Ministro afirma que Brasil irá priorizar negociação de tarifas com Trump

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O governo brasileiro dará prioridade a um processo negociador com os EUA, evitando pelo menos por enquanto qualquer retaliação ou mesmo um recurso na OMC (Organização Mundial do Comércio) por conta das tarifas anunciadas por Donald Trump. A declaração foi dada ao UOL pelo ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira.
"O Brasil tem vários instrumentos, tanto internacionais, como a OMC, como a legislação brasileira, que permitem uma série de medidas. Mas nós estamos, antes de tudo, conversando e levando adiante a negociação e o espírito da negociação que caracteriza o Brasil", afirmou o chanceler.
Para ele, de fato existem várias formas pelas quais o Brasil pode recorrer à OMC. "Vamos examinar", disse. Mas insistiu: "Nós estamos continuando a conversar, antes de tomar qualquer medida".
Enquanto isso, Trump sinaliza que está disposto a buscar entendimentos com governos, num gesto interpretado por analistas e diplomatas estrangeiros como um abandono de suas tarifas, depois que um caos no mercado financeiro ameaçou colocar os EUA numa crise.
O UOL apurou que, na Casa Branca, a esperança é de que seja obtido um entendimento com o Brasil. Mas, segundo Washington, isso vai exigir garantias por parte do país de que produtos americanos possam ter maior acesso ao mercado nacional, inclusive com a redução de barreiras não tarifárias.
Um dos elementos do processo negociador é a abertura do mercado nacional para o etanol de milho dos EUA. Hoje, as tarifas nesse caso são de 18%. O Brasil argumenta que, para abrir seu mercado, precisa de uma reciprocidade por parte dos americanos no setor do açúcar.
No dia 2 de abril, Trump anunciou tarifas a mais de 180 países pelo mundo. No caso do Brasil, a taxa imposta foi de 10%, a mais baixa. Mas, dias depois e diante de uma turbulência nos mercados, os EUA anunciaram que todos os países passariam a ter taxas de 10%, com exceção da China. Um período de 90 dias foi estabelecido para negociar.
"Existem muitas conversas, assim como existiram antes [do dia 2 de abril]", explicou Vieira. "Logo que foi anunciado que tarifas seriam impostas, nós começamos a conversas. Eu mesmo falei com o USTR (Escritório de Comércio dos EUA) no dia seguinte ao anúncio. Depois, estabelecemos um grupo de trabalho de funcionários do Brasil e do USTR. Várias reuniões por videoconferência foram realizadas", disse.
O chanceler destacou ainda como o embaixador Maurício Lyrio foi aos EUA e dedicou um dia inteiro de contatos com a Casa Branca, USTR, Departamento de Comércio e Departamento de Estado.
Vieira apontou como, um dia antes do anúncio das tarifas de 10%, ele voltou a falar com altas autoridades americanas. Para ele, isso encerrou o "primeiro ciclo de conversas" com a Casa Branca.
"Após o anúncio, já voltamos a conversar e estamos conversando", disse. "Em diplomacia, você primeiro negocia e depois anuncia os resultados, que podem surgir ou não surgir."
"Mas, evidentemente, a tradição brasileira é de diálogo, de negociação e de entendimento. É isso que estamos fazendo", afirmou.
Temor de perder espaço para outros concorrentes
No setor privado, porém, há um temor de que o Brasil esteja sendo deixado para o fim no processo negociador. Nos últimos dias, Trump tem anunciado conversas com europeus e asiáticos.
Uma das preocupações é de que, se concorrentes brasileiros fecharem acordos mais vantajosos e com tarifas abaixo de 10%, será o acesso dos produtos nacionais no mercado dos EUA que pode ficar ameaçado.
Isso, portanto, colocaria uma pressão extra para que o Brasil ceda e acabe aceitando um acordo, ainda que sem contrapartidas mais substanciais.
Neste domingo de Páscoa, Trump confirmou que sua ambição é a de fechar acordos.
"Desde que anunciamos o Dia da Libertação, muitos líderes mundiais e executivos de negócios me procuraram pedindo alívio das tarifas", escreveu. "É bom ver que o mundo sabe que estamos falando sério, porque nós estamos! Eles precisam corrigir os erros de décadas de abuso, mas isso não será fácil para eles", afirmou.
"Precisamos reconstruir a riqueza de nosso grande país e criar a verdadeira reciprocidade. Mas para aqueles que querem o caminho mais fácil: Venham para os Estados Unidos e construam nos Estados Unidos!", disse.
Instantes depois, Trump listou os critérios que considera que, além de tarifas, dificultam a entrada de produtos americanos em outros mercados. Elas são:
Manipulação da moeda;
Impostos que atuam como tarifas e subsídios à exportação;
Dumping abaixo do custo;
Subsídios à exportação e outros subsídios do governo;
Padrões agrícolas de proteção (por exemplo, nenhum milho geneticamente modificado na UE);
Padrões técnicos de proteção (teste da bola de boliche do Japão);
Falsificação, pirataria e roubo de propriedade intelectual (mais de US$ 1 trilhão por ano);
Transbordo para evitar tarifas.
No caso do Brasil, algumas dessas barreiras são citadas em informes da Casa Branca para destacar as dificuldades que os produtos americanos enfrentam no país.
O argumento brasileiro, porém, é que os americanos contam com um superávit comercial com o Brasil e que, portanto, as barreiras não são justificáveis.
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