Dia das Mães vira ato em defesa de brasileira presa pelo governo Trump
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A separação de uma família de brasileiras nos EUA gera a indignação de uma comunidade e, neste domingo, o Dia das Mães será marcado por um protesto contra a ação da polícia de Donald Trump.
Já o governo defendeu a ação de seus policiais na prisão de a brasileira Rosana Ferreira de Olivera, que está em condição irregular na comunidade de Worcester, perto de Boston.
O caso gerou indignação na pequena cidade que irá, agora, para denunciar o "sequestro" da brasileira e a ação do governo em separar famílias.
O que aconteceu
Na quinta-feira, a prisão da brasileira e a separação de uma família por parte das autoridades migratórias geram tensão e violência em Worcester.
Segundo relatos de vizinhos, a violência ocorreu depois que a brasileira foi retirada de seu veículo e foi presa pelo ICE - as autoridades migratórias dos EUA. No carro estavam duas filhas suas: uma adolescente e um bebê de dois meses num berço no banco de trás.
Pelos vídeos enviados pela comunidade ao UOL, a brasileira tentou sair do carro e foi agarrada pelos policiais. Instantes depois, cerca de 25 pessoas que estavam na rua cercaram os agentes federais em protesto.
A filha da mulher brasileira tentou impedir que sua mãe fosse levada. Com o bebê no colo, tentou impedir que o carro dos agentes levasse sua mãe.
Ele aceitou entregar o bebê a uma pessoa da comunidade. Mas, ao correr uma vez mais para tentar impedir que a mãe fosse levada, ela foi jogada ao chão e seu rosto foi pressionado ao asfalto pela polícia. Ela foi presa e liberada, horas depois.
Os vizinhos também tentaram evitar que a família fosse separada.
A reação da comunidade revelou a tensão que a ofensiva contra a imigração tem gerado.
Em relatos na imprensa local, os vizinhos explicaram que a indignação ocorreu por conta da recusa por parte da polícia em mostrar uma ordem judicial para a prisão da brasileira.
A filha da brasileira presa acabou sendo presa, sob a acusação de colocar uma criança em perigo, perturbar a paz, conduta desordeira e resistência à prisão.
Etel Haxhiaj, vereadora da cidade, se mostrou indignada. Num vídeo no qual ela critica um policial, a representante insiste que "nada daquilo era necessário". "Vocês não precisavam ter colocado seu rosto no chão", disse. "Estou aqui para proteger minha comunidade", insistiu.
A polícia também prendeu Ashley Spring, de 38 anos, uma ativista local do setor da educação. Ela foi acusada de empurrar policiais quando tentavam prender a jovem e de jogar uma substância líquida desconhecida sobre eles.
Uma declaração do administrador da localidade, Eric D. Batista, confirmou a tensão. "A série de eventos foi sem dúvida perturbadora e a filmagem de uma família sendo separada é angustiante", disse.
O que diz o governo Trump
O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos divulgou uma declaração na qual acusa a mulher de "agressão e agressão com arma perigosa e agressão e agressão a uma vítima grávida". Não há qualquer explicação sobre quando esse caso teria ocorrido e nem se era relacionado ao momento da operação.
O governo indicou que Ferreira de Oliveira havia entrado ilegalmente no país em agosto de 2022 e usou seu caso para denunciar "as políticas de fronteira aberta do governo anterior".
Na declaração, o governo também acusou a vereadora Etel Haxhiaj, que protestou diante da violência do ato. Segundo as autoridades federais, ela teria "usado" o caso para fazer "uma manobra política" e disse que ela havia "incitado o caos ao tentar obstruir a aplicação da lei".
"Os agentes do ICE e a polícia local recuperaram o controle da situação e o ICE prendeu Ferreira de Oliveira", insistiu.
O governo Trump ainda usou a crise para alertar aos pais que estão vivendo de forma irregular nos EUA que optem pela deportação voluntária, antes que casos como a da separação da família da brasileira se repitam.
Eis a declaração completa do governo americano:
"O alvo dessa operação do ICE era uma estrangeira ilegal criminosa e violenta, Ferreira de Oliveira. Ela foi presa pela polícia local por agressão e agressão com uma arma perigosa, e agressão e agressão a uma vítima grávida. A conselheira distrital da cidade de Worcester, Haxhiaj, fez uma manobra política e incitou o caos ao tentar obstruir a aplicação da lei. Os agentes do ICE e a polícia local recuperaram o controle da situação e o ICE prendeu Ferreira de Oliveira. As políticas de fronteira aberta do governo anterior permitiram que esse criminoso entrasse ilegalmente em nosso país em agosto de 2022. Graças ao Presidente Trump e à Secretária Noem, esse criminoso está fora de nossas ruas.
"Os pais que estão aqui ilegalmente podem assumir o controle de sua saída. Por meio do CBP Home App, o governo Trump está dando aos pais que estão ilegalmente no país a chance de assumir o controle total de sua saída e se auto-deportar, com a capacidade potencial de retornar da maneira legal e correta e voltar a viver o sonho americano."
Protesto no Dia das Mães
O prefeito de Worcester, Joseph Petty, criticou a operação e lamentou que esse pode não ser o último caso. "Estou perturbado ao ouvir sobre os eventos de hoje envolvendo o ICE. Como alguém que se orgulha de liderar uma cidade acolhedora, estou arrasado ao ouvir sobre a separação de uma família, especialmente com o Dia das Mães se aproximando", disse ele. "O medo de que o ICE separe uma família é o pior pesadelo de muitas pessoas em nossa cidade", completou.
Em Worcester, a situação com a brasileira foi considerada como um ponto de inflexão. Na sexta-feira, um protesto foi realizado, com apelos para que o gerente da cidade, Eric Batista, o prefeito Joseph Petty e o conselho municipal investigassem a invasão.
A vereadora ainda alertou que a mobilização da comunidade era uma mensagem para que "o ICE saia da nossa cidade".
Mais de 100 pessoas se manifestaram em Worcester na noite de 9 de maio, entoando "ICE fora de Worcester agora".
"Nossa polícia e nossa cidade prometeram especificamente que não fariam isso", disse a organizadora Shannen Curtin. "Eles não estão cumprindo a lei e não podemos continuar nos escondendo e deixando que façam isso. Eles não se importam conosco."
Um dos palestrantes, um estudante judeu-americano, disse que as ações do ICE e o sentimento anti-imigrante trouxeram à mente histórias de sua família que fugiu da Alemanha nazista.
"Meu bisavô e minha bisavó fugiram para a Polônia e para a Rússia. Dias antes da Kristallnacht, todos os judeus na Alemanha tinham o direito de deixar suas casas, de fazer compras e de votar. Então, eles foram arrancados de suas casas. Foram mortos", disse. "Adivinhe o que a Alemanha fez primeiro com os judeus? Eles os deportaram."
A comunidade ainda está organizando uma segunda manifestação neste domingo, para coincidir com o Dia das Mães nos EUA.
Rebecca Winter, uma das organizadoras, defendeu a realização do ato de protesto. A manifestação ganhou o nome de "Hands Off Worcester Mothers" (Mãos fora das mães de Worcester), como resposta ao "sequestro de uma mãe de Worcester pelo ICE".
Após a publicação das imagens pelo UOL, a deputada federal Duda Salabert anunciou em suas redes sociais que acionou o Itamaraty para garantir que os brasileiros tenham um acompanhamento por parte do governo.
"As imagens são revoltantes. Uma MAE, brasileira, foi arrancada do carro e presa com brutalidade para ser deportada em Massachusetts, sob ordens da política migratória de Trump", disse.
"Sua filha, de 16 anos, foi ao chão com um bebê no colo. Famílias estão sendo separadas. Já são mais de 50 prisões desde domingo e centenas de relatos de perseguição a imigrantes, segundo uma organização de apoio local", afirmou.
"Acionei o Itamaraty para que o caso seja acompanhado de perto. O Brasil precisa proteger seus cidadãos. Não podemos normalizar a violência e o racismo contra imigrantes", completou.
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