Ao menos mil crianças esperam por registro em consulados brasileiros no EUA
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Brasileiros estão promovendo uma verdadeira corrida aos consulados do país nos EUA para registrar seus filhos, diante de um cerco do governo de Donald Trump contra a imigração irregular. Dados dos primeiros três meses de 2025 coletados pelo Itamaraty revelam que, em alguns dos postos com maior número de imigrantes brasileiros, o salto no registro de crianças foi de mais de 100%.
Bandeira de campanha de Trump, a deportação de imigrantes passou a ser um dos focos de seus três primeiros meses de governo. Num esforço para proteger a comunidade de brasileiros, muitas entidades recomendam que as famílias registram seus filhos nascidos nos EUA nos respectivos consulados. O objetivo é o de garantir que essas crianças tenham documentos e, eventualmente, evitar que famílias sejam separadas.
Em Boston, onde há uma importante comunidade de brasileiros, a fila para o registro de menores é de cerca de 1.300. Antes do governo de Donald Trump, a espera era de cerca de 200 a 300 pedidos de registro.
De acordo com o Itamaraty, o consulado registrou um aumento de 50% na concessão desses registros entre janeiro e março, em comparação ao mesmo período de 2024.
O local tem feito cerca de 150 documentos por semana e, de acordo com famílias brasileiras na região, não existem prazos para a entrega de alguns certificados.
Em outros grandes centros urbanos, a procura também se intensificou de forma importante. No consulado do Brasil em Nova York, o aumento de registros de nascimento de crianças brasileiras foi de 114%.
Um salto ainda maior ocorreu no consulado em Hartford, com alta de 131% entre janeiro e março de 2025. Em Washington DC, o aumento foi de 60%. O Itamaraty, porém, não revelou os números absolutos.
O Itamaraty confirmou ao UOL que, desde o começo do ano e diante do volume de pedidos extras, houve uma determinação da chancelaria para aumentar o número de funcionários nos consulados.
Recentemente, dois casos chamaram a atenção da comunidade brasileira nos EUA. Num deles, um homem foi detido e precisa deixar os EUA até o dia 27 de abril. Mas seus filhos não tinham passaporte ou registro brasileiro, o que ameaça separar a família.
Num outro caso, nas proximidades de Boston, um homem foi detido pelas autoridades ao ir ao trabalho. Mais uma vez, seus filhos não estavam registrados como brasileiros.
Os EUA abrigam a maior comunidade brasileira no exterior, com cerca de 2,8 milhões de pessoas. A maior concentração está em Boston, com cerca de 420 mil brasileiros. A estimativa é de que pelo menos 230 mil brasileiros estejam vivendo de forma irregular no país.
Se o fluxo de brasileiros vivendo no exterior aumentou em 81% entre 2015 e 2023, os números mostram que 42% estavam nos EUA.
De acordo com o Washington Post, documentos do governo Trump apontam que a Casa Branca quer atingir 1 milhão de deportações em um ano. Washington insiste que, até agora, as ações atingiram 117 mil imigrantes. Mas os dados se referem também a todos aqueles que, ainda em território estrangeiro, foram impedidos de entrar nos EUA nos postos de fronteira.
Dados divulgados nesta semana pela NBC News indicam que esse número seria bem menor, excluindo os dados da fronteira. A deportação de cidades americanas teria sido de 12,3 mil pessoas em março, abaixo do que Joe Biden expulsou em março de 2024, com 12,7 mil. Em fevereiro de 2025, o número foi de 11 mil deportações, também abaixo da média de Biden.
Neste caso, o argumento de Trump é de que, como a entrada de imigrantes irregulares caiu de forma importante, os números de deportação seriam menores. O governo aponta que, em março, as autoridades na fronteira se depararam com apenas 11 mil pessoas sem documentos. Sob Biden, esse número seria de 190 mil.
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