Confiança na economia tem maior queda desde covid e abala 100 dias de Trump

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Abalados pelas incertezas do governo de Donald Trump, os americanos admitem que vivem um momento de profundas dúvidas em relação à condução do país e da economia, sinalizando um risco real de recessão.
Dados publicados nesta terça-feira pelo Conference Board indicam que a confiança dos norte-americanos na economia caiu pelo quinto mês consecutivo. O índice atingiu seu nível mais baixo desde o início da pandemia de covid-19, em 2020, e abala as festas e anúncios marcados para os cem dias de Donald Trump no governo.
Durante todo o dia, a Casa Branca tem divulgado os principais feitos do governo em seus cem primeiros dias, numa operação para tentar recuperar a popularidade do presidente, em franca queda.
Mas o Índice de Expectativas - baseado nas perspectivas de curto prazo dos consumidores em relação à renda, negócios e condições do mercado de trabalho - caiu 12,5 pontos, chegando a 54,4, o nível mais baixo desde outubro de 2011 e bem abaixo do limite de 80, que geralmente sinaliza uma recessão à frente.
"A confiança do consumidor diminuiu pelo quinto mês consecutivo em abril, caindo para níveis não vistos desde o início da pandemia", disse Stephanie Guichard, economista do Conference Board, entidade que mede o índice nos EUA.
"O declínio foi em grande parte impulsionado pelas expectativas dos consumidores. Os três componentes das expectativas - condições de negócios, perspectivas de emprego e renda futura - deterioraram-se acentuadamente, refletindo um pessimismo generalizado em relação ao futuro", alertou.
A parcela de consumidores que espera menos empregos nos próximos seis meses (32,1%) foi quase tão alta quanto em abril de 2009, no meio da recessão causada pela quebra dos bancos.
"Além disso, as expectativas sobre as perspectivas de renda futura tornaram-se claramente negativas pela primeira vez em cinco anos, sugerindo que as preocupações com a economia agora se espalharam para os consumidores que se preocupam com suas próprias situações pessoais", afirmou.
O declínio foi mais acentuado entre os consumidores entre 35 e 55 anos de idade e entre os consumidores de famílias com renda superior a US$ 125.000 por ano.
Mas a entidade destaca que o declínio na confiança "foi compartilhado por todas as afiliações políticas".
O principal motivo para a queda é a ansiedade em relação ao impacto das tarifas, afetando as expectativas dos consumidores em relação ao crescimento do PIB. O índice de confiança do consumidor, portanto, caiu 7,9 pontos em abril, chegando a 86, sua leitura mais baixa desde maio de 2020.
Desde março, instituições como o FMI, OMC, Banco Mundial e o próprio Federal Reserve Bank têm alertado para o risco de que Trump jogue a economia americana e mundial em uma recessão. A pressão por parte dos empresários levou o presidente dos EUA a rever suas políticas comerciais, que davam sinais de que poderiam abrir uma crise nos mercados financeiros.
O que os números agora revelam, porém, é que o clima de incertezas deixou de ser apenas uma questão para grandes investidores e multinacionais. O que o índice mede, no fundo, é o humor do consumidor e sua propensão a gastar.
Neste caso, o que ele revela é uma deterioração desse sentimento, principalmente diante do risco de que os preços sofram altas importantes nos próximos meses.
Um teste fundamental, porém, será a divulgação dos resultados do crescimento do PIB americano nos primeiros três meses do ano. Os dados são aguardados para esta quarta-feira.
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