Enviado de Trump ataca Brasil por 'crime, corrupção e câmbio'; país reage

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O representante do governo de Donald Trump para a América Latina, Mauricio Claver-Carone, afirmou que os três problemas do Brasil são "crime, corrupção e câmbio". Para ele, se esses elementos forem resolvidos, os investimentos aumentarão ao país. Seu discurso criou um mal-estar entre representantes do governo e empresários que estavam no evento.
Num jantar organizado pela entidade Esfera em Nova York, Carone afirmou que os investidores estrangeiros sequer sabem que o Brasil é a segundo maior economia do hemisfério ocidental. "Menos de 1% dos investidores sabem disso", afirmou.
Carone, que durante o encontro estava sentando ao lado de Joesley Batista, pediu demissão nesta segunda-feira do governo Trump. Mas mantém seu cargo por mais 20 dias. Em um discurso, ele alertou que o Brasil pode ser um "país de primeiro mundo". Mas, para isso, precisa resolver três "problemas", chamados por ele como os três "Cs".
Câmbio
O primeiro deles seria a moeda, ou câmbio. "Gostamos de países dolarizados", disse o americano.
"Um importante CEO acabou de me dizer: 'Acabamos de vender nosso último ativo no Brasil'. Por quê? Risco cambial", contou. "Não podemos correr o risco cambial e temos de continuar fazendo hedge. É caro. Não vale a pena. E vocês precisam descobrir como lidar com isso. Estou sendo sincero com você. O maior desafio que os investidores, e eu sou um deles, têm com o Brasil é o risco cambial", disse. "Gostamos de negócios em dólar", afirmou. "Não estou pedindo que você dolarize. Só estou dizendo que isso é um problema."
Crime
O segundo obstáculo é o crime. "Estamos trabalhando de forma muito próxima sobre temas de crime organizado", disse, fazendo referência ao PCC.
Corrupção
O terceiro ponto é o que Carone chama de "mito e realidade": a corrupção.
"Estamos trabalhando em estreita colaboração com o atual governo para garantir que isso seja resolvido", disse. "E o terceiro, você sabe, é como o mito geral e tentamos derrubar esse mito, não o mito, mas a realidade que se torna um grande mito da corrupção", afirmou. "Portanto, moeda, crime, corrupção", resumiu.
"O fato de que vocês são uma das 10 maiores economias. Vocês são a segunda maior economia do Hemisfério Ocidental. Se você perguntar à maioria das pessoas, se perguntar a qualquer pessoa aqui em Nova York, qual é a segunda maior economia das Américas depois dos Estados Unidos? Aposto que 99% das pessoas dirão Canadá. E a segunda opção depois disso é provavelmente o México. Aposto que 1% dos investidores daqui, pessoas sofisticadas, lhe dirão que a segunda maior economia das Américas é o Brasil. Isso é um problema", disse.
"O Brasil deveria ser um país de primeiro mundo. Será se conseguir lidar com essas questões. O Brasil tem um problema cambial, tem um problema de criminalidade. E estou muito otimista. Quero dizer, o país percorreu um longo caminho no que diz respeito à corrupção", afirmou.
Americano critica aproximação entre Brasil e China
Em seu discurso, o represente de Trump também fez alertas sobre a China e disse que o local para estar era Nova York, numa insinuação sobre a ida de Luiz Inácio Lula da Silva para Pequim.
"A China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil, mas os Estados Unidos ainda são, de longe, a primeira e mais importante fonte de investimento estrangeiro direto no Brasil", afirmou o americano.
"Agora, o retorno desse investimento tem sido ruim. O nível de endividamento tem sido alto e, portanto, por que todos os problemas que a China está tendo hoje não são sustentáveis a longo prazo", alertou.
"Eu digo que respeito o fato de o presidente do Brasil. Eu respeito isso. Tenho certeza de que ele pode fazer o que quiser. Mas, no final das contas, vocês estão aqui em Nova York hoje", disse aos investidores.
"E por quê? Porque Nova York é o maior mercado de capitais do mundo. E o mercado de capitais mais importante do mundo, porque todos vocês estão aqui como investidores e, francamente, eu gostaria que o Presidente Lula estivesse aqui", disse.
Segundo ele, parte da estagnação se deve ao fato de o Brasil estar focado no superávit comercial. Para ele, a formula mágica é atrair investimentos dos EUA.
Para ele, as duas economias não são complementares e, portanto, não haverá chance de um acordo de livre comércio.
"Por isso, a diversificação é tão importante. É por isso que queremos apoiá-lo nessa diversificação. E isso não tem a ver com política. Não se trata de ideologia. Trata-se de como podemos crescer juntos, pois somos as duas maiores economias das Américas", disse.
Eduardo Bolsonaro chancela crítica do governo Trump
Nas redes sociais, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro chancelou as críticas feitas por um enviado do governo de Donald Trump. "Sem Lula, todos os três indicadores melhoram ABSURDAMENTE!", disse.
Brasil responde: 'besteira'
Dario Durigan, secretário-executivo do Ministério da Fazenda, também participou do evento e rebateu a ideia de que existiria uma aliança automática entre Brasil e China. "Isso é besteira", disse.
Não houve como disfarçar o mal-estar. "Fazemos as coisas da nossa forma, defendendo o nosso interesse", disse o brasileiro.
Estavam no evento Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, Vital do Rêgo, presidente do Tribunal de Contas da União, Paulo Gonet, procurador-geral da República, Renan Filho, ministro dos Transportes, além dos senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Irajá Abreu (PSD-TO) e dos deputados federais Inaldo Bulhões (MDB- AL), Pedro Lupion (PP-PR) e Dr. Luizinho (PP-RJ).
O evento ainda contou com os governadores de estado Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO), Raquel Lyra (PSD-PE), Ibaneis Rocha (MDB-DF), Eduardo Leite (PSD-RS) e Cláudio Castro (PL-RJ).
Hugo Motta diz que não vai "bater boca" com funcionário do governo Trump
Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, evitou abrir uma crise pública com o enviado de Trump. "O governo americano se inicia com muita incerteza, e tem deixado a discussão da economia muito preocupada, disse.
"Não vai ser batendo boca com funcionário do governo americano que vamos resolver. Tempo pede serenidade, sabedoria e equilíbrio", disse Motta.
"Temos de ter serenidade", disse. "Não vai ser uma declaração hoje que vai gerar ainda mais instabilidade", alegou. Ele, porém, Brasil tem dever de casa a fazer, que é ser mais eficiente, segurança jurídica.
Representante foi demitido do BID por envolvimento com subordinada
Mauricio Claver-Carone é conhecido por sua linha dura contra Venezuela e Cuba. Em 2022, depois de ter sido apoiado por Trump e pelo então presidente Jair Bolsonaro, o americano foi demitido do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) por manter uma relação com uma subordinada.
Filho de cubanos exilados na Flórida, o novo escolhido foi um dos arquitetos da política de Trump contra o governo de Nicolas Maduro, a partir de 2017. A orientação era "pressão total" contra Caracas.
Ele deixou o primeiro governo do republicano para liderar o BID, num esforço para tentar frear a influência da China na região. Sua candidatura teve o apoio de Bolsonaro, a partir de 2019.
Para mostrar seu compromisso com o então chefe da Casa Branca, o ex-presidente descartou a candidatura de Rodrigo Xavier, um brasileiro indicado por Paulo Guedes.
Mas após uma investigação concluir que ele manteve uma relação íntima com uma funcionária, desrespeitando as normas da instituição, o americano foi demitido. Ele já havia negado as alegações, criticando a investigação por não "atender aos padrões internacionais de integridade".
Ao ser afastado, ele acusou o governo de Joe Biden de orquestrar sua queda.
Claver-Carone já tinha, segundo a investigação, um relacionamento com a mulher anteriormente e que ele teria violado as políticas do banco ao tomar ações para beneficiá-la na organização.
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