Jamil Chade

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Enviado de Trump critica aposta de Lula na China: 'Não caiam nesse golpe'

Enviado do governo de Donald Trump para a América Latina, Maurício Claver-Carone questionou sobre a aposta do presidente Lula na China e alertou que o acordo entre Pequim e Washington pode prejudicar as exportações brasileiras.

Questionado pelo UOL, ele garantiu que existe espaço para a Casa Branca negociar com o Brasil no aspecto tarifário. "Claro", disse. Mas não garantiu que a Casa Branca reduzirá as taxas para abaixo de 10%, o patamar que hoje existe para grande parte dos produtos. "Isso eu não sei. Veremos", disse.

Em um evento organizado hoje pelo jornal Valor, em Nova York, ele insistiu sobre os riscos de fazer negócios com Pequim - enquanto o governo brasileiro assina contratos com a China. "Vi em Nova York os maiores empresários e investidores brasileiros", disse.

Segundo Claver-Carone, "infelizmente", Lula não está "no maior mercado de capitais do mundo", e está na China em busca de "objetos brilhantes". "Vocês estão aqui em Nova York. Ele [Lula] não está. Isso não faz sentido. Isso é um contraste. Mas vamos continuar trabalhando com o setor privado", afirmou.

"Esses objetos brilhantes não compensam amanhã", alertou o americano, chamando a China de "armadilha".

O enviado de Trump ressaltou que as tarifas contra o Brasil não são ideológicas, e indicou que esteve com membros do governo Lula nesta semana para "encontrar uma forma" de chegar a um acordo. "Não falamos: trata-se de um governo esquerdista e vamos colocar tarifas. Não é assim que funciona. Foi uma decisão matemática", disse.

Ele questionou ainda a natureza dos acordos assinados pelo Brasil na China nesta semana, incluindo etanol. "É com aqueles bolos que são mais caros e te fazem ficar mais gordos", brincou.

Carone ainda criticou as linhas de crédito da China. "O Brasil é país sofisticado. Não caiam no jogo da China para desenvolvimento. Não caiam nesse golpe", afirmou. "O que é desenvolvimento?", questionou.

Segundo ele, ainda que a China tenha o maior banco de desenvolvimento do mundo, ela pega créditos nos EUA. "Isso é um golpe. Não caiam nesse golpe", insistiu.

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O representante da Casa Branca insiste que é o investimento, e não comércio, que irá gerar o crescimento do Brasil. "Somos de longe o maior investidor no Brasil, com US$ 150 bilhões em estoques. A China não é nem a segunda e tem US$ 5 bilhões", afirmou.

Para o enviado de Trump, apostar apenas no comércio é perigoso e recomendou ao governo brasileiro: "não fiquem tão confortáveis", alertando para os desafios fiscais do país.

Carone também alertou que os americanos estão negociando um acordo com a China e sugeriu que o Brasil pode ser perdedor. Segundo ele, as conversas tratam de produtos que brasileiros e americanos concorrem entre si no mercado chinês. "A China é um jogo de soma zero", alertou, apontando para soja e carnes. "Portanto, não fiquem tão confiantes", alertou.

O enviado de Trump destacou ainda que o governo americano quer ver uma redução das tarifas de importação no Brasil. "As taxas ainda são elevadas. Queremos reciprocidade", insistiu.

"PCC é ameaça regional"

Carone ainda repetiu sua avaliação sobre os riscos no Brasil e os obstáculos para investir no país, algo que ele já havia alertado no começo da semana: risco cambial, crime e corrupção. Mas, diante da reação negativa de suas falas anteriores, ele alertou que ainda incluiria outro aspecto: uma ação construtiva.

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O americano insistiu que quer trabalhar com o governo Lula sobre o crime organizado e em outras áreas. "O PCC é uma ameaça regional", insistiu. "Podemos cooperar. Vejam o que estamos fazendo com o México", insistiu, numa referência aos acordos de combate ao crime organizado.

"Vocês combaterão o PCC, mas podemos ajudá-los", disse. "Queremos ajuda-los. O PCC é um problema para nós também e uma ameaça para a região", repetiu.

No caso da corrupção, ele moderou seu tom em comparação às declarações do início da semana e destacou como haveria um avanço do país neste aspecto.

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