelo mundo devam cumprir a proibição dos programas de diversidade, equidade e inclusão.
Cada um dos fornecedores de serviços para as embaixadas americanas teve de se submeter a um questionário para garantir que, em suas empresas, não havia nenhum tipo de programa de promoção de diversidade.
Uma carta ainda foi enviada a essas empresas alertando que, se tais ações existissem, os pagamentos por seus serviços seriam suspensos.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.