'Rei' e '3º Mundo': ao prender juíza, Trump é acusado de abalar democracia

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"Caos", "Rei", "Terceiro Mundo" e "colapso da democracia". Foi assim que juristas, democratas e grupos de direitos humanos reagiram diante da decisão do governo de Donald Trump de escalar de forma dramática os ataques contra o Judiciário.
Nesta sexta-feira, o FBI anunciou a prisão de Hannah Dogan, juíza de Milwaukee (Wisconsin). Ela teria dificultado uma ação da polícia para a prisão de um mexicano, na semana passada.
Kash Patel, diretor do FBI, chegou a ir às redes sociais para denunciar a juíza por "intencionalmente desviando agentes federais para que não pudessem prender a pessoa que estavam procurando no tribunal". "Felizmente, nossos agentes perseguiram o infrator a pé e ele foi levado sob custódia, mas a obstrução da juíza aumentou o perigo para o público", acrescentou Patel em sua mensagem. Instantes depois, ele apagou a mensagem, sem dar explicações.
Dugan é acusada de escoltar o imigrante mexicano, Eduardo Flores-Ruiz, e seu advogado para fora do tribunal pela porta do júri em 18 de abril, como forma de ajudar a evitar sua prisão, de acordo com um depoimento do FBI apresentado no tribunal.
A juíza rejeita a acusação. Nos documentos do processo, fica evidenciado que ela perguntou a um dos policiais se eles tinham um mandado judicial para prender o mexicano. O mandado, porém, era apenas administrativo. Depois de um bate-boca sobre o mandado, diz a declaração juramentada, ela exigiu que a equipe de prisão falasse com o juiz principal e os levou para fora da sala do tribunal.
A prisão da magistrada, para muitos em Washington, é o sinal mais preocupante desde o início do governo Trump de sua ambição de desmontar qualquer controle sob o qual o Executivo possa ser submetido.
Nos últimos meses, o Judiciário passou a ser a principal trincheira contra o desmonte do estado de direito nos EUA e a adoção de decretos por parte de Trump que violam a Constituição americana.
Como resposta, Trump defendeu o impeachment de juízes, os acusou de serem "ativistas" e seu governo passou a alertar que não toleraria que o Judiciário impedisse que a Casa Branca adotasse sua política.
"É notável que o governo se atreva a começar a prender juízes de tribunais estaduais", disse o deputado democrata Jamie Raskin, membro do Comitê Judiciário da Câmara. "É uma nova descida ao caos governamental", disse.
"O governo Trump está novamente quebrando as normas na forma como está lidando com a imigração, o sistema jurídico e a normalidade. Isso é coisa que eu espero de países do Terceiro Mundo", disse o deputado Mark Pocan, também democrata.
Para o deputado Greg Landsman, os republicanos, depois da prisão, "não podem mais alegar que são um partido da lei e da ordem". "Isso terá de ser uma linha vermelha para os republicanos do Congresso. Inacreditável", completou.
A senadora Tammy Baldwin, democrata que representa Wisconsin, classificou a prisão da juíza de uma "medida gravemente séria e drástica" que "ameaça violar" a separação de poderes entre os poderes executivo e judiciário.
"Não se engane, não temos reis neste país e somos uma democracia governada por leis que todos devem cumprir", disse Baldwin. "Ao atacar implacavelmente o sistema judiciário, desrespeitando ordens judiciais e prendendo um juiz em exercício, este presidente está colocando em risco os valores democráticos básicos que os moradores de Wisconsin tanto prezam", completou.
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