Jamil Chade

Jamil Chade

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Exclusivo
Reportagem

Temer diz que 2026 precisa ser 'disputa de projetos, não de nomes'

O ex-presidente Michel Temer defendeu que a eleição de 2026 no Brasil seja pautada por uma disputa por projetos, e não nomes. Numa entrevista exclusiva ao UOL, em Nova York, Temer insistiu que "o que falta no país hoje é a construção de projetos".

Questionado se vê uma direita brasileira na eleição de 2026 sem Jair Bolsonaro, ele respondeu: "Não é improvável". "Mas é difícil dizer agora", apontou.

Temer contou que se reuniu com cinco governadores, que pediram conselhos ao ex-presidente sobre 2026. Temer então contou o que sugeriu:

O que eu proponho é que vocês apresentem um programa para o país. E, lá na frente, verificam quem vai ser o candidato. Sei que todos vocês são ligados ao presidente Bolsonaro. Se ele for um candidato, vocês apresentam o programa a ele.Michel Temer, ex-presidente

Para ele, isso "daria um exemplo". "Isso faz uma coisa que o Brasil não está mais acostumado: forçar os outros candidatos e partidos a apresentarem um programa para o país", disse.

"E aí fica um debate de programa contra programa. E não de nome contra nome, como tem ocorrido", alertou.

"Não fui eu quem foi atrás. Foram eles que me procuraram. E eu aproveitei para pregar algo que o Brasil precisa: um projeto", disse o ex-presidente. "Se eles definirem que Bolsonaro será o candidato, ofereça isso a ele."

Temer admite que, ao assumir a presidência depois do impeachment de Dilma Rousseff, "não tinha nenhuma popularidade". A diferença, segundo ele, foi ter um programa. "O país carece de projeto", insistiu.

Envolvimento de Trump em 2026: 'difícil'

Temer ainda avaliou a relação entre Brasil e EUA, justamente numa semana de eventos em Nova York envolvendo empresários e políticos de ambos os países.

Continua após a publicidade

Para ele, é "difícil" que Donald Trump se envolva na eleição no Brasil em 2026. Mas alertou:

O Brasil não deve se envolver em nenhuma eleição. Às vezes vejo presidentes, com simpatias pessoais, optando por um ou outra candidatura em outro país. Não vale a pena. Relações institucionais precisam ser preservadas e se um presidente opta por um candidato de outro país, ele cria um certo trauma nessa relação.

Temer participa, nesta semana em Nova York, de diversos eventos organizados por empresários brasileiros para ampliar a relação com investidores e parceiros americanos. "O Brasil praticamente veio para cá (EUA)", disse. "É importante esse relacionamento muito próximo", defendeu.

"A relação, não só política, mas institucional e até comercial com os EUA é antiga", disse. "Trata-se do segundo maior parceiro comercial do Brasil."

"Muitas das nossas instituições, desde a primeira República, são inspiradas na Constituição americana e em seus preceitos", comentou.

Lula x Trump

O ex-presidente ainda comentou a situação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. "Dizem que eles não se dão bem. Penso que as relações entre os países são relações institucionais. A relação não é de Luiz Inácio com Donald. A relação é do presidente do Brasil com o presidente dos EUA", defendeu.

Continua após a publicidade

"São relações absolutamente impessoais e, portanto, institucionais", afirmou.

Temer, porém, admite que as tarifas impostas por Trump podem criar "um relativo mal-estar". "Mas tudo isso depende de conversas diplomáticas. Os países se entendem pelo diálogo. Precisamos dialogar e mostrar eventuais prejuízos que isso causa na relação comercial entre os dois países. O diálogo acaba resolvendo", defendeu.

O ex-presidente acredita que o Brasil pode acabar evitando um prejuízo se diversificar o destino de suas exportações.

Para ele, porém, Brasil não deve escolher entre ficar ao lado de China ou EUA numa disputa. "Somos multilateralistas e o Brasil precisa manter essa ideia", disse. "Tem de saber entrar em contato com todos os países e fazer boas negociações não apenas comerciais, mas também institucionais."

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.