Trump e Bukele manipulam narrativa de preso em El Salvador com margaritas

Abrego Garcia, um migrante salvadorenho, entrou ilegalmente nos Estados Unidos em 2011, mas recebeu uma prorrogação indefinida da deportação em 2019. Vivendo em Maryland, ele foi detido pelas autoridades, sob a alegação de que era membro da gangue MS-13, e colocado na lista de criminosos que seriam deportados por Trump para El Salvador.

Uma juíza federal determinou que não existiam provas de que o imigrante fazia parte da gangue e ordenou o governo Trump trouxesse de volta o imigrante, casado com uma americana e com filhos nos EUA.

O governo dos EUA se recusou a cumprir a ordem, ainda que tenha admitido que se tratou de um "erro administrativo" sua deportação. Bukele, que esteve na Casa Branca no começo da semana, alegou que não tinha poderes para enviar Abrego Garcia de volta aos EUA.

Trump pagou à administração de Bukele US$ 15 milhões de dólares para manter os deportados em detenção e o presidente, que jamais revelou os termos do acordo, insiste agora que quer ampliar o número de centros de detenção no país centro-americano para receber os imigrantes.

Nesta semana, o senador democrata Chris Van Hollen decidiu ir até El Salvador para tentar visitar o prisioneiro e denunciar a arbitrariedade do governo Trump. Ao ir de seu hotel para a prisão, seu comboio foi parado por policiais e ele não foi autorizado a continuar viagem. O senador já havia desistido do encontro. Mas, faltando poucas horas para deixar a cidade, recebeu uma ligação de que ele teria acesso a Agrego Garcia.

O que aconteceu nas horas seguintes, porém, mais se parece a uma operação de propaganda.

Segundo ele, quando foi autorizado seu encontro com Kilmar Abrego Garcia, o governo de Bukele sugeriu que isso deveria ocorrer no hotel onde estava o senador, e não na prisão. Ele aceitou.

Mas, quando o preso chegou, a ideia dos organizadores da conversa era de que o encontro ocorresse na beira da piscina do hotel.

O senador rejeitou e o encontro aconteceunuma das salas do hotel. "Eles queriam criar essa aparência de que a vida era simplesmente adorável para Kilmar", disse o americano, já de volta nos EUA.

Van Hollen disse que percebeu que a manipulação não tinha parado quando, enquanto ele falava com o prisioneiro, um garçom trouxe dois copos do que pareciam ser margaritas. "Estávamos rodeados por fotógrafos e assessores do governo de Bukele", disse.

Instantes depois, Bukele postou fotos no X da reunião, afirmando que Abrego Garcia estava "milagrosamente ressuscitado dos 'campos de extermínio' e 'tortura', agora tomando margaritas com o senador Van Hollen no paraíso tropical de El Salvador!" Trump também usou a imagem e chamou Van Hollen de "fake" depois das fotos com as bebidas.

O senador, ao retornar aos EUA, explicou o que havia ocorrido, acusando Bukele e Trump de querer dar a impressão de que Abrego Garcia vivia uma situação confortável.

"Ninguém bebeu margaritas, água com açúcar ou o que quer que seja. Mas isso é uma lição sobre até onde o presidente Bukele vai para enganar as pessoas sobre o que está acontecendo", disse Van Hollen. "E também mostra até que ponto o governo Trump e o presidente vão", alertou.

Para provar que não houve consumo, o senador destaca que o sal colocado na borda do copo estava intacto.

Van Hollen destaca ainda que os dois copos servidos estavam com níveis diferentes de líquido, dando a entender que o prisioneiro tinha dado um gole.