Oposição diz que Maduro foi 'surpreendido' por resgate dos EUA em embaixada
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A oposição venezuelana afirmou que o governo de Nicolás Maduro foi "surpreendido" pelo resgate de cinco pessoas da embaixada em Caracas protegida pelo Brasil. Já o governo brasileiro se limitou a dizer que "tomou conhecimento" do evento.
Nem o governo da Venezuela e nem os americanos, que anunciaram o resgate, explicam se a ação foi resultado de uma negociação ou se houve uma operação sigilosa no prédio.
Já o governo brasileiro garante que não participou da ação. Numa nota à imprensa, o Itamaraty não esclareceu se a operação foi resultado de uma negociação e apenas indicou que, nos últimos meses, tentou fechar um acordo com Maduro para permitir a saída dos opositores, sem sucesso.
Embaixadores ouvidos pelo UOL apontam que, se houve de fato uma operação estrangeira, ela pode ter violado tanto os protocolos de imunidade diplomática como a soberania da Venezuela.
Numa comunicação oficial, o Itamaraty se limitou a dizer que "governo brasileiro tomou conhecimento, na noite de ontem, da saída dos venezuelanos que se encontravam asilados na residência da embaixada da Argentina em Caracas, desde março do ano passado".
"O Brasil vinha respondendo, desde agosto passado, pela representação de interesses da Argentina na Venezuela e pela proteção da integridade física dos asilados. Realizou também gestões cotidianas junto ao governo venezuelano para que as necessidades básicas dos asilados fossem atendidas. Com base em considerações humanitárias, e em acordos internacionais na matéria, como a Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954, o Brasil trabalhou pelos canais diplomáticos no sentido de solucionar a situação na residência", disse o Itamaraty.
Segundo a chancelaria, desde abril do ano passado, ainda antes da assunção das responsabilidades de representação dos interesses da Argentina, "o Brasil gestionou inúmeras vezes, no mais alto nível, para que fossem concedidos os salvo-condutos necessários e ofereceu transportar os asilados por via aérea, de modo a solucionar diplomaticamente a crise".
"As reiteradas gestões não foram atendidas, o que prolongou a difícil situação humanitária na residência da embaixada argentina em Caracas, que se encontrava cercada por forças de segurança. O anúncio da saída põe fim a esse episódio e ao drama vivido pelos asilados durante mais de 400 dias", afirmou.
Na noite de terça-feira, o governo dos EUA anunciou que os opositores venezuelanos que estavam sendo mantidos na embaixada da Argentina em Caracas, e protegida pelo Brasil, foram "resgatados" e estão em território americano.
O presidente venezuelano está na Rússia para as comemorações dos 80 anos da vitória sobre o nazismo, na Segunda Guerra Mundial —Lula também estará no evento.
Num comunicado nas redes sociais, o chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, confirmou a saída dos opositores depois de 13 meses dentro do prédio, a partir de uma "operação" realizada pelo governo de Donald Trump. "Após uma operação precisa, todos os reféns estão agora em segurança em solo americano. O regime ilegítimo de Maduro minou as instituições da Venezuela, violou os direitos humanos e colocou em risco nossa segurança regional", afirmou.
Os opositores se refugiaram na embaixada da Argentina em Caracas temendo ser presos pelo governo de Nicolás Maduro. Mas, com a ruptura das relações entre o governo da Venezuela e Javier Milei, eles ficaram vulneráveis.
O Brasil, então, decidiu assumir a responsabilidade pela embaixada, mantendo o status diplomático do local e garantindo que os opositores não seriam presos pelo regime bolivariano.
Por meses, o Itamaraty tentou convencer o governo de Maduro a permitir a saída dos opositores, sem sucesso.
Um dia depois, num comunicado oficial, a oposição deu mais detalhes.
"Com a certeza de que a Venezuela logo estará livre e após horas de incansáveis esforços, anunciamos que, no âmbito de uma operação internacional de resgate, coordenada com o governo dos Estados Unidos e outros aliados democráticos, nossos companheiros asilados na embaixada argentina em Caracas chegaram sãos e salvos em solo americano", disse o Comando pela Venezuela, que reúne alguns dos principais movimentos de oposição.
"Esse marco marca um novo capítulo em sua luta e na luta de todos os venezuelanos que anseiam por liberdade", disse.
A entidade chama a operação para a saída de Omar Gonzalez Moreno, Magallí Meda, Pedro Urruchurtu, Claudia Macero e Humberto Villalobos de uma "ação histórica".
"Após mais de um ano de confinamento injusto no complexo diplomático, essa operação é um testemunho do compromisso de muitos atores que, para surpresa do regime de Nicolás Maduro, conseguiram romper as correntes da opressão", disse.
A versão da oposição é de que, por dias, Maduro rejeitou um salvo-conduto, que já havia sido solicitado pelo Brasil.
"O regime, fiel à sua natureza, recusou-se até o último momento a conceder os salvo-condutos solicitados desde março de 2024, mas não conseguiu deter a força da solidariedade global", afirmou.
A nota não explica se houve, finalmente, uma negociação e nem como essas pessoas deixaram a embaixada que estava sob monitoramento.
A oposição agradeceu os governos de Donald Trump e Javier Milei. "Sua liderança tem sido um farol de esperança para esses líderes e para toda a nação venezuelana, que clama por justiça e dignidade", disse.
Oposição cita funcionários brasileiros, mas não Lula
Na nota, a oposição ainda agradece aos funcionários diplomáticos do Brasil, mas não faz referência ao governo Lula.
"Não podemos deixar de agradecer àqueles que, apesar das restrições impostas por um regime que transformou uma embaixada em uma prisão, deram apoio essencial para garantir a sobrevivência de nossos companheiros durante esse longo e doloroso ano. Também, e muito especialmente, aos funcionários dos governos da Argentina e do Brasil, bem como aos seus diplomatas destacados em Caracas que, apesar das restrições impostas pelo regime, deram apoio e proteção aos solicitantes de asilo durante seus meses de sobrevivência", afirmou.
A nota ainda promete que a oposição continuará a agir "até que os mais de 900 prisioneiros políticos que ainda estão nas mãos do conglomerado criminoso chavista recuperem sua liberdade e até que consigamos um fim definitivo para essa tragédia que aflige milhões de pessoas dentro e fora de nossas fronteiras".
Milei disse que ação é 'passo importante'
Em nota, Milei expressou sua "gratidão pela operação bem-sucedida que permitiu que os cinco refugiados venezuelanos da Embaixada da Argentina na Venezuela fossem retirados com sucesso de Caracas e transferidos para solo americano".
"O Presidente Javier Milei estende seus agradecimentos a todos os envolvidos e, especialmente, ao Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, por seu compromisso pessoal com essa operação, que possibilitou que esses verdadeiros heróis finalmente recuperassem sua liberdade", disse a nota do governo da Argentina.
"Além disso, o Governo Nacional aprecia profundamente os esforços feitos para garantir a segurança e o bem-estar daqueles que, por muito tempo, estiveram sob proteção argentina contra a perseguição do regime de Nicolás Maduro", disse. Segundo Milei, essa ação representa "um passo importante na defesa da liberdade na região".
Edmundo Gonzalez, que se candidatou na eleição presidencial e afirma ter sido vitorioso, chamou a operação de "impecável".
O senador republicano da Flórida, Rick Scott, destacou o papel do governo de Donald Trump na liberação dos opositores. "Os dias de Maduro no poder estão acabando", escreveu.
Por sua vez, a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, descreveu a ação liderada pelos EUA como "épica".
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