Jamil Chade

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Opinião

Para torturar Mujica, militares impediram seu acesso a livros por 7 anos

Nos anos em que José Mujica esteve preso, no Uruguai, um dos instrumentos de tortura que os militares descobriram para tentar desestabilizá-lo foi impedir que ele tivesse acesso a livros. Durante sete anos, Pepe não pôde ler um só livro, independente do tema.

Mujica esteve preso durante mais de 14 anos por sua militância nos movimentos que lutaram contra a ditadura uruguaia. O período mais extenso ocorreu entre 1972 e 1985.

"Por sete anos fiquei sem poder abrir um livro", contou o uruguaio em 2014, quando morreu Gabriel García Márquez. "Eu sonhava com as borboletas de Gabo", disse. "Quando eu estava muito sozinho, minha imaginação buscava suas borboletas", contou, numa referência aos livros do colombiano.

"Quando eu estava muito sozinho e tentava conversar com o homem que levava dentro, uma das coisas eram as imagens de Garcia Márquez", disse.

O historiador Gerardo Caetano destacou que os carcereiros, ao entenderem que se tratava de um homem extremamente culto, optaram por cortar o acesso aos livros. "Isso quase levou Mujica à beira da loucura", disse.

Por longos períodos, ele ainda foi completamente isolado, impedido de ter contato com pessoas. Em certos momentos, ele relatou que chegou a conversar com os animais para não enlouquecer.

As condições impostas na prisão moldaram sua vida e sua forma de ver o mundo. Mas não foi a vingança que marcou seu sentimento ao deixar a detenção prolongada. Sua resposta foi um compromisso com a democracia.

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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