Jamil Chade

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Reportagem

Cúpula do G7 colocará Lula e Trump ao redor da mesma mesa

O governo do Canadá convidou oficialmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a cúpula do G7, que ocorre em meados de junho em Kananaskis, na região de Alberta. O brasileiro está inclinado a aceitar a viagem e, caso ela ocorrá, ele se sentará pela primeira vez ao redor da mesma mesa onde estará o presidente dos EUA Donald Trump.

Membros do governo brasileiros confirmaram que autoridades canadenses enviaram nesta sexta-feira o convite.

O encontro promete ser o primeiro no qual os presidentes do Brasil e dos EUA estarão juntos num grupo restrito de líderes. O UOL apurou, porém, que não há por enquanto qualquer movimentação nem de Brasília e nem de Washington para que uma reunião bilateral entre Trump e Lula ocorra.

A cúpula será realizada num momento em que a Casa Branca começa a adotar medidas que podem ir no sentido contrário aos interesses do governo Lula. Nesta semana, Washington anunciou a restrição de vistos para autoridades estrangeiras que promovam ações contra redes digitais. A medida pode afetar ministros do STF e outras autoridades nacionais.

Além disso, o governo Trump vem criando laços com aliados bolsonaristas para pressionar o poder público a declarar o PCC e o Comando Vermelho como entidades terroristas. O governo federal, temendo sanções, rejeita a ideia.

Trump nunca nomeou um embaixador para o Brasil e os dois líderes tampouco se falaram por telefone. No final do mês passado, no enterro do papa Francisco, ambos estiveram no Vaticano. Mas não houve qualquer contato entre os líderes.

"Não, não cumprimentei [o Trump] porque eu estava conversando com o meu pessoal sobre a segurança na saída, porque estava uma confusão muito grande. Eu não cumprimentei, não vi, não olhei nem para o lado. Não vi o Trump, na verdade", disse Lula.

O círculo mais próximo do presidente estima, porém, que a criação de canais de diálogo permitiu que potenciais crises fossem evitadas. No setor de imigração, dez voos já foram realizados entre os EUA e o Brasil com deportados. Na questão comercial, as negociações também estão sendo mantidas.

O Canadá convidou também o México, Coreia do Sul e África do Sul para o evento, além dos membros do grupo dos países desenvolvidos.

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A eventual viagem de Lula ocorreria semanas depois de o presidente ter sido criticado por se sentar ao lado de regimes autoritários para os festejos promovidos em maio por Vladimir Putin para marcar os 80 anos da derrota do nazismo, em Moscou.

Uma das preocupações do Brasil, porém, é de não fazer parte de um evento que tenha como objetivo criar uma espécie de aliança contra a China.

Reunião repleta de tensão

A reunião, porém, ocorre num momento de tensão internacional, protecionismo por parte de Trump e uma tentativa de construção de uma nova ordem mundial. De acordo com diplomatas, não se descarta um impasse na negociação da declaração final dos líderes.

Um dos focos de tensão é a própria presença de Trump, que provocou a sociedade canadense ao sugerir que o país deveria ser incorporado pelos EUA. As provocações foram traduzidas em tarifas contra produtos canadenses, um boicote contra bens americanos no Canadá e um abalo num comércio de quase US$ 1 trilhão.

Outra potencial crise é a do comércio com a Europa, com Reino Unido, Alemanha, França e Itália na mesma mesa de negociação com Trump.

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Antes da cúpula dos líderes de junho, os principais ministros das finanças do G7, incluindo o Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, reuniram-se no Canadá esta semana, confrontando as preocupações com a desaceleração do crescimento e o aumento da inflação decorrentes da guerra comercial, e procurando encontrar um terreno comum.

O destino da Ucrânia também promete ser polêmico. A Europa esperava que Trump ampliasse a pressão sobre Vladimir Putin. Mas a Casa Branca vem dando sinais de hesitação.

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